Tenho uma amiga que me pergunta, frequentemente, como consigo ler estes livros... E como não ler?, respondo. São histórias reais terríveis, eu sei, que marca quem as lê e, de tão terríveis, nunca se conseguem vivenciar verdadeiramente. Só quem vive ou já viveu uma história semelhante é que sabe o pesadelo infinito que é perder um filho. E, no entanto, não posso deixar de as ler. Não consigo não ler e nem quero.
Perder alguém que é suposto viver para lá de nós é algo que não consigo adjectivar nem classificar. Ana tinha sete anos quando morreu. Foi morta por quem a devia proteger. Por quem não a soube amar e por quem, num acto de vingança cruel, não mais a deixou crescer. Pelo pai.
E o resto fica para quem conseguir pegar no livro. Devem fazê-lo. Porque é preciso saber, mesmo que os sinais não sejam tão visíves assim, para denunciar situações que nos parecem estranhas, para estarmos alertas. Mas, por vezes, esses sinais não são reconhecíveis porque nada parece indicar que a tragédia vai ter lugar. E saber recomeçar sem se culpabilizar é um acto heróico que, espero, a mãe de Ana consiga realizar.
Uma dor que não tem fim que estas páginas dão a conhecer e uma mensagem que Ana, certamente, quereria transmitir: "Mãe, não desistas nunca de viver porque era isso que ele desejava." Para a autora uma palavra também: não desista de mostrar o que precisa de ser denunciado.
Terminado em 23 de Abril de 2017
Estrelas 5*
Sinopse
Esta é a história verídica de Ana. Uma menina de sete anos morta por um pai para se vingar da mulher que o abandonou. É também a história de Carolina, a mãe, e da sua viagem ao inferno. E de João, esse pai que ninguém conhecia verdadeiramente, e que foi capaz de matar quem amava. Esta história é a junção de muitas histórias reais. Todos os anos há crianças que são assassinadas em contextos de divórcios litigiosos. Pais ou mães que matam os filhos por vingança, para provarem que ganharam. Para castigarem quem só queria ter outra vida.
Depois de vários anos de jornalismo e a fazer reportagens de violência doméstica, Tânia Laranjo continua sem respostas perante a morte de crianças. E, com esta obra poderosa e muito pessoal, leva-nos a questionar como é possível o amor andar de mãos dadas com a mais pura das maldades.
Cris
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