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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

"Arquipélago" de Joel Neto

Mal acabei de ler, senti que este livro tinha consistido para mim uma leitura muito especial. Especial na sua grandeza, na sua forma, na maneira como está escrito e como os Açores, mais propriamente a Ilha Terceira, estão descritos. Só quando terminei a sua leitura é que me apercebi da sua dimensão. Uma sensação de paz, como acontece quando as coisas se encaixam nos seus lugares de sempre, como se finalmente tudo fizesse sentido, acometeu-me.

São muitas páginas bem escritas, num tom calmo, muitas vezes descritivo mas belo. Lembrei-me muitas vezes de Stoner, um livro onde parece que nada acontece mas que somos incapazes de largar porque estamos pregados ao personagem, sentindo com ele tudo o que lhe acontece. Quem já leu o livro de John Williams sabe do que falo. E quem não leu e pensa que o que acabei de dizer é uma crítica por não ter gostado, desengane-se. Esta leitura vai ter nota máxima!

No entanto, quando a acção se processa calmamente e o ritmo é tranquilo, um soco atinge-nos. Adorei isso!
Não vos vou contar a história. Para isso têm a sinopse e para além do mais, não vos quero roubar a surpresa. Quero, no entanto, comentar aqui o quanto gostei de, no epílogo, o narrador ter mudado subitamente. A história passa a ser contada por uma personagem secundária, na primeira pessoa, e já sobre factos de um passado mais ou menos recente.

Uma das coisas que gosto muito de saber é o que está por detrás de um livro, a pesquisa. Ler os agradecimentos faz-me compreender o quanto um livro não é apenas o pegar na caneta e deixar a imaginação fluir. Neste caso, os pormenores são muitos e pode pensar-se que muitas partes do livro é apenas a imaginação do autor a trabalhar. Não é e, caso passe despercebido ao leitor, isso pode aperceber-se nos "agradecimentos".

Recomendo muito este Arquipélago para umas boas horas de leitura e de viagem à Ilha Terceira. Será que tenho mais algum livro deste autor na minha estante? Adoro por-me á procura...

Terminado em 23 de Janeiro de 2016

Estrelas: 6*

Sinopse

Açores, 1980. Uma criança desaparecida. Um homem que não sente os terramotos.
Quando um grande terramoto faz estremecer a ilha Terceira, o pequeno José Artur Drumonde dá-se conta de que não consegue sentir a terra tremer debaixo dos pés. Inexplicável, esse mistério há-de acompanhá-lo durante toda a vida. Mas, entretanto, é hora de participar na reconstrução da ilha, tarefa a que os passos e os ensinamentos do avô trazem sentido de missão.
Já professor universitário, carregando a bagagem de um casamento desfeito e uma carreira em risco, José Artur volta aos Açores. Durante as obras de remodelação da casa do avô, é descoberto um cadáver que o levará em busca dos segredos da família, da história oculta do arquipélago e de uma seita ritualista com ecos do mito da Atlântida. Mas é nos ódios que separam dois clãs rivais que o professor tentará descobrir tudo o que os anos, a insularidade e os destroços do grande terramoto haviam soterrado…
Usando a mestria narrativa e o apuro literário dos clássicos, bem como um dom especial para trazer à vida os lugares, as gentes e a História dos Açores, Joel Neto apresenta o romance Arquipélago, em que a ilha é também protagonista.

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