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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

"A Maldição das Flores" de Angélica Lopes

Primeiro, a capa. Chamou-me a atenção, mas não pelos melhores motivos. Rosas a mais, cor de rosa intenso demais. Creio que as rendas que lá se encontram poderiam ser mais realçadas, dado o teor da história. Gostei mais da capa brasileira, mais singela não tão vistosa. Críticas à parte, vamos falar da história que me encheu as medidas!

Livro de leitura compulsiva. Entra-se de imediato na história, nas histórias melhor dizendo... São-nos apresentados dois espaços temporais separados entre si 100 anos. Rio de Janeiro, 2010 e Bom Retiro, Pernambuco, 1918. Esta última história, sem querer desvendá-la, é muito intensa porque traduz com mestria um tempo em que as mulheres pouco tinham a opinar e não decidiam as suas vidas.

Numa cidade pequena algumas mulheres dedicavam-se a elaborar peças de renda que depois vendiam. Era um espaço de convívio, liderado pela família Flores, chamada assim porque possuíam um jardim colorido. Era uma família de mulheres, dizendo as más línguas que os homens que se metiam com elas tinham vida curta, morrendo prematuramente. Independentes financeiramente, estas mulheres não eram bem vistas. Com elas trabalhavam algumas jovens também. Numa sociedade machista e que impõe demasiados limites às mulheres, uma forma de comunicar diferente, um abecedário criado com os pontos de renda, vai transformar as vidas de algumas delas.

Um segredo que passou gerações e vem parar às mãos de Alice, jovem ativista, que tudo questiona e que vem a descobrir uma história de violência ocorrida há quase cem anos.

Com vários twists, segredos escondidos que são revelados aos poucos, esta leitura deixou-me presa. Trama muito inteligente, bem narrada e verosímil. Personagens carismáticas, muito humanas, tornam-se reais aos nossos olhos!

Gostei muito e aconselho!

Terminado a 23 de Julho de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Rio de Janeiro, 2010. Quando uma tia lhe entrega um véu de renda com quase cem anos, Alice não sabe o que fazer com ele. Para a jovem ativista, um véu – seja de missa ou de casamento – não é mais do que um símbolo das amarras que sempre prenderam as mulheres sob o domínio dos homens. O que ela não sabe é que aqueles pontos na renda escondem um código secreto e contam uma história de violência e de luta pela liberdade.

Bom Retiro, Pernambuco, 1918. Os pais de Eugênia julgam ter arranjado o melhor dos maridos para a filha. Viúvo e pai de duas crianças, o Coronel Aristeu é o homem mais poderoso da região, e a união trará poder e prestígio social a Eugênia e à sua família. Porém, ela não ama aquele homem e o matrimónio acontece contra a sua vontade. Isolada na fazenda do marido, longe do mundo e das pessoas que sempre conheceu, inventa um código secreto usando os pontos da renda e com ele conseguirá comunicar com a única amiga em quem pode verdadeiramente confiar. A mensagem a transmitir não podia ser mais clara: ela tem de fugir depressa.

Um século separa Eugênia de Alice, mas o véu de uma acaba nas mãos da outra. A uni-las estão laços fortes, uma história que pede para ser contada e o mesmo desejo – o de serem donas do próprio destino.

Cris

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

"O Meu Pai Voava" de Tânia Ganho

Ponto 1: Se a Tânia escrevesse uma lista telefónica, eu iria comprá-la e lê-la. 

Ponto 2: A frase anterior reflete o respeito e a admiração que tenho por esta autora e pela mestria da sua escrita. 

Ponto 3: Gosto muito de a ouvir falar, perco-me nas suas palavras. Ia de propósito a um clube de leitura na Biblioteca da Amadora, organizado por ela, e agora vou à Livraria Buchholz. Os temas escolhidos são sempre muito abrangentes e as opções de leitura são variadas. Ouvi-la é um prazer.

E agora sobre este livro...

Um livro num formato pequeno mas que revela tanto! Escrito de uma forma intimista, revelador de uma profunda admiração pelo seu pai, recentemente falecido, é um livro de memórias. As suas, porque a memória é algo muito próprio e pessoal, porque as outras pessoas que lidaram com ele terão certamente outras.

Foi um deitar cá para fora de acontecimentos, sensações e marcas sobre alguém que a autora amava. É um livro sobre o luto, a perda, sobre a doença, sobre o "nunca mais", sobre as lições deixadas através do exemplo. É sobre o amor, sobretudo!

E é com esse sentimento que se termina este livro. Amei! Capa belíssima (foto real).

"Depois deixou de encontrar palavras e apontava simplesmente.(...) As palavras foram-lhe morrendo, uma a uma, até restar o silêncio. Um silêncio impotente e aterrador. Deixou de sorrir com os olhos." Pág. 30

"(...) mas ensinou-me essa lição, que infelizmente, noutros momentos da minha vida, ignorei: Ouve a tua intuição." Pág. 74

Terminado a 19 de Julho de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse
"Não sei para quem escrevo estas palavras.
Para ele, talvez.
Desde que morreu, escrevo sem parar.
Escrevo para recuperar o fulgor com que ele viveu."

Cris

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

"Marzhan, Mon Amour" de Katja Oskamp

O que acontece quando uma mulher de 48 anos vê o seu último romance recusado pelas editoras? O que fazer para sobreviver? E que tal mudar de profissão? Pedicura, por exemplo?

Com um tema muito original, que nos parece estranho à primeira já que a profissão de escritora não parece ter nada a ver com a de pedicura, vamos percebendo, estando na pele da narradora/escritora o quão atenta aos pormenores ela é, observadora de mão cheia. E ficamos presos às histórias dos seus clientes que nos vai contando, que mais não são que as histórias de um bairro. Vidas que passam despercebidas e que se revelam naqueles momentos únicos onde ela trata e massaja os pés dos seus clientes com carinho. Uma atenção que oferece, um momento que dá aos outros.

E são muitas as histórias de vidas que, mesmo sendo diferentes da nossa (talvez por isso mesmo!) nos conquistam a atenção. Nomes, atitudes, sensações, que reconhecemos naqueles que nos são próximos ou que ouvimos falar. Uma abordagem muito original, repito, que me deu muito prazer ler. Temas variados, vidas que se entrelaçam na dela e a quem ela oferece atenção e carinho.

A historia de um bairro berlinense multifacetado contada por uma mulher / escritora / pedicura nada amargurada com o que a vida lhe trouxe. Gostei muito!

E começa assim:
“Os anos da meia-idade, em que não és nova e ainda não és velha, são nublosos. Já não avistas a margem de que partiste, e ainda não distingues com suficiente nitidez a margem para a qual te diriges. Nesses anos, esperneias no meio do grande lago, ficas sem fôlego, perdes as forças devido à repetição dos movimentos que fazes a nadar. Desesperada, paras e rodas em torno de ti mesma, uma volta, depois outra, e outra ainda. Surge o medo de ires ao fundo a meio do cominho, sem tom nem som.” Pág. 9


Terminado a 18 de Julho de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Uma mulher que se aproxima dos «anos invisíveis» da meia-idade abandona a carreira de escritora para se tornar pedicura em Marzahn, em tempos a maior área residencial pré-fabricada da Alemanha Oriental, nos arredores de Berlim. A partir daí observa atentamente os clientes e colegas, mergulhando nas suas histórias pessoais. Cada uma das histórias se destaca como uma vinheta, contada com humor e emoção, e juntas formam um retrato matizado de uma comunidade.

Cris

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

"O Mistério das Caraíbas" de Agatha Christie

Pouco tenho a referir desta leitura. Considero que os livros da Agatha Christie são leituras prazerosas sobretudo se lidas ao mesmo tempo com amigos e se se forem comentando as hipóteses, como foi o caso, mas que, tal é a multiplicidade de suspeitos, pouco retenho passado alguns dias.

Por acaso, neste, o meu palpite estava certo mas confesso que as razões que me levaram a suspeitar do assassino não estavam corretas e há sempre um twist que não conseguimos prever. E não me perguntem sequer uma pontinha da história que passado um mês já não me recordo. Tampouco dos personagens envolvidos e de quem foi o criminoso. Mas, a memória é mesmo assim: retém o que acha importante.

Contudo, esta leitura serviu o objetivo porque foi muito engraçado fazê-la conjuntamente com várias amigas e, sobretudo, os últimos capítulos terem sido feitos à volta de uma farta mesa com muitas risadas e outras conversas que nada têm a ver mas que reforçam as amizades livrólicas !

Terminado a 14 de Julho de 2024

Estrelas: 4*

Sinopse
«Quer ver a fotografia de alguém que cometeu um crime?», pergunta um desconhecido a Jane Marple, de férias nas exóticas ilhas das Caraíbas. Mas antes mesmo de lhe dar qualquer opurtunidade de responder, o homem muda abruptamente de assunto. No dia seguinte, Miss Marple descobre que o seu interlocutor está... morto!Mas o que terá acontecido à fotografia?

Cris

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

"Cartas Portuguesas" de Mariana Alcoforado

Já tinha ouvido falar dsstas cartas que atribuem a sua autoria a Mariana Alcoforado, uma freira portuguesa de Beja que viveu no séc. XVII.
No âmbito do passatempo de verão do clube de leitura a que pertenço, o Dona Leitura, li-as num ápice.
São cinco cartas, pequenas, escritas a um homem que combateu por Portugal e que, pelo que se percebe, terá ido para França. O tom das quatro primeiras cartas é de sofrimento, inquietação e angústia. É de alguém que se sente traído, abandonado mas que ainda tem esperança que a situaçao se altere. Poderá nao ter resposta às suas cartas porque algo o impede? Questiona o amor vivido, não porque duvide do seu mas porque a dúvida se instala em relação ao ser que ama: será que ele a ama de igual forma?
Na última carta o tom é diferente, passando a tratar por você esse amor que não se conhece a identidade. Mostra-nos uma freira ainda sofredora mas arrependida, com remorsos por se ter entregue completamente a um amor que, sabe agora, não era recíproco e decidida a pôr um ponto final na sua dor. Refere troca de cartas que a fizeram perder as esperanças e consolidaram a ideia de traição.
"De si nada mais quero. Sou uma doida, passo o tempo a dizer a mesma coisa. É preciso deixá-lo e não pensar mais em si. Creio mesmo que não voltarei a escrever-lhe. Que obrigação tenho eu de lhe dar conta dos meus sentimentos?"
Não é possível ler estas cartas e não querer saber mais sobre esse amor entre uma freira e um homem do exército! 

Terminado em 12 Julho 2024

Estrelas: 5*

Sinopse
Passados 300 anos da morte da freira portuguesa mais famosa de todos os tempos, uma nova edição anotada das cartas que lhe foram atribuídas e que se tornaram uma das histórias de amor impossível mais famosas da literatura ocidental. Publicadas originalmente em 1669, estas cinco cartas de uma freira portuguesa destinadas ao seu apaixonado, um oficial francês, tiveram grande impacto na literatura europeia da qual a França era a porta-estandarte. A investigação histórica que foi feita no decorrer de séculos e até aos nossos dias confirmou, por um lado, que a religiosa teria sido Mariana Alcoforado e, por outro, que o oficial francês seria o marquês de Chamilly, na época em Portugal com o contingente francês para apoiar as forças portuguesas que se opunham ao exército espanhol na luta pela Independência de Portugal. Mais tarde, a continuada investigação considerou mais provável que se tratasse de uma obra de ficção da autoria do editor original, mas inspirada em factos verídicos. A verdade é que a incerteza se mantém e os factos históricos coincidentes mais contribuem para adensar o mistério. Aquilo de que não se duvida é da influência cultural e literária da obra na literatura europeia. Com efeito, as Cartas foram adaptadas diversas vezes ao teatro e ao cinema e são uma referência na literatura europeia e nas belas-artes.. Esta edição que agora se publica, no tricentenário da morte de Mariana Alcoforado, é acompanhada por um Estudo Histórico que recapitula precisamente todo este percurso de investigação e o impacto cultural da obra ao longo dos tempos.

Cris

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

"Dedico-lhe o Meu Silêncio" de Mario Vargas Llosa

Não me recordo de outros livros que tenha lido de Vargas Llosa, o escritor peruano que anuncia que este será o seu último romance. Mas quem pode prever? Às vezes nem o próprio escritor, digo eu. O papel, a caneta e o pensamento estão ligados de tal forma para quem escreve desde os 16 anos que... nunca se sabe! Mas isto sou eu já a divagar.

O fio condutor deste livro é a música peruana, como refere a sinopse. Dado não conhecer praticamente nada sobre o assunto, achei que seria interessante mergulhar neste romance. O personagem principal, Toño, é um estudioso e apaixonado pela música crioula. Escreve artigos sobre isso, é professor esporádico numa faculdade e... ganha mal. A sua mulher desdobra-se em múltiplos trabalhos para poderem viver e sustentar as duas filhas do casal. 

Toño, depois de ouvir por acaso um músico que nunca tinha ouvido falar, Lalo Molfino, fica maravilhado pelo seu desempenho que acha absolutamente excepcional e tenta saber mais sobre o mesmo. A sua morte leva-o a uma espiral de acontecimentos, no mínimo desastrosos, que o levam ao extremo, tanto física como psicologicamente. Toño pretende demonstrar que a música crioula tem um forte impacto na unificação do seu país, o Perú, ajudando a aproximar as pessoas e a combater o racismo, a diminuir as diferenças sociais e económicas. Decide escrever um livro sobre o músico e sobre a sua teoria.

Alguns assuntos abordados com mestria que me tocaram deveras: 

Toño sofre de ataques de pânico e a sua evolução é marcante; uma forte crítica social e referências ao Sendero Luminoso que me fizeram pesquisar sobre o assunto e enriquecer-me; a insatisfação constante de Toño e a sua necessidade doentia de recomeçar tudo de novo vezes sem conta fez-me refletir sobre a instabilidade da mente humana e a utopia.

Terminado em 11 de Julho de 2024

Estrelas: 4*

Sinopse

Pode dizer-se que o novo romance de Varga Llosa o devolve aos terrenos da utopia; desta vez, com a música peruana como fio condutor. O protagonista da história, Toño Azpilcueta, é especialista em «música crioula» e descobre um violonista, Lalo Molfino (personagem de Travessuras da Menina Má). O talento do violonista revive o amor de Toño pelas valsas, marineras, polcas e huaynitos, peças enraizadas na música popular do país. A música crioula não é apenas uma marca do país; é muito mais importante: um elemento capaz de provocar uma revolução, quebrando preconceitos e barreiras raciais para unir todo o país.

O romance decorre no início dos anos 90, em plena ofensiva terrorista do movimento comunista Sendero Luminoso. A música revela-se como elo de união de uma sociedade e o virtuosismo de Lalo Molfino seria decisivo. Toño Azpilcueta decide investigar o guitarrista para descobrir como ele se tornou um músico tão excelente.

Assim, viajou pelo Peru até à sua terra-natal, mergulhando nos seus mistérios, na história da sua família, nas suas relações amorosas. É então que tem a ideia de escrever um livro para contar a história da música crioula.

Cris

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A Convidada escolhe: Memórias de Adriano

Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar, 1951

Este era um livro que há muitos anos aguardava a sua vez de ser lido e nomeado como “livro da vida” por vários amigos. De Yourcenar apenas tinha lido “A Obra ao Negro” e uma interessante biografia da vida e obra desta autora, editada pela ASA. Mas a verdade é que ia adiando a leitura até que chegou a sua vez. Costuma-se dizer que há livros que devem ser lidos na altura certa e eu achei que estava na altura de o fazer, mas confesso que há muito que não demorava tanto tempo a terminar um livro. Julho passou e só em Agosto consegui terminá-lo. É verdade que as condições psicológicas e físicas, quando não são as melhores, nos retiram o interesse por aquilo que adoramos fazer.

Depois deste intróito, que não é nenhuma confissão, só a partir de certa altura comecei a engrenar com o livro e tenho de reconhecer que é uma obra de grande envergadura. Pensar que Marguerite Yourcenar teve um processo de trinta anos de gestação desta obra, que escreveu, deitou fora, abandonou e, por fim, num trabalho frenético a concluiu entre 1947 e 1950, tendo finalmente sido publicada em 1951, é algo de extraordinário. No final, Marguerite Yourcenar brinda-nos com um conjunto de Apontamentos sobre As Memórias de Adriano, que nos ajudam a perceber e a valorizar esta, que terá sido uma das mais significativas das suas muitas obras literárias. Constituído por seis capítulos com títulos em latim, não posso deixar de referir o facto de esta obra ter sido traduzida para a língua portuguesa por Maria Lamas.

O livro é uma longa carta na primeira pessoa do imperador Adriano dirigida a Marco Aurélio, na sequência da sua visita ao médico Hermógenes, para ser observado. Adriano tem 60 anos e como escreve “ começo a avistar o perfil da minha morte”. Enumera algumas das actividades que já não consegue cumprir, sofre de insónias e dores de cabeça e com esta carta propõe-se-lhe “contar a minha vida. (…) Não espero que os teus dezassete anos compreendam alguma coisa disso. Procuro no entanto instruir-te e também chocar-te.” (pág. 23). Começa por falar da sua infância, do avô, do pai, das suas origens, d’”as minhas primeiras pátrias foram os livros” (p. 34), da sua paixão pela língua e cultura gregas, o que lhe causou alguma desconfiança de entre os membros do Senado. A corte que rodeava Trajano, doente e sem sucessor, estava cheia de inimigos, de traidores e o ambiente que se vivia era de intriga e violência. O próprio Trajano que confiara a Adriano a tarefa de compor os seus discursos, não tinha uma atitude de total confiança naquele a quem dera o anel de sucessão no poder.

Quando Adriano sobe ao poder, o seu desejo era ser justo, clemente, escrupuloso e, sobretudo, estabelecer a paz nos territórios conquistados por Trajano. “Humanitas, Felicitas, Libertas” são as palavras que manda cunhar nas moedas do seu reinado. “ O fim que eu me propunha era uma prudente abolição de leis supérfluas, um pequeno grupo de sábias decisões firmemente promulgadas. Parecia ter chegado o momento de, no interesse da humanidade, revalorizar todas as prescrições antigas” (p. 99). Considerei extraordinária esta medida que é de uma actualidade incrível: “Insisti para que nenhuma rapariga casasse sem o seu próprio consentimento: essa violação legal é tão repugnante como qualquer outra” (p. 102). O sentimento de não pertença a qualquer sítio, mas também de não se sentir isolado onde quer que estivesse, leva-o a sentir-se como um deus, o que “obriga, em suma, a mais virtudes que ser imperador.” (p. 125). “Aos 44 anos, sentia-me sem impaciência, seguro de mim, tão perfeito quanto a minha natureza mo permitia, eterno.” (p. 124).

Casado com Sabina, por quem nunca nutriu qualquer tipo de interesse, o capítulo com o título Saeculum Aureum fala-nos da sua relação devotada com o jovem grego Antínoo, a quem chama de “o meu jovem favorito” e frequentemente “criança” que termina abruptamente com o suicídio de Antínoo, no Egipto. O desgosto daí resultante é devastador e Adriano regressa à sua amada Grécia por pouco tempo, tendo tido contacto com um bispo dos cristãos, reflectindo na sua carta sobre as virtudes e defeitos da seita fundada por Jesus.

A morte do jovem amado Antínoo leva Adriano a desinteressar-se pela vida, mas a guerra com a Judeia vem ao arrepio da sua vontade de paz e reconhece que esta guerra que ele não desejou foi um dos seus fracassos. É também nessa altura que o corpo cansado começa a mostrar as suas fragilidades, acrescido do desespero pelas noites de insónia. No regresso a Roma, deseja encontrar o seu sucessor e preparar a sua morte. Tal como acontecera com Trajano, Adriano não tinha filhos, tendo adoptado Lúcio que morre entretanto e Marco Aurélio para lhe suceder.

O último capítulo – Patientia – é o retrato dos últimos anos de Adriano, um imperador notável que morre aos 62 anos. Um homem poderoso que viveu a doença, a decadência, o desespero e o desejo de pôr termo à vida através do suicídio, mas que finalmente tomou conscientemente a decisão de renunciar a precipitar a sua própria morte.

Marguerite Yourcenar, não sendo uma historiadora, mas sim uma escritora, teve no entanto que ter feito um prodigioso trabalho de investigação histórica para fazer um livro desta envergadura. Recebeu o Prix Femina Vacaresco em 1952 e foi a primeira mulher a ser eleita para a Academia Francesa em 1980, com 77 anos.

3 de Agosto de 2024

Almerinda Bento

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Julho

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Julho.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Carla Pereira Sousa

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 22, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

Cris

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Para Os Mais Pequeninos: "Perla, A Cadelinha Poderosa" de Isabel Allende e Sandy Rodrigues


Ter uma cadelinha com poderes especiais não seria fantástico? Aposto que para os mais pequeninos é um desejo frequente! E esta história de Isabel Allende sobre uma cadelinha vem-nos mostrar como isso é possível. 

O primeiro poder é ser simpático e amável para com os outros. Foi usando este poder que Perla cativou Nico e fez com que ele a escolhesse e levasse para casa!

O segundo - rugir como um leão - conquistou os pais que queriam um cão de guarda e não uma mini cadelinha... Mas mais importante que esta impressão resultante de um primeiro contacto, foi o impacto que Perla teve na vida de Nico e que se veio comprovar mais tarde! Têm de espreitar e ler com os vossos pequeninos esta história tão bonita, feita de pequenos pormenores da vida desta família.

Uma história que nos fala da importância de sabermos ultrapassar obstáculos que nos surgem, de como com um pouquinho de coragem e algumas ferramentas conseguimos vencer quem nos quer fazer mal ("Todos os rufias são cobardes!").

Palavras escritas com mestria e ilustrações maravilhosas que nos conquistam, a nós adultos. Creio que as crianças vão adorar!




Cris