"O Planeta do Sr. Sammler" (1970) é uma das mais conhecidas obras de Saul Bellow (1915-2005) que foi galardoado com o Prémio Nobel de Literatura em 1976.
A obra em questão surge na sequência da realização da primeira viagem do Homem à Lua tornando-se num dos maiores feitos da Humanidade e, nesse sentido, Saul Bellow criou uma narrativa que levasse o Homem à reflexão do mundo em que vive no âmbito de um quadro de valores em crise.
Tendo como personagem central o professor Sammler, judeu oriundo da Polónia e perseguido pelos nazis durante a 2ª Guerra Mundial, sentiu igualmente o ódio por parte dos polacos não judeus durante o conflito, tendo conseguido refugiar-se em Nova Iorque onde passou a viver desde então.
Após a guerra, o professor Sammler retomou aos poucos aquilo que dificilmente será considerado de normalidade após um total descalabro a que a Humanidade ficou sujeita na sequência das inúmeras atrocidades a milhões de judeus, um pouco por toda a Europa.
Decorridos praticamente 25 anos após a guerra, o mundo voltava a pasmar-se então com a viagem do Homem à Lua, desenvolvendo Saul Bellow a tese de se desenvolver um movimento que defendia a possibilidade de a Humanidade poder viajar de "armas e bagagens" para a Lua na esperança de concretizar o sonho de almejar aquilo que já não seria possível alcançar na Terra.
Como forma de contrariar esta ideia aos seus interlocutores, o professor Sammler não só não concordava com semelhante ideia, como além do mais seria inconcebível o facto de o Homem jamais ser capaz de ser feliz noutro planeta, neste caso, na Lua, quando não tentou ou não quis verdadeiramente esforçar-se por ser feliz na Terra. Tratando-se de alguém que sofreu no contexto da 2ª Guerra Mundial, era até estranho para o professor Sammler compreender como é que a Humanidade tinha perdido a esperança na construção de um Mundo melhor. Depois da destruição restou o Homem e se o Homem por um lado é capaz de destruir também é capaz de tudo alterar graças à grandeza das suas qualidades.
Temos assim em "O Planeta do Sr. Sammler" um livro repleto de esperança e humanidade que em conjunto com as demais obras de Saul Bellow permitiram associar o autor a um dos grandes contributos das letras no século XX tratando-se de um autor que compreendeu com grande empenho e dedicação a complexidade do mundo contemporâneo.
Excertos:
"Claro que o impulso, a vontade de organizar esta expedição científica só pode ser uma daquelas necessidades irracionais que constituem a vida – esta vida que julgamos poder compreender. Portanto, suponho que devemos ir ao espaço, mas só porque, enquanto humanos, é nosso destino fazê-lo. Se tratasse de uma questão racional, então seria mais racional instaurar primeiro a justiça neste planeta. Depois, quando vivêssemos num mundo de santos, e os nossos corações ansiassem pela Lua, aí sim, podíamos metermo-nos nas nossas máquinas e subir nos ares…" (p. 208)
"Quanto ao mundo, estaria realmente a mudar? Porquê? Como? Pelo facto de nos mudarmos para o espaço, abandonando a Terra? Mudaria isso o coração humano? As atitudes? Porquê, por estarmos fartos das anteriores? Não era motivo suficiente. Porque o mundo estava a desfazer-se? Bom, se não o mundo, pelo menos a América. Se não a desfazer-se, pelo menos a cambalear." (p. 247)
"«Bom, todos somos humanos, mas só até certo ponto. Alguns mais do que outros.»
«Alguns muito pouco?»
«Aparentemente, sim. Muito pouco. Imperfeitos. Insuficientes. Perigosos.»
«Pensei que todos nascíamos humanos.»
«Não é um dom inato, de modo algum. Inata é só a capacidade.»" (p. 264)
"Mas suponhamos que é verdade – verdade, e não um mero estado de alma, ou uma manifestação de ignorância, ou de prazer na destruição, ou o apocalipse desejado por pessoas que estragaram tudo. Suponhamos que é verdade. Ainda resta uma coisa chamada homem. Ainda existem qualidades humanas. A nossa espécie, fraca como é, lutou contra o seu próprio medo, a nossa louca espécie combateu as suas tendências criminosas. Somos um animal de génio." (p. 265)
Texto da autoria de Jorge Navarro
Olá!
ResponderEliminarAinda não li nada de Saul Bellow, mas já tenho o "Herzoh" emprestado.
Este também me parece bem. Quem sabe se não é o seguinte!
Beijinhos e boas leituras!