Lido com um pequeno grupo de amantes de livros, esta obra requer uma leitura mais atenta porque se trata de uma narrativa lenta. Sabia, porque li na sinopse, que na pequena ilha de 5 km de Alicudi, na Itália, nos anos de 1903 a 1905, o centeio estava contaminado por fungos o que fazia com que os habitantes fossem involuntariamente submetidos a visões alucinogénias. Tal facto foi comprovado por vários estudos dado o universo colectivo a que se referia. Com uma população maioritariamente muito pobre, de trabalhadores rurais, o pão de centeio era a base da alimentação. Sabendo disso (ora aqui está uma sinopse que faz todo o sentido existir!), a minha leitura teve outro significado porque quando, por exemplo, a personagem principal, Caterina, se referia a curandeiras que voavam, o meu olhar para esses relatos foi totalmente diferente do que seria se não tivesse conhecimento deles.
Gostei bastante desta obra e, mesmo sentindo que a narrativa decorria lentamente, fiquei presa à pequena Caterina, sua irmã falecida recentemente e seus outros dois irmãos. Com referência a muitos nomes de outros personagens, o princípio pode ser desafiador mas nada que uma papel e caneta não resolvam… No decorrer da leitura, selecionei naturalmente os nomes que fazem mais sentido fixar.
Gente de uma pobreza extrema, sem literacia, cujo futuro pouco auspicioso fazia prever uma vida de sacrifícios e fome, este livro fala-nos do quão difícil a vida pode ser para quem depende da terra dos outros para sobreviver. E quão importante é sonhar, mesmo quando o sonho advém de propriedades alucinogénias de um alimento contaminado.
A Caterina resta o sonho de, tal como as curandeiras, poder voar para longe dali!
Terminado em 19 Fevereiro de 1925
Estrelas: 4*
Sinopse
ALICUDI, UMA ILHA REMOTA E SELVAGEM, HABITADA POR AGRICULTORES E PESCADORES, GUARDA SEGREDOS QUE REMONTAM A TEMPOS ANCESTRAIS.
Entre 1903 e 1905, o centeio da ilha de Alicudi foi contaminado por fungos e adquiriu propriedades alucinogénias.
Esse centeio foi abundantemente utilizado para fazer pão, a base da alimentação na época.
Por causa disso, os habitantes da ilha acabaram por ser
involuntariamente submetidos a uma experiência psicadélica coletiva,
comprovada por vários estudos.
Ainda hoje se contam histórias lendárias em torno da Ilha onde as Mulheres Voam.
«Uma história mágica e delicada, que aborda temas diversos como a
pobreza, a ignorância, a fome e a luta de classes, mas sobretudo a
descoberta do corpo feminino, o papel da mulher e os seus limites numa
sociedade fortemente patriarcal.» - Goodreads
Caterina olha para o corpo inerte e duro de Maria, a sua irmã gémea, e sabe que a sua vida vai mudar para sempre.
Embora tenha ficado com mais espaço no quarto, a mãe dá-lhe agora mais
trabalho nos campos, a entregar anchovas e nas tarefas domésticas,
enquanto espera pelo seu dia preferido: quando todos se reúnem para
amassar o pão.
Aquele pão, agora negro e amargo, é tudo o que lhes resta.
Nesses
pedaços de alimento está a chave para Caterina escapar a um presente
cada vez mais solitário e penoso, vislumbrando mulheres mágicas que
pairam no céu soturno da ilha e logo se desvanecem na bruma.
O que ela não sabe é que os cenários dessas visões extraordinárias são comuns a todos os outros habitantes.
E que, para ela, e para todos, chegará o momento de escolher entre a realidade e o sonho.
COM UMA NARRATIVA NO LIMIAR DO ETÉREO, MARTA LAMALFA TRAZ À LUZ FACTOS
ESQUECIDOS E TRANSPORTA-NOS POR UMA ESCRITA RADIANTE E ONÍRICA, ENTRE A
REALIDADE E O SONHO.
«Neste romance, as relações de poder entre mulheres são muito importantes, mas também o são as relações entre homens e mulheres. Espero — e é uma esperança para a literatura escrita por mulheres em
geral — que consiga ser apreciado por todos, transpondo distinções que
deveriam estar ultrapassadas num mundo onde a fluidez começa finalmente a
ser aceite.» - Marta Lamalfa
Cris
Desde que tomei conhecimento deste livro que fiquei com sentimentos contraditórios. Por um lado, parece-me uma história interessante mas, por outro, há algo que, de antemão, não me deixa ficar completamente entusiasmada. Só mesmo lendo o livro para o tira-teimas :)
ResponderEliminarAlexandra, eu gostei. Mas se nao soubesse do acontecimento real que deu origem ao livro teria achado meio louco! Afinal os efeitos alucinogénicos do centeio com fungos explicou os comportamentos dos personagens!
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