Depois de alguns amigos da Roda dos Livros, um grupo de leitura a que tenho a honra de pertecer, me falarem bem deste livro, eis que o vejo bem baratinho na FLL! Vai ser também uma das minhas (muitas!) próximas leituras... (Cris)
Guerra é um tema ao qual tenho por hábito fugir quando se trata de leituras, porém, de vez em quando, há livros que cruzam o meu caminho e que não consigo deixar de ler.
A guerra colonial, pela sua proximidade temporal, histórica e emocional constitui uma leitura ainda mais penosa pois, na minha geração temos memórias que não nos permitem o devido distanciamento – a proximidade e o facto de, certamente, conhecermos alguém que nela participou são quase certos.
“As Lágrimas de Aquiles” é um livro que despertou em mim as mais diversas sensações… a momentos de leitura feita com os olhos rasos de lágrimas seguiram-se outros com um enorme sorriso, mas no fundo, até nesses existiu um fundo amargo.
Posso dizer que percorri as páginas com um quase constante aperto no coração, uma imensa tristeza, uma sensação de impotência. Posso dizer… enfim… é a guerra…
Mas a guerra aqui descrita não vive apenas de batalhas, emboscadas e condições de vida quase inimagináveis, vive, também, da luta interior, das emoções. Emoções individuais, de grupo e até das nações.
E esta luta interna que não dá tréguas, por mais anos e anos que passem, a quem a viveu é-nos perfeitamente transmitida nesta narrativa. E também nós vivemos esta guerra e entramos na pele de Nuno Sarmento e vemos os camaradas morrerem-nos nos braços e sentimos o espírito de corpo que une e permanece no tempo, e a aceitação e a revolta e os sentimentos contraditórios que se revivem, como o personagem os revive, até ao regresso ao mesmo local 25 anos depois porque “(…) Ninguém tem saudades da guerra. Mas não gostaria de morrer sem voltar aqui, onde deixei perdidos dois anos da minha juventude. Acho que devemos voltar sempre aos lugares que um dia foram nossos, mesmo nas piores circunstâncias.” (p. 87).
À angústia desta leitura sobrevém a necessidade de entendimento de um capítulo da nossa História, de perceber que “há mortos que ninguém consegue enterrar”, que “em cada morte do outro víamos em cada um de nós a própria morte”, que “nunca mais fomos os mesmos” e até, como dizia a propaganda da guerrilha, foi “uma morte para nada”.
Um livro que começa com uma carta de suicídio de quem muito resistiu aos contratempos da vida, que em nada me deixou indiferente. Uma narrativa crua de todos os sentimentos.
Não posso deixar de referir o Prefácio de Manuel Alegre, que me apetecia transcrever na íntegra, pela sua acuidade.
Um livro de que gostei imenso.
“A guerra é uma barbaridade, seguramente a mais inútil de todas as tragédias, mas é também um acto único. É uma espécie de jogo de sorte ou azar; um jogo em que se está e de repente não se está. (…) Tudo se cumpre no exacto limite dos sentimentos, nas fronteiras precisas do medo e da coragem.” (pág. 97)
“Na realidade, a guerra emudece-nos. Rouba-nos as palavras e as ideias. Deixa-nos despidos de nós. Perdemos o nome e a genealogia, a noção do tempo e os valores. (…) A guerra é um território absurdo e desumano, sem portas de entrada e de saída, um lugar de ódios levados ao extremo em cada homem.” (pág. 103)
Fernanda Palmeira
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