A opinião da Fernanda é para ter em conta. Já me habituei às suas opiniões certeiras e nem me passa pela cabeça não as seguir...
"Sou, desde o primeiro romance editado em Portugal, fã incondicional de Sveva. Dela li tudo o que em português se publicou e tenho todos os seus livros. Escritora de vastíssima obra publicada em Itália, dela apenas nos chegam os títulos mais recentes e muito poucos dos mais antigos.
Mister Gregory é o seu mais recente romance. Um romance imperdível para fãs, mas também um belo romance para quem não conhece.
Pela primeira vez o personagem principal é um homem, o que não quer dizer que a trama difira muito em relação a outros em que a protagonista é uma mulher. De uma constância tranquila, Sveva é um valor seguro para passar bons e descontraídos momentos. Depois de um ou dois romances, para mim, menos conseguidos, Mister Gregory leva-nos de volta ao universo Sveva.
Em Mister Gregory vamos conhecer a história de Gregorio Caccialupi, de pobre camponês do Polesine italiano a dono de um império hoteleiro. Vivemos a sua credulidade e confiança num amigo, que o levará à ruína e acompanhamos o seu regresso à riqueza através de uma herança.
Da Itália dos anos 30, a miséria dos camponeses e a vida sob o poder do Duce até ao sonho americano, a euforia do período entre guerras e o pós-guerra nos dois continentes, aflorando a vida do braço americano da Máfia, e, sobretudo, o glamour da vida nos grandes hotéis e a construção de um império, Mister Gregory transporta-nos através do séc. XX.
Um personagem com uma história de sonho apenas possível num romance, onde os deuses parecem conspirar para a sua felicidade, uma atmosfera de encantamento pautada por fortes apontamentos sobre a realidade dos tempos que, mesmo romanceados não deixam de nos causar impacto.
Deste livro extraí três frases que considero admiráveis e que, no caso da primeira, apesar de ser proferida nos anos 40 está absolutamente actual.
“A banca é um instrumento de progresso social e civil. Quando deixa de o ser, como aconteceu connosco em 1929, a humanidade precipita-se no abismo. (…) No dia em que o dinheiro deixar de ser um instrumento de progresso social, civil e moral, o homem perderá a sua dignidade e, com ela, a vida.” (pp. 332-333)
“(…) Com essa tal sensatez, Colombo nunca teria descoberto a América, Jesus não teria andado pelo mundo a pregar o Evangelho, e eu agora seria um velho camponês do Delta, cheio de reumatismo e com as costas desfeitas. (…) A prudência é filha dela e caminha em bicos de pés, tal como o medo.” (p. 447)
“(…) Sabes, houve um tempo em que eu tive pena de muitas coisas… coisas que me faltaram… Um casamento de vestido branco, um marido por quem esperar à noite com o jantar na mesa, a travessa de massa ao domingo, alguns filhos a correr pela casa, as férias na praia, no verão… O mundo muda, mas as mulheres continuam sempre iguais.”
Um romance que aconselho para acompanhar uma bela chávena de chá numa tarde chuvosa de inverno…
Boa leitura!"
Fernanda Palmeira
Pronto!!! Mais um para a lista não é??
ResponderEliminarParabéns Fernanda, conseguiste aguçar o apetite ao pessoal!!!
Bjs
Teresa Carvalho