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sábado, 16 de outubro de 2010

Soltas...

"Mariam nunca tinha usado uma burca e Rashid teve de a ajudar a vesti-la.Sentia o capuz acolchoado pesar-lhe na cabeça r apertá-la e era estranho ver o mundo através de uma rede. Exercitou-se no quarto a andar com ela, mas tropeçava constantemente na bainha. A perda de visão periférica era enervante, e desagradava-lhe a forma como o tecido enrugado se lhe colava à boca sufocando-a."

"Sabem, há coisas que eu posso ensinar-vos. Outras vocês aprendem em livros. Mas há coisas que, bem, têm de ser vistas e sentidas."

"Nesse instante, toda aquela conversa da Mamã acerca de reputações lhe pareceu irrelevante. Absurda até. No meio de toda aquela matança e saque, de todo aquele horror era uma coisa inofensiva estar ali sentada debaixo de uma árvore e beijar Tariq."

"Era a primeira vez que morria alguém seu conhecido, de quem ela fora íntima, de quem amara. Não conseguia assimilar a inescrutável realidade de que Giti já não estava viva. Giti estava morta. Morta. Feita em pedaços. Laila começou finalmente a chorar pela amiga."

"Permaneceu ali até ele se cansar, até ele desistir, e depois escutou-lhe os passos incertos até se extinguirem, até tudo ficar silencioso, exceptuando o crepitar das armas nas montanhas e o seu próprio coração a martelar-lhe no ventre, nos olhos , nos ossos."

As liberdades e oportunidades que as mulheres haviam gozado entre 1978 e 1992 pertenciam ao passado; Laila ainda se recordava do comentário do Babi a propósito desses anos de domínio comunista, são bons tempos para se ser mulher no Afeganistão, Laila."

"Como todas essas coisas deixaram de ter importância para mim após todas as perdas, todas as coisas terríveis a que assisti nesta maldita guerra. Mas agora, evidentemente, é demasiado tarde. Talvez compreender apenas quando as coisas já não têm remédio seja o castigo justo para os que não tiveram coração."

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