«Sementes Mágicas» de V.S. Naipaul, tem como personagem principal Willie Chandran, um imigrante indiano, a mesma do seu livro "Metade de uma vida", pelo qual recebeu o Prémio Nobel em 2001. Não tive oportunidade de ler este último livro e não tenho a certeza se me fez ou não falta. A história é continuação, percebe-se, da vida de Willie, indivíduo sempre insatisfeito e com dificuldades de integração, que depois de deixar a Índia para ir estudar para Londres, onde tentou ser escritor, casou, foi para África, e aí permaneceu 18 anos sem nunca ter tido vida própria. Por altura da descolonização, que o deixou indiferente, deixou a mulher e ei-lo em Berlim a viver com a irmã, continuando sem objetivos. Então a irmã persuade-o a regressar à sua Índia Natal, que renegara na juventude, para se juntar a um movimento clandestino que supostamente luta em defesa das castas inferiores oprimidas. Ele parte, mas não conseguindo encontrar as pessoas certas, acaba por se envolver e fazer parte de movimentos clandestinos cuja causa ele não compreende muito bem e que se movimentam numa Índia rural, hostil e miserável. Esta parte do livro é muito interessante porque além de transportar o leitor a lugares inimagináveis, florestas, vilas paupérrimas, lugares sem condições mínimas de sobrevivência, fá-lo entrar na mente dos companheiros de Willie ficando a conhecer as verdadeiras razões da sua opção. Nunca podem estar no mesmo lugar, por causa da clandestinidade e as operações que efetuam parecem nunca alcançar o efeito desejado. Levam uma vida de bandidos e salteadores e muitos se perguntam porque a prosseguem ao fim de 10 ou 20 anos. Uns por hábito, outros com medo da polícia, outros ainda por loucura, após tanto sofrimento. As populações passivas, pelas quais supostamente lutam acabam por não acreditar neles e até os desprezar. Têm muitas baixas e muitas dificuldades em recrutamento. O autor analisa com mestria os sentimentos e o pensamento destas pessoas, verificando que todos eles foram estudantes ou conheceram uma vida melhor nas cidades e que depois obrigados a voltar ao ambiente pobre e familiar de origem, sentem uma enorme frustração, que resulta em idealismos e rebeldia. Muitos transformam-se em psicopatas, dada a vida miserável que levam. Willie permanece neste ambiente alguns anos acabando por entrar também na clandestinidade quando é referenciado pela polícia. Sem nada que o prenda àquela luta sem fim à vista, entrega-se à polícia, julgando poder justificar-se, mas é preso. Passado tempo com os esforços da irmã e de amigos de Londres, consegue que o libertem e parte para esta cidade, que encontra muito diferente da que conhecera. Vive em casa de um antigo amigo que também não tem uma vida fácil. Arranja um emprego, faz um curso de formação e descobre a sua vocação para ser arquiteto, mas como sempre abandona a ideia. Tem agora 50 anos e sempre à deriva, continua sem encontrar um significado para a sua vida. Na última parte do livro, partindo da vida complicada do amigo de Willie, o autor aproveita para abordar as dificuldades, alienação e excessos da vida londrina na década de 80. É um livro pessimista, onde o autor observa com minúcia as grandes contradições, diferenças sociais e o fanatismo da era moderna.
Maria Fernanda Pinto
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