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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A Escolha do Jorge: O Planeta do Sr Sammier

"O Planeta do Sr. Sammler" (1970) é uma das mais conhecidas obras de Saul Bellow (1915-2005) que foi galardoado com o Prémio Nobel de Literatura em 1976.
A obra em questão surge na sequência da realização da primeira viagem do Homem à Lua tornando-se num dos maiores feitos da Humanidade e, nesse sentido, Saul Bellow criou uma narrativa que levasse o Homem à reflexão do mundo em que vive no âmbito de um quadro de valores em crise.
Tendo como personagem central o professor Sammler, judeu oriundo da Polónia e perseguido pelos nazis durante a 2ª Guerra Mundial, sentiu igualmente o ódio por parte dos polacos não judeus durante o conflito, tendo conseguido refugiar-se em Nova Iorque onde passou a viver desde então.
Após a guerra, o professor Sammler retomou aos poucos aquilo que dificilmente será considerado de normalidade após um total descalabro a que a Humanidade ficou sujeita na sequência das inúmeras atrocidades a milhões de judeus, um pouco por toda a Europa.
Decorridos praticamente 25 anos após a guerra, o mundo voltava a pasmar-se então com a viagem do Homem à Lua, desenvolvendo Saul Bellow a tese de se desenvolver um movimento que defendia a possibilidade de a Humanidade poder viajar de "armas e bagagens" para a Lua na esperança de concretizar o sonho de almejar aquilo que já não seria possível alcançar na Terra.
Como forma de contrariar esta ideia aos seus interlocutores, o professor Sammler não só não concordava com semelhante ideia, como além do mais seria inconcebível o facto de o Homem jamais ser capaz de ser feliz noutro planeta, neste caso, na Lua, quando não tentou ou não quis verdadeiramente esforçar-se por ser feliz na Terra. Tratando-se de alguém que sofreu no contexto da 2ª Guerra Mundial, era até estranho para o professor Sammler compreender como é que a Humanidade tinha perdido a esperança na construção de um Mundo melhor. Depois da destruição restou o Homem e se o Homem por um lado é capaz de destruir também é capaz de tudo alterar graças à grandeza das suas qualidades.
Temos assim em "O Planeta do Sr. Sammler" um livro repleto de esperança e humanidade que em conjunto com as demais obras de Saul Bellow permitiram associar o autor a um dos grandes contributos das letras no século XX tratando-se de um autor que compreendeu com grande empenho e dedicação a complexidade do mundo contemporâneo.

Excertos:
"Claro que o impulso, a vontade de organizar esta expedição científica só pode ser uma daquelas necessidades irracionais que constituem a vida – esta vida que julgamos poder compreender. Portanto, suponho que devemos ir ao espaço, mas só porque, enquanto humanos, é nosso destino fazê-lo. Se tratasse de uma questão racional, então seria mais racional instaurar primeiro a justiça neste planeta. Depois, quando vivêssemos num mundo de santos, e os nossos corações ansiassem pela Lua, aí sim, podíamos metermo-nos nas nossas máquinas e subir nos ares…" (p. 208)

"Quanto ao mundo, estaria realmente a mudar? Porquê? Como? Pelo facto de nos mudarmos para o espaço, abandonando a Terra? Mudaria isso o coração humano? As atitudes? Porquê, por estarmos fartos das anteriores? Não era motivo suficiente. Porque o mundo estava a desfazer-se? Bom, se não o mundo, pelo menos a América. Se não a desfazer-se, pelo menos a cambalear." (p. 247)

"«Bom, todos somos humanos, mas só até certo ponto. Alguns mais do que outros.»
«Alguns muito pouco?»
«Aparentemente, sim. Muito pouco. Imperfeitos. Insuficientes. Perigosos.»
«Pensei que todos nascíamos humanos.»
«Não é um dom inato, de modo algum. Inata é só a capacidade.»" (p. 264)

"Mas suponhamos que é verdade – verdade, e não um mero estado de alma, ou uma manifestação de ignorância, ou de prazer na destruição, ou o apocalipse desejado por pessoas que estragaram tudo. Suponhamos que é verdade. Ainda resta uma coisa chamada homem. Ainda existem qualidades humanas. A nossa espécie, fraca como é, lutou contra o seu próprio medo, a nossa louca espécie combateu as suas tendências criminosas. Somos um animal de génio." (p. 265)

Texto da autoria de Jorge Navarro

1 comentário:

  1. Olá!

    Ainda não li nada de Saul Bellow, mas já tenho o "Herzoh" emprestado.
    Este também me parece bem. Quem sabe se não é o seguinte!

    Beijinhos e boas leituras!

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