Mal acabei de ler, senti que este livro tinha consistido para mim uma leitura muito especial. Especial na sua grandeza, na sua forma, na maneira como está escrito e como os Açores, mais propriamente a Ilha Terceira, estão descritos. Só quando terminei a sua leitura é que me apercebi da sua dimensão. Uma sensação de paz, como acontece quando as coisas se encaixam nos seus lugares de sempre, como se finalmente tudo fizesse sentido, acometeu-me.
São muitas páginas bem escritas, num tom calmo, muitas vezes descritivo mas belo. Lembrei-me muitas vezes de Stoner, um livro onde parece que nada acontece mas que somos incapazes de largar porque estamos pregados ao personagem, sentindo com ele tudo o que lhe acontece. Quem já leu o livro de John Williams sabe do que falo. E quem não leu e pensa que o que acabei de dizer é uma crítica por não ter gostado, desengane-se. Esta leitura vai ter nota máxima!
No entanto, quando a acção se processa calmamente e o ritmo é tranquilo, um soco atinge-nos. Adorei isso!
Não vos vou contar a história. Para isso têm a sinopse e para além do mais, não vos quero roubar a surpresa. Quero, no entanto, comentar aqui o quanto gostei de, no epílogo, o narrador ter mudado subitamente. A história passa a ser contada por uma personagem secundária, na primeira pessoa, e já sobre factos de um passado mais ou menos recente.
Uma das coisas que gosto muito de saber é o que está por detrás de um livro, a pesquisa. Ler os agradecimentos faz-me compreender o quanto um livro não é apenas o pegar na caneta e deixar a imaginação fluir. Neste caso, os pormenores são muitos e pode pensar-se que muitas partes do livro é apenas a imaginação do autor a trabalhar. Não é e, caso passe despercebido ao leitor, isso pode aperceber-se nos "agradecimentos".
Recomendo muito este Arquipélago para umas boas horas de leitura e de viagem à Ilha Terceira. Será que tenho mais algum livro deste autor na minha estante? Adoro por-me á procura...
Terminado em 23 de Janeiro de 2016
Estrelas: 6*
Sinopse
Açores, 1980. Uma criança desaparecida. Um homem que não sente os terramotos.
Quando um grande terramoto faz estremecer a ilha Terceira, o pequeno José Artur Drumonde dá-se conta de que não consegue sentir a terra tremer debaixo dos pés. Inexplicável, esse mistério há-de acompanhá-lo durante toda a vida. Mas, entretanto, é hora de participar na reconstrução da ilha, tarefa a que os passos e os ensinamentos do avô trazem sentido de missão.
Já professor universitário, carregando a bagagem de um casamento desfeito e uma carreira em risco, José Artur volta aos Açores. Durante as obras de remodelação da casa do avô, é descoberto um cadáver que o levará em busca dos segredos da família, da história oculta do arquipélago e de uma seita ritualista com ecos do mito da Atlântida. Mas é nos ódios que separam dois clãs rivais que o professor tentará descobrir tudo o que os anos, a insularidade e os destroços do grande terramoto haviam soterrado…
Usando a mestria narrativa e o apuro literário dos clássicos, bem como um dom especial para trazer à vida os lugares, as gentes e a História dos Açores, Joel Neto apresenta o romance Arquipélago, em que a ilha é também protagonista.
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