O que importa é que não consigo viver sem escrever. Até para o meu sagrado banho de imersão diário arrasto um caderno e uma caneta. Quando olho de novo para aquelas páginas, com a tinta esborratada por um pingo de água ou porque na tentativa de ligar a água quente com o pé acabei por mergulhar uma página na banheira, penso que se um dia caírem nas mãos de alguém, daqui a muitos, muitos anos, pensarão que estava com Parkinson, de tal forma a letra é tremida (de encavalitar o caderno num joelho), e que imaginarão que chorava copiosamente...
Escrevo, também (apanhei-me a mim mesma no parágrafo anterior), na busca de eternidade. Num devaneio narcísico que nos leva sempre a imaginar que a nossa vida pode interessar a alguém.
Não admira, por tudo isto, que me considere uma pessoa cheia de sorte. Sou jornalista desde os 18 anos, “escritora” desde que publiquei aos 30 o meu primeiro livro (Guia Para Ficar a Saber Ainda Menos Sobre as Mulheres), e desde aí muitos mais: livros para adolescentes e livros para crianças, com o bónus acrescido de os escrever a meias com os meus filhos, livros sobre psiquiatras que acabam loucos, e romances de amor, que nunca seria capaz de escrever, livros para os avós lerem aos netos, e até o diário de uma avó galinha. E, paralelamente a tudo isto, descobri que era capaz de escrever um romance histórico — e com o primeiro de todos eles, Filipa de Lencastre, viciei-me na pesquisa e na descoberta da vida das nossas rainhas, biografando algumas das mais fascinantes. A cereja em cima do bolo é que há ainda muitas mais que me enchem de curiosidade... Tenho sorte, sem sombra de dúvida, e estou muito grata a quem me lê. Porque escrever é bom, mas saber que vamos partilhar o que escrevemos com os outros, é ainda melhor.
Isabel Stilwell
Adoire!
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