Entrei muito bem nesta leitura, porque embora se faça lentamente, com avanços e recuos no tempo, a temática escolhida é actual, impactante e gosto muito de "sentir", através das palavras escritas, o que possivelmente várias pessoas poderão estar a viver na actualidade. A Guerra (qualquer uma) nunca é tema fácil de retratar e muito menos de experienciar na pele.
O título esconde a temática e nada faz supor que nestas páginas está muita dor, muita tentativa de ultrapassar esse sofrimento e muitas das formas que a mente possui para lidar com perdas que não quer aceitar. Estão juntos fisicamente mas tão longe um do outro! A dor, a perda afastou-os e cada um mergulha de forma diferente no sofrimento.
Nuri e Afra, são um casal sírio e já não têm o seu filho Sami com eles, a não ser nos seus constantes pensamentos. Os seus corpos e as suas mentes não o esquecem e demonstram-no de uma forma que o leitor só se aperceberá já com muitas páginas lidas.
Nuri, num discurso directo que mexe connosco, salta do presente para o passado, e conta-nos como foi a sua terrivel vivência da Guerra Civil da Siria (2011), seu país, da sua fuga com a esposa cega, por campos de refugiados na Turquia, Grécia e finalmente o Reino Unido onde se queria juntar com o seu primo Mohammed, quase seu irmão, companheiro de vida e de trabalho. Eram ambos apicultores e trabalhavam juntos antes de rebentarem os conflitos no seu país de origem.
Com o saltitar no tempo do discurso de Nuri, o leitor apercebe-se, aos poucos, que o seu corpo e o da sua esposa somatizaram as várias perdas (das quais Sami foi a maior), de uma forma que não julgamos ser possível. Sami foi uma vítima da guerra e os corpos/mentes de seus pais não o conseguem esquecer. A dor explode pelos seus poros e o leitor sente e vive isso.
Duro e actual. Gostei muito.
Terminado em 6 de Agosto de 2022
Estrelas: 5*
Sinopse
Nuri é apicultor; a sua mulher, Afra, uma artista. Vivem uma
vida simples, com uma bela família e amigos, na bonita cidade Síria de
Alepo. Até que o impensável acontece. Quando tudo aquilo que lhes
importa é destruído pela guerra, são forçados a fugir.
Mas
aquilo que a Afra viu é tão horrível que ela fica cega, e por isso
embarcam numa perigosa viagem pela Turquia e Grécia, até ao futuro
incerto no Reino Unido. Na travessia, o Nuri agarra-se à esperança de
reencontrar o seu primo Mustafa, e sócio nos negócios, que criou
apiários na Inglaterra e que ensina apicultura aos refugiados em
Yorkshire. Nuri e Afra viajam por um mundo despedaçado e têm de
confrontar a indizível dor da sua perda, enquanto enfrentam perigos que
assustariam a mais corajosa das almas.
Acima de tudo — e talvez
esta seja a coisa mais difícil que eles enfrentam —, têm de se
encontrar um ao outro. Comovente, poderoso, escrito com enorme beleza e
compaixão, O Apicultor de Alepo é um testemunho do triunfo do
espírito humano. Contado de uma forma clara, é o tipo de livro que nos
recorda o poder das boas histórias.
Cris
A dureza da guerra e as marcas tão profundas e diversas que vai deixando, conjugada com a força e as lutas por uma realidade melhor. Deve ser uma excelente leitura.
ResponderEliminarAcredito que seja um livro super interessante de ler.
ResponderEliminar.
Abraço poético
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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