Creio que não existe expressão mais certa do que a contida na capa e por isso começo a minha apreciação deste livro com ela: achei-o "brutalmente belo!" Foi isso que senti quase no princípio deste livro e que tive a certeza já a meio da sua leitura. O final, de uma beleza rara onde a adjectivação passa pela palavra "recomeço". Uma esperança que muitos não tiveram direito. Um recomeço difícil, sem ódio.
Fiquei estarrecida com muitas partes desta narrativa mas fiquei também surpresa com a inocência que transparece nos discursos das duas gémeas, personagens principais, que nas mãos de Mengele, tentam sobreviver. A narrativa é feita, alternadamente, pelas vozes das duas meninas que na época teriam 10/12 anos, mas contada quando adultas. Um recordar doloroso do passado.
No "Zoo" onde viveram, onde a Maldade teve asas numa doentia imaginação e Mengele foi o seu instrumento humano, as gémeas, serviram de cobaias para as experiências que se realizaram naquela parte do campo de Auschwitz. Os gémeos, acreditava-se, teriam mais hipóteses de sobrevivência.
A capa está espectacular. Simples, bonita e, coisa rara em muitos livros, tem tudo a ver com a história. Leiam e vejam porquê...
Uma leitura brutal e de uma rara beleza, contudo. Porque no fundo, a Luz e a Esperança. A Libertação e o Recomeço.
Sem mais palavras, dou nota máxima (já alguma vez dei 7?). O meu livro para 2016.
Terminado em 29 Outubro de 2016
Estrelas: 7*
Sinopse
Pearl tem a seu cargo o triste, o bom, o passado. Stasha fica com o divertido, o future, o mau. Corre o ano de 1944 quando as gémeas chegam a Auschwitz com a mãe e o avô. No seu novo mundo, Pearl e Stasha Zamorski refugiam-se nas suas naturezas idênticas, encontrando conforto na linguagem privada e nas brincadeiras partilhadas da infância. As meninas fazem parte da população de gémeos para experiências conhecida como o Zoo de Mengele e, como tal, conhecem privilégios e horrores desconhecidos dos outros. Começam a mudar, a ver-se extirpadas das personalidades que em tempos partilharam, as suas identidades são alteradas pelo peso da culpa e da dor. Nesse inverno, num concerto orquestrado por Mengele, Pearl desaparece.
Stasha sofre a perda da irmã, mas agarra-se à possibilidade de que ela continue viva. Quando o campo é libertado pelo Exército Vermelho, ela e o companheiro Feliks - um rapaz que jurou vingança depois da morte do seu gémeo - atravessam a Polónia, um país agora destruído. Não os detêm a fome, os ferimentos e o caos que os rodeia, motivados como estão em igual medida pelo perigo e pela esperança. Encontram no seu caminho aldeões hostis, membros da resistência judaica e outros refugiados como eles, e continuam a sua viagem incentivados pela ideia de que Mengele pode ser apanhado e trazido à justiça. À medida que os jovens sobreviventes descobrem o que aconteceu ao mundo, tentam imaginar um futuro nele. Uma história extraordinária, contada numa voz que tem tanto de belo como de original, Mischling é um livro que desafia todas as expectativas, atravessando um dos momentos mais negros da história da humanidade para nos mostrar o caminho para a beleza, a ética e a esperança.
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