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sexta-feira, 21 de junho de 2024

"Nas Suas Mãos - A Incrível Vida de Suzanne Nöel" (GN) de Leïla Slimani e Clément Oubrerie

Saber que existia esta Graphic Novel escrita pela Leïla Slimani e traduzida pela Tânia Ganho fê-la entrar directamente para o topo da minha whishlist. Confesso que desconhecia quem era Suzanne Nöel e esta biografia pareceu-me muito bem conseguida e completa. Que vida fascinante a dela!Uma mulher muito à frente do seu tempo. 

Cirurgiã plástica numa altura em que a profissão era maioritariamente exercida por homens, feminista e uma lutadora pelos seus direitos, como mulher livre, e pelos direitos das mulheres, a quem reconhecia todo o direito a fazer uma operação estética para se sentirem melhor consigo próprias. Suzanne desde cedo mostrou que queria ir o mais longe possível na luta pela emancipação da mulher. Lutou contra preconceitos e pelo direito ao voto. Foi pioneira na cirurgia estética e reconstrutiva sendo que no início do séc XX é uma especialidade considerada perigosa e desnecessária.

Foi uma boa surpresa conhecer a vida desta médica.

As ilustrações bonitas mas são maioritariamente em tom escuro, carregadas mais ainda quando a palavra escrita sugeria uma situação mais pesada.

Recomendo. Para um dia reler! 

Terminado em 18 de Maio de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Feminista convicta, Suzanne Nöel foi uma brilhante estudante de Medicina e uma pioneira da cirugia estética e reconstrutiva, especialidade considerada perigosa e desneccesária pela comunidade médica do início do século XX.

Tendo-se apercebido de que a cirugia plástica poderia constituir um instrumento valioso e útil para a emancipação da mulher, Suzanne Noël decídiu dar um contributo essencial nesse campo incipiente.

Através da cirurgia, conseguiu corregir sinais de envelhecimento e de doençã, mas também os resultantes de condições de vida difíceis e precárias.

Durante a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu igualmente técnicas cirúrgicas revolucionárias em veteranos de guerra desfigurados, devolvendo-lhes a dignidade.

Suzanne Noël não só enfrentou os preconceitos do seu tempo como lutou incessantemente pelo direito de voto das mulheres, pela sua independência e pelo reconhecimento do seu trabalho como cirugiã plástica, tornando-se uma celebridade no seu país e no mundo inteiro.

Cris

 

 


quinta-feira, 20 de junho de 2024

"A Filha Única" de Guadalupe Nettel

Creio ja ter referido que fui à apresentação deste livro que contava com a presença da autora. Para ir munida de bagagem li o seu livro "O Corpo Em Que Nasci" (opinião aqui) e, claro, "A Filha Única". Gostei muito de a ouvir falar, de como surgiu o tema desta história, de como ela a interpretou. Gostei sobretudo da forma interventiva como vê o mundo e de a ouvir falar do processo de escrita.

Esta obra é baseada na história de uma amiga e a intenção primeira da autora foi contar momentos significativos passados na sua vida. As questões que se lhe colocaram e que são aquelas que se nos colocam a nós leitores, estão ligadas com a maternidade, o luto e a violência doméstica.

O que é ser "boa mãe", que papel a sociedade impõe às mulheres e que carga possui, que formas de ser mãe existem... são questões que se colocam ao lermos estas páginas. 

É, também, um livro sobre a esperança. Gostei muito.

"Existe uma palavra para designar aquele que perde o seu conjuge, e outra para os filhos que ficam sem pais. No entanto, não existe nenhuma palavra para os pais que perdem os seus filhos. (...) É algo tão temido, tão inaceitável, que decidimos não o nomear." Pag 68

Terminado em 15 de Maio de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Multipremiada, Guadaluppe Nettel é um nome a fixar na nova geração de escritores latino-americanos. Pouco depois de atingir os oito meses de gravidez, anunciam a Alina que a sua filha não irá sobreviver ao parto. Ela e o companheiro embarcam então num processo doloroso, e ao mesmo tempo surpreendente, de aceitação e luto. Esse último mês de gestação transforma-se para eles numa estranha oportunidade de conhecer aquela filha a quem tanto lhes custa renunciar. Laura, a grande amiga de Alina, fala-nos do conflito deste casal enquanto reflete sobre o amor e a sua lógica por vezes incompreensível, mas também sobre as estratégias que os seres humanos inventam para superar a frustração. Simultaneamente, Laura vai-nos contando a história da sua vizinha Doris, mãe solteira de um menino encantador com problemas de comportamento. Escrito com uma simplicidade apenas aparente, A Filha Única é um romance profundo e cheio de sabedoria que nos fala de maternidade, da sua negação ou aceitação, das dúvidas, incertezas e até dos sentimentos de culpa que a rodeiam, das alegrias e angústias que a acompanham. É também um romance sobre três mulheres – Laura, Alina, Doris – e os laços – de amizade e amor – que estabelecem entre elas. 

Cris

quarta-feira, 19 de junho de 2024

"Comer Beber" de Filipe Melo e Juan Cavia (GN)

O "casamento" deste autor com este ilustrador não poderia dar "filhos" mais bonitos! Que venham muitos mais porque eu cá estou para os apreciar!

Então, duas histórias diferentes fazem parte desta Graphic Novel e o título está directamente relacionado com elas e só ele as une. Nada mais possuem em comum. Mas mais uma vez, uma simbiose perfeita entre a palavra e a ilustração.

A primeira foi criada em torno de uma história verídica, baseada na vida de Franz e Frieda Majowski, donos de um restaurante que se vê inundado de nazis após a ocupação da Polónia pela Alemanha. É uma história de resiliência humana onde uma garrafa de champanhe tem um papel principal! ;) 

A segunda, é a história de um filho, de uma mãe e de uma tarte de maçã. Amor e dor muito forte e muito cru. Aproveitem e vejam a curta metragem inspirada nesta história. É tão maravilhosa! Se quiserem experimentem fazer a Tarde de Maçã. A receita vem no final do livro.

Uma GN para se apreciar! Recomendo!

Terminado em 11 de Maio de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

"Durante a Segunda Guerra Mundial, o polaco Franz Majowski esconde uma garrafa de champanhe no cofre do seu popular restaurante em Berlim.

Quatro décadas mais tarde, uma célebre tarte de maçã é o motor da viagem de um homem pelo interior da América.

Paladar e memória cruzam-se nestas duas histórias de magnífica simplicidade, uma delas real e a outra imaginada, em que a comida e a bebida são pretexto de reflexão sobre algo maior.

Comer / Beber é o quarto livro dos multipremiados criadores de Os Vampiros e Balada para Sophie." 

Cris

 

terça-feira, 18 de junho de 2024

"O Corpo Em Que Nasci" de Guadalupe Nettel

Sabendo que a autora mexicana vinha a Lisboa apresentar o seu último livro editado cá, "A Filha Única", apressei-me a tentar encontrar este livro anteriormente editado em Portugal e que me passou completamente despercebido. 

É um relato muito intimista do que foi a sua infância e juventude na cidade do México, marcada por um defeito de nascença num olho. Auto-ficção, muito provavelmente mas baseada em muitos acontecimentos que a marcaram. Não só essa marca física, que a limitava muito, mas também toda a educação dos anos 70 e ideologia da época: o casamento aberto dos seus pais, as comunas hippies e toda a liberdade sexual em oposição à educação fechada da sua avó.

A narradora, num divã de uma psicóloga, relembra a sua vida, questionando-se. Aceitando-se, por fim, tal como era.

"Por fim, depois de um grande périplo, decidi-me a habitar o corpo em que tinha nascido, com todas as suas particularidades. Ao fim de contas, era o único que me pertencia e me vinculava de forma tangível com o mundo, ao mesmo tempo que me permitia distinguir-me dele." (pág. 159)

Este livro lê-se muito rapidamente porque a escrita é muito atraente, convidativa e os episódios são narrados com muito humor. 

Terminado em 11 de Maio de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Inspirado na infância da autora, O Corpo em que Nasci é a história de uma menina com um defeito de nascença num olho. A sua vida, durante os anos setenta, é influenciada pela sua escassa visão, mas também pela ideologia dominante nessa época: o casamento aberto dos seus pais, a escola activa, as comunas hippies e a liberdade sexual. As diferenças físicas e psicológicas que a distinguem levam a protagonista a identificar-se com os seres que vivem à margem das modas e das convenções sociais.
Escrito como um solilóquio no divã de uma psicanalista, a narradora faz-nos participar das suas recordações mais íntimas e das interpretações que faz da sua própria vida. Trata-se de uma história cheia de sentido de humor, mas também de realismo, na qual o mundo infantil se mostra muito mais ominoso do que à primeira vista parece.
Um romance de iniciação à vida e à literatura, um bildungsroman entre a América e a Europa, nas suas facetas menos óbvias. O exílio sul-americano, a migração do Magrebe, as prisões da cidade do México constituem parte do contexto deste comovedor romance que percorre o caminho de volta à dignidade e à aceitação de si mesmo.

Cris

segunda-feira, 17 de junho de 2024

"Tu Não És Como As Outras Mães" de Angelika Schrobsdorff

Este livro merece uma leitura atenta. A autora pretende relatar, o mais fielmente possível e sem quaisquer juízos de valor, a vida de sua mãe sendo que, na minha opinião, consegue fazê-lo bastante bem. Isso é de louvar porque se trata de contar também um pouco da sua própria vida. O narrador a maior parte das vezes é omnisciente mas, de quando em quando, passa a ser narrado na primeira pessoa, ou seja, pela própria autora, revelando uma intensidade de sentimentos aos quais não consegue ficar indiferente. Ao escrever esta ficção auto-biográfica tem necessariamente que falar do ambiente socio-político e económico vivido nesses anos.

Não se pode afirmar que Else obedecesse às convenções, bem pelo contrário, mas a sua preocupação com os filhos foi uma constante durante toda a sua vida, pese embora a forma de mostrar esse amor não encaixasse nos padrões habituais. Else era alemã, judia e pertencia a uma família burguesa. Tinha uma vida despreocupada e viveu os loucos anos 20 em Berlim, fazendo tudo o que achava ter direito. As convenções eram para ser quebradas e o amor era para ser vivido, sempre à revelia dos pais, escondendo-lhes factos que achava que iam quebrar a imagem que tinham dela. O leitor começa aos poucos a aperceber-se, conhecendo a História Mundial, do que está para suceder, nomeadamente, a subida de Hitler ao poder e a perseguição cada vez mais intensa aos judeus. A perplexidade era um sentimento comum: aquilo não podia estar a acontecer e a opinião generalizada era que não poderia piorar!

O ambiente familiar que Else criou durante a sua vida, muito pouco tradicional, junto com os seus ex-maridos, suas mulheres e filhos, a sua fuga para a Bulgária, quando as coisas pioraram e a sua vida lá, a vivência no pós-guerra, tudo faz com que estejamos presos a estas páginas e não queiramos perder nada. 

Baseada em cartas e outros registos escritos deixados pelos seus avós à autora, que guardaram os “escritos” de Else, este livro leva-nos para um mundo que é difícil largar. Ler é bom assim!

Terminado em 4 de Maio de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Enquanto jovem mulher, Else, uma menina mimada da burguesia de Berlim, fez duas promessas a si mesma: viver a vida intensamente e ter um filho de todos os homens que amasse.

"Tu Não és Como as Outras Mães" é a história real dessa vida intensa, extravagante, inconformista que foi a de Else Kirschner, uma mulher verdadeiramente livre, e uma mãe diferente de todas as outras.

Nascida na conservadora burguesia judia de Berlim, Else estava prometida para casar com um bom partido. Mas os encantos de um artista cristão - «o maior amor e pior partido da sua vida» - foram o trampolim que procurava para renunciar ao conforto da casa paterna e ser dona do seu destino num mundo cheio de promessa.
Corriam os loucos anos vinte, dias efervescentes numa Berlim que parecia a capital do mundo, um tempo irrepetível de cultura, esplendor e liberdade. Else vivia no centro dessa boémia, incapaz de suspeitar que uma ameaça arrepiante cercava inexoravelmente a sua família.

Quando as sombras do Nacional Socialismo tingiram a Europa de negro, Else, judia, teve de fugir com a família da cidade que tanto amava. No exílio, na Bulgária, tudo é miserável, tudo é muito pouco quando comparado com a primeira vida. Nessa segunda vida, Else arrepender-se-á de não ter protegido a família da calamidade, que se revela trágica para alguns.

Esta é a história de uma vida maior que a vida, um retalho de História extraordinário. Quem nos conta a história é Angelika Schrobsdorff, importante escritora de origem alemã. Era filha de Else e demorou quinze anos a pôr no papel a história da mãe, sem sentimentalismo mas com o amor e a admiração inevitáveis, criando um pedaço de grande literatura, um clássico do nosso tempo.

Cris

quinta-feira, 13 de junho de 2024

"O Quinto Filho" de Doris Lessing

Lido no âmbito do grupo de leitura da Buchholz, orientado pela escritora e tradutora Tânia Ganho, este livro foi desencantado de uma prateleira onde jazia já há muito.

A ameaça, o suspense, estão sempre com o leitor nestas páginas terríveis. Numa família numerosa feliz – o sonho de Harriet e David - Ben, o quinto filho vem destruir a tranquilidade existente. A diferença, que a própria mãe sente logo na gravidez mas que teima em não reconhecer até perante si própria, é a causa dessa lenta destruição. Harriet quer dar um nome à “doença” que vê no seu filho mas os médicos, eles próprios, não reconhecem tal. E o leitor caminha por entre os destroços deixados por este filho que cresce e vai semeando mal estar na família, desagregando-a aos poucos. O “mal” não é físico, é interno. A agressividade e a falta de sentimentos afasta desde cedo esta criança dos irmãos, do pai e até mesmo da mãe que luta interiormente para o conseguir amar e tratar de igual forma como aos outros filhos.

Os abismos humanos aqui bem retratados. Uma montanha russa de emoções que se misturam, as dos diferentes personagens e as nossas, como leitores. O medo da maternidade, a diferença e o que ela pode gerar nos comportamentos humanos.

Um livro que deixa uma impressão profunda no leitor, que proporciona debate intenso, que não se esquece. Muito inquietante e terrível. Uma história brilhantemente escrita com um final condizente! Quero ler mais da obra desta autora, que tão bem soube reproduzir sentimentos extremos aqui nesta pequena preciosidade. 

"Eles estavam a matá-lo. E viu que David nunca lhe iria perdoar por ter dito isto em frente das crianças. Todas mostravam medo. Ela subiu imediatamente as escadas direita ao 'quarto do bebé', e pôs Ben na cama. Ele estava a acordar. Mais uma vez ele se atirou para o chão, rebolando-se; e mais uma vez se flectiu, dobrou e esticou, com os olhos cheios de puro ódio. Ela não podia tirar-lhe a camisa de forças.  Foi à cozinha e arranjou leite e biscoitos, enquanto a sua família permanecia sentada e a observava num silêncio total. Os gritos e a luta de Ben abalavam toda a casa." pág 102

Terminado em 30 de Abril de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Os olhares de Harriet e David cruzaram-se durante uma festa de empresa, à qual nenhum dos dois tivera muita vontade de ir. De copo na mão, ambos observavam os restantes convidados, que dançavam freneticamente. Não se identificavam com o que viam, e foi isso que os juntou.
Ao contrário dos colegas, Harriet e David não se reviam nos valores contracorrente da Londres dos anos 60. Conservadores, ambicionavam uma vida familiar tradicional, com quatro ou cinco filhos, e uma casa vitoriana com um vasto jardim e uma sala de grandes dimensões, onde pudessem construir um núcleo familiar coeso, que os protegesse das pressões da sociedade que os rodeava.
O sonho cumpre-se, e Harriet e David vivem num mundo idílico até ao nascimento de Ben, o quinto filho, que vem abalar o equilíbrio familiar que o casal tanto se esforçou por criar.
Ben é uma criança diferente. A gravidez e o parto foram mais difíceis do que os dos restantes filhos, e desde o início que Ben revela características que o distinguem dos irmãos. Robusto, agressivo e com uma fome que parece impossível de saciar, o quinto filho de Harriet e David tem limitações quanto à interação social e parece ser incapaz de qualquer ligação emocional.
Confrontada com esta situação, Harriet vê-se numa posição difícil. Tem de cuidar de Ben, mas tem de proteger a família desta criança estranha e difícil, com os olhos brilhantes de prazer intenso. Assustada, Harriet assiste ao crescimento do seu quinto filho, que vai destruindo pouco a pouco a tranquilidade do lar e da família em que nasceu.
Romance curto, mas poderoso, escrito sem capítulos ou pausas, O Quinto Filho é uma das obras mais inquietantes de Doris Lessing, Prémio Nobel da Literatura em 2007, explorando, de forma crua e incisiva, as questões ligadas à maternidade, e revelando que esta é, de facto, um conjunto de escolhas muitas vezes impossíveis de conciliar. 

Cris