"Quem sou eu?
O meu nome completo é José Carlos Augusto Moreira, que é um jeito que me ficou mais ou menos desde o meu baptismo. Aliás, o meu baptismo foi uma festa muito linda, ao que dizem, que eu não me lembro de nada, o que se compreende, dada a minha tenra idade. Note-se, tenra idade, aquela em que fui baptizado, não tem nada a ver com a idade actual, que nada tem de tenra, antes pelo contrário.
Completei, em Março findo, os meus primeiros cinquenta anos de vida, aos quais temos de juntar IVA à taxa de 36%. Pelo caminho, fui sendo garoto de rua, estudante calaceiro, empregado comercial, militar e, finalmente, polícia. De investigação criminal, é bom que se diga. Aposentei-me como Inspector-chefe da Polícia Judiciária, instituição que servi como pude e soube durante trinta e três anos. Provavelmente pude pouco e soube pouco, mas foi o que se pôde arranjar.
Um dia, alguém, já não recordo quem, e é bom que não recorde, para salvaguarda da integridade física desse alguém, dizia eu que alguém me disse que eu tinha jeito para a escrita. O que é grave, convenhamos, uma vez que eu estava a formar a minha personalidade e, nessas alturas da vida, há que ter muito cuidado com o que se diz aos adolescentes. Mas se foi grave o terem-me dito isso, o que foi ainda mais grave foi que eu acreditei.
Bom, o certo é que, já na polícias, alguns dos meus relatórios chegaram a andar de mão em mão, assim como as pombinhas da Catrina, não pela profundidade literária mas, principalmente, pelo tom irónico, muitas vezes sarcástico, que eu punha nos meus escritos. “Eh, pá, o gajo tem cá uma caneta, que cuidado com ela! Já leste isto?” até parecia que não havia mais nada que fazer, que a criminalidade estava controlada.
Bom, vou abreviar, que os leitores não me fizeram mal nenhum.
Quando me aposentei tive tempo, finalmente, para acabar o meu primeiro romance, que já tinha iniciado, e que jazia em estado vegetativo entre os “bytes” do meu computador. Foi dado à estampa em 2005, e chamava-se “O Retrato de Judite”. Policial de ficção, com um cheirinho de autobiografia. Seguiram-se mais três, a saber “Não Há Crimes Perfeitos?” e “Enquanto As Armas Falavam”, pelo que “O Alfa das 10 e 10” é o meu livro mais recente. O número quatro. Convém esclarecer que é o único romance completamente ficcionado, fruto completo da minha fecunda imaginação, como eu faço questão de alertar os leitores, uma vez que os anteriores, embora ficcionados são baseados em factos reais.
Pelo caminho, vieram dois prémios, obtidos em outros tantos concursos literários.
Há gente que não aprende…"
José Carlos Augusto Moreira
Passatempo, ainda hoje, com um livro deste autor!!!
Cris
Gostei! Parabéns ao entrevistado e à Cris por nos dar a conhecer os nossos bons escritores!
ResponderEliminarTeresa