A noiva partiu mas, ainda assim, está presente. O Tradutor procura-a, ilude-se, perde-se nos meandros da sua mente. E o Tradutor sou eu e não sou eu, o Tradutor é um homem que contém em si todos os homens, o desespero e a esperança, e o criador vive no que cria e no que já não lhe pertence.
O Tradutor sou eu e todos nós, o Tradutor tem em si as minhas dicotomias, o ódio e o amor a alguém, a um país, o horror ao mundo dos homens em que vive mas ao qual não pode escapar, à sociedade que abomina e a que, no entanto, se verga em troca de uma vela, de um ensopado de lentilhas. E o mundo arde e só ele o vê, ou será que não é só ele quem o vê, e não é só ele quem se sente arder por dentro?
A Noiva do Tradutor é o meu primeiro livro sério, o primeiro Livor, uma novela, um romance, o nome pouco importa, o primeiro em que os contos de uma diversão espontânea e imediata deram lugar à essência, à escrita visceral, ao sofrimento e ao alívio
de quem escreve dividido entre o Norte e o Sul sem pertencer totalmente a nenhum.
Sou um tradutor, sim, e sou o Tradutor. Não vivo na sua época, mas poderia viver, porque os homens não mudam por mais que os elétricos sucumbam aos aviões. A essência é a mesma, e a minha está num Tradutor que procura a Noiva que, na verdade, nunca perdeu.
João Reis
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