Considerada a maior escritora canadiana da actualidade, Margaret Atwood possui uma vasta obra que abrange praticamente todos géneros literários, desde o romance ao ensaio, passando pelos contos, ficção infantil e poesia. É muito conhecida pela criação de sociedades distópicas que designa por “ficção especulativa” e que muitos classificam como ficção científica.
Este é o caso de “O ano do dilúvio” cuja história ocorre num tempo indefinido, algures no futuro e num país não claramente identificado mas situado na América do Norte. Este é um mundo de clima alterado, povoado por estranhas criaturas transgénicas e dominado por poderosas corporações cujos membros e funcionários vivem isolados em complexos luxuosos enquanto que grande parte da população habita em enormes bairros degradados controlados por máfias. Apenas uma pequena seita religiosa desprezada, quer pelas corporações, quer pela população das “peblarias”, e que insiste em seguir um modo de vida mais próximo da natureza, actua como contraponto à conduta predatória das corporações. O seu líder prevê a ocorrência de uma catástrofe, o “Dilúvio Seco” que se abaterá sobre a sociedade com efeitos devastadores.
A narrativa alterna entre o tempo antes deste apocalipse e o tempo imediatamente após, através das memórias e vivências de duas mulheres, Toby e Ren. No desenrolar da sua interessante trama, este livro aborda, quase sem se dar por isso, temas extremamente actuais como a ganância das grandes corporações, o papel da ciência nas sociedades, a ecologia, a transgénese de animais e alimentos, a violência, o consumo de drogas, a condição feminina e até a eutanásia.
A escrita da autora prendeu-me de imediato, levando-me a ter pena de interromper a leitura sempre que tive de o fazer. Apesar de ter ficado com a sensação que, por vezes, a tradução ficou aquém do que a obra merecia, especialmente nos textos em forma de verso que fecham ou abrem muitos dos capítulos. Esta foi uma leitura que apreciei imenso e que recomendo a todos aqueles abertos a leituras diferentes do realismo preponderante na ficção actual.
Renata Carvalho
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