Comecei a inventar histórias antes de saber juntar as letras. Tinha um amigo
imaginário, que o meu avô baptizou de Perana, e ficava horas sozinha no quarto a brincar, a inventar, a criar. Esquecia-me do mundo e a minha mãe confessa que, muitas vezes, se esquecia de que eu estava em casa.
Quando finalmente aprendi a escrever, foi como descobrir um novo órgão vital: o órgão que me permitia dar corpo a todas as histórias e personagens que povoavam a cabeça.
Por vezes, essas histórias e personagens surgem de um episódio que aconteceu com alguém que conheço, da cena de um filme, de uma notícia de jornal. Outras vezes, são inspiradas num desconhecido com quem me cruzei na rua ou que estava sentado na mesa do lado no restaurante.
No caso do meu último romance, «Amanhece na Cidade», a personagem principal é inspirada num taxista que um dia me levou a casa e que, durante os quinze minutos que demorou a viagem, me contou, quase em lágrimas, a história da ex-mulher que o deixou.
Este livro, narrado não pelo taxista mas sim pelo próprio táxi, tem uma enorme riqueza de personagens, algumas delas também baseadas em alguém que se cruzou no meu caminho, e que passam por uma stripper que só quer juntar dinheiro, um miúdo que de repente se vê a viver como um sem-abrigo, uma vizinha metediça e um recém-licenciado que larga tudo para ir ajudar refugiados. E é precisamente esta diversidade que lhe confere um toque trágico e dramático, mas também cómico e romântico.
Gostava que este livro pudesse um dia ser lido como um breve retrato do quotidiano de uma época, que captasse um fragmento do zeitgeist desta segunda década do século XXI. E que o captasse precisamente através das pequenas histórias das pessoas comuns. Os anónimos, os que não ficam para a história, os que ninguém acha especiais, porque para todos os outros haverá os arquivos dos historiadores, dos biógrafos e dos Média. São essas as histórias que me inspiram e que quero continuar a contar.
Pode ficar a par de todas as histórias no meu blog cronicasdumafashionvictim.blogspot.pt
Filipa Fonseca Silva
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