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domingo, 27 de fevereiro de 2011

O remorso de Baltazar Serapião de Valter Hugo Mãe


Edição/reimpressão: 2009
Páginas: 174
Editor: Quidnovi
ISBN: 9789896280628

Nem sei como começar. Do princípio, dizem vocês! Pois, mas este livro tem tanto para dizer e, ao mesmo tempo, ficamos sem palavras, ou melhor, as palavras amontoam-se umas em cima das outras e não querem sair!


É-nos retratada a Idade Média: os Senhores das terras, suas vontades e ordens; a violência que era obedecer a essas mesmas ordens; o único papel das mulheres nessa altura, a procriação, papel igualado ao dos animais de estimação; a violência doméstica devido ao ciúme doentio; as superstições e as bruxarias e sua influência no dia a dia; a beleza vista como uma maldição, pois atraía predadores sexuais.


Não é um livro de leitura fácil, nem sequer isento de críticas. As palavras nele contidas são duras, fortes, pesadas. Exige uma leitura atenta, concentrada porque nos perdemos, tantos são os pormenores, tanta é a riqueza, tanto ao nível gramatical como de conteúdo.

Com uma escrita corrida, os pontos e as vírgulas são, de tal forma invisíveis, que não se dão por eles. Não vi maiúsculas nem pelos pontos de interrogação... Será que os havia? Este tipo de escrita pede mais de nós e exigiu-me um lugar sossegado, sem ruídos de fundo. Voltei muitas vezes a trás para reler algumas partes, pelo tipo de escrita e pela linguagem utilizada. 

Gostei. Não é definitivamente um livro para toda a gente. Mas, será que o são todos?


Terminado em 25 de Fevereiro de 2011


Estrelas: 4*


Sinopse


Numa Idade Média, os feudais abusam dos seus direitos. Baltazar, o protagonista deste romance, foi criado com a pobreza e com a violência numa família em que a vaca - animal de estimação - parece, afinal, ter tanta importância como a mãe. Porém, no meio da escuridão, Baltazar vê a luz: Chama-se Ermesinda e é a mais bela a ajuizada da aldeia. E o casamento acontece como uma bênção dos céus, preparando-se Baltazar para a educação esmerada da sua esposa, uma vez que as mulheres, já se sabe, são ignorantes e, também por isso, muito perigosas. Mas eis que, ainda quase não houve tempo para os dois se conhecerem, o senhor põe os olhos em tão bela e apetecível criatura. E logo reclama que a mesma o visite todos os dias pela manhã, quando dona Catarina, a mulher, ainda descansa... O que se passa nesses encontros ninguém sabe, mas o que Baltazar adivinha mortifica-o e enlouquece-o. 
Escrito numa linguagem que pretende representar a língua arcaica e rude do povo ignorante medieval, O remorso de Baltazar Serapião é um romance sobre o poder sinistro do amor e uma metáfora inegável da violência doméstica que ocupa notícias nos jornais.

5 comentários:

  1. Fundamentado em seu texto e sinopse, pareceu-me que Hugo Mãe fez pela literatura de Portugal com este livro aquilo que Raduan Nassar fez pela literatura brasileira com "Lavoura Arcaica" - uma metáfora poética que vale a leitura. Há, inclusive, a semelhança de serem ambas as histórias narradas por filhos de famílias bíblicas às avessas. Nassar usou para isso as relações familiares interditas do Velho Testamento. Hugo Mãe, a sacralidade em estado puro dos bárbaros, arriscando-se a exprimir pela boca de Baltazar uma mensagem criptocristã de autopiedade - a começar pelo discurso inaugural, em que a voz das mulheres emerge das profundezas onde mora o diabo. O mundo camponês de Portugal, afinal, não se diferencia muito das sociedades agrárias de suas ex-colônias.
    Beijo e abraços de afeto

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  2. Luiz, não conheço esse autor brasileiro. Fiquei curiosa!

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  3. Cris, fiz uma postagem sobre "Lavoura Arcaica" na Egrégora: Carrancas Literárias, incluindo fragmentos do texto e do filme. Dê uma passadinha lá e confira.
    Beijos

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  4. De Valter Hugo Mãe apenas li “a máquina de fazer espanhóis” e está na minha lista dos 10 melhores livros que li até hoje. É, quanto a mim, um grande promessa da literatura nacional.

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  5. Tiago, tb li A maquina...confesso que gostei mais, achei esta leitura mais difícil.

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