A rádio sempre fez parte da minha vida. Na casa dos meus pais e avós já marcava os dias, muito mais do que a televisão. Estava eu e eles tão longe de imaginar que um dia a rádio se transformaria na minha vida!
Em criança o sonho que tinha para mim passava pelas telas, aguarelas e pincéis. E por desenhar projectos para mobílias, casas, bairros inteiros. Felicidade parecida só a encontrava nos livros que lia, e nos que pensava um dia escrever. Um sonho deu lugar a outro, e foi nesse espaço de tempo que tropecei na rádio. No jornalismo em rádio. E apaixonei-me. Até hoje.
Há 29 anos que sou jornalista na rádio, o meio de comunicação que considero mais próximo das pessoas. O que mais exige aos jornalistas que sejam claros, sucintos, que esclareçam e não confundam, que usem as palavras com rigor, mas também com a delicadeza e sensibilidade necessárias para que quem ouve possa ter a imagem sonora do que é relatado...
Em quase três décadas de jornalismo fiz coisas diversas: acompanhei a área de educação e ensino superior durante uma década, também me dediquei à bioética e às ciências da vida, fui repórter parlamentar e perdi a conta às reportagens, entrevistas e noticiários que fiz, tanto na Renascença como na RFM. Em 2009 assumi a editoria de religião da RR, o que tem permitido que me dedique aos temas mais de âmbito social, de solidariedade e ligados à vida da Igreja, e me tem dado o privilégio de conhecer gente especial, que deixa marca, que faz a diferença. E não me refiro a figuras públicas. Falo sobretudo dos anónimos que nos esmagam pelo exemplo de generosidade, empenho e dedicação aos outros. E foram tantos os que ouvi ao longo dos últimos três anos em espaços informativos que permitem ouvir, conversar sem pressa!
Este ano senti uma súbita vontade de partilhar com mais pessoas essas conversas que fui tendo na rádio com "gente feliz com fé". Foi assim que surgiu a ideia de o fazer em livro. E com esse título.
O livro foi publicado em Junho. Reúne 35 conversas com 41 convidados. Não lhes chamo entrev istas porque algumas são conversas a dois e a três, uma delas até a quatro. Testemunhos de gente que está com a "mão na massa", no terreno, a lutar contra a pobreza e o tráfico humano, a ajudar presos, refugiados ou doentes mentais, gente que olha e pensa o mundo à luz da sua fé em Deus, gente que não se envergonha de assumir publicamente que é crente. Muitos são sacerdotes, missionários ou religiosas, sim, mas a maioria são leigos, das mais variadas áreas.
Não tenho pretensões literárias com este livro que resulta da minha actividade diária, do meu critério jornalístico e do meu olhar cristão pela actualidade, que não quer "pintar" a realidade a cor de rosa, mas mostra que ela também não é só a preto e branco, e que há uma riqueza imensa na paleta de cores com que pode ser mostrada.
Neste livro, que não é meu mas de todos os que nele conversam, procuro também contrariar o preconceito mostrando a diversidade e riqueza que há na Igreja, que não é uma realidade abstrata, ou um edifício, mas todas as pessoas que a compõem. Que o seu exemplo e os seus testemunhos sejam inspiradores para quem os ler.
Ângela Roque
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