A escrita é soberba. Confesso que algumas palavras inexistiam no meu vocabulário (mas tive sempre a sensação que elas pertenciam ao texto e que não foram ali coladas para bem parecer!) e achei muito interessante a dicotomia que encontrei entre o discurso da personagem, escrito na primeira pessoa, muito rico e elaborado versus as características com que a própria se define de si própria: ignorante, burra. E este contraste propositado fez-me logo pensar que aquela mulher se tinha modificado e evoluído. Ver esse reflexo de mudança durante esta pequena história foi ma-ra-vi-lho-so!
A sua baixa auto-estima é gritante, fruto em grande parte da sua relação com a mãe. Aquando da morte desta, que coincidiu com o seu despedimento num salão de cabeleireiro, a narradora começa a viver (narradora cujo nome fiquei com a impressão que não é referido ou, se o foi, das poucas vezes que foi mencionado, estava demasiado embrenhada na história para reparar nele!). Começa a viver aos poucos! Descobre a sua ligação com a natureza que pulula na cidade e de que nunca tinha dado conta, o seu amor pelos livros que a ligam à terra e aos bichos, a forma de subsistir sem trabalhar para melhor apreciar o que a rodeia e por consequência, a descoberta do “Tempo”: “Conseguir caminhar cada vez mais devagar”. Descobre, também, o amor e o desamor.
Referência gritante no texto a Olga Tocarkzuk, Nobel em 2018. Se ainda não a leram, devem fazê-lo o mais breve possível!
Nestes tempos em que sentimos o tempo voar, este livro é uma ode à natureza, ao prazer de descobrir o tempo passar devagar, observando o que nos rodeia e que não vemos num olhar apressado. Gostei tanto! E logo eu que não sou menina de contos. Fiquei fã! Deste, claro. É livro para reler mal se acabe.
Queria agradecer o empréstimo deste livro a uma amiga livrólica. Ler por cima das suas anotações foi uma experiência da qual gostei muito!
Terminado a 21 de maio de 2023
Estrelas: 5*
Sinopse
A leitura tem o condão de nos dar tempo para descobrir outros mundos. Os ponteiros dos relógios não param de avançar, mas é importante e enriquecedor sabermos aproveitar cada segundo, nem que seja para olharmos com maior acuidade para aquilo que nos rodeia.
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