Gosta deste blog? Então siga-me...

Também estamos no Facebook e Twitter

segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

A Convidada escolhe: As Migalhas de Beirute

As Migalhas de Beirute” – S. Costa Brava, 2019

A minha escolha por este título da obra de uma autora que não conheço, mas que foi sugerida por uma das participantes do Círculo de Leitura da UNISSEIXAL, teve a ver com o interesse que tenho em perceber a complexidade dos conflitos no Médio Oriente, motivo de notícias desde que me conheço. A minha solidariedade com a causa palestina e com o direito de um povo a viver em paz na sua terra, o qual tem nos últimos dois anos sido alvo de um genocídio impensável por parte do governo israelita, mais me levou a fazer esta escolha. Na calha e a seguir, irei ler “Gaza está em toda a parte” de Alexandra Lucas Coelho, cujas crónicas e percurso sigo regularmente e que muito admiro.

“As Migalhas de Beirute” é um livro muito duro, cuja leitura não me foi fácil. O facto de a autora ter vivido no Médio Oriente e em Paris teve certamente peso na escolha do tema. A primeira parte do livro traz-nos através de datas e acontecimentos marcantes naquela zona do mundo e em Beirute, em particular, a história de um país dilacerado pela guerra civil, por conflitos gerados do exterior, que têm tido os EUA e a Europa como potências omnipresentes. O papel da França no conflito libanês é inegável, mesmo quando os governos tentam através de divisões e de mistificações fazer de conta que nada têm a ver com os conflitos. Independentemente das divisões religiosas, foi através do exacerbamento dessas divisões que se tentou sempre chamar de religiosas as guerras, quando desde sempre os conflitos se deveram a questões de ordem geopolítica num território muito apetecível para quem quer mandar no mundo. Para além das mortes, a primeira parte do livro dá-nos a imagem de um país e de uma cidade divididos, com campos de milhares de refugiados palestinianos e com milhares de libaneses espalhados por todo o mundo, tentando refazer a vida como imigrantes. De forma larvar, o ódio vai-se instalando, os traumas de guerra não se apagam e a sede de vingança é aproveitada por milícias e grupos radicais que florescem num clima de desconfiança e de ódio generalizados.

A morte dos pais de Samir Bustani na Primavera de1988 é o ponto de partida para esta história de uma família libanesa. Apoiado por um tio há anos refugiado em Paris, o jovem Samir e a irmã vão conhecer uma realidade completamente diferente. No livro surgem temas em que se confrontam culturas, crenças e atitudes que dividem pessoas e famílias. A intolerância baseada na religião, a homossexualidade, a submissão da mulher na família, mas também a capacidade de resistir e continuar a viver num mundo em convulsão são alguns dos temas que o livro aborda.

Se o surgimento da internet foi uma ferramenta extraordinária para pôr em comunicação pessoas de todo o mundo, ou seja, um poderoso aliado da democracia, ela também tem sido usada para chegar a alvos frágeis e vulneráveis, facilmente manipuláveis que veem nela a resposta a frustrações e desilusões da vida. Muitos grupos extremistas têm-na usado em seu favor, radicalizando jovens inseguros, sem perspectivas de futuro, desiludidos da vida e facilmente ganhos quando lhes acenam com um paraíso que vingue anos e anos de frustração e infortúnio. O livro mostra-nos esse mundo de ódio que infelizmente contamina tanta gente, que gera destroços, migalhas e apenas destruição.

O ódio e a violência só geram cada vez mais ódio e violência. Todos perdemos e a democracia fica em risco. Será que temos capacidade de enfrentar a besta que nos quer destruir?

2 de Setembro de 2025

Palavras-chave: guerra, democracia, ódio, Médio Oriente

Almerinda Bento 



Sem comentários:

Enviar um comentário