Antes de mais quero alertar-vos para a necessidade (vossa, não minha!) de lerem o primeiro livro desta autora, "Cai a Noite em Caracas", porque é deveras fabuloso e repleto daquela “droga boa” que nos impele a ler sem nunca querer poisar o livro! Eu gostei mesmo muito. Podem ler a minha opinião aqui.
Este é também muito forte, pelo tema tratado, mas o anterior ficou-me no coração pela surpresa inesperada que foi lê-lo. Este "O Terceiro País" tem como pano de fundo um problema que afeta cada vez mais o mundo em que vivemos, as migrações. Angústias Romero, junto com o seu marido e seus filhos gémeos prematuros, recém nascidos, procura fugir do seu país. O local nunca nos é referido, e esse foi um ponto de que senti falta porque gosto de localizar geograficamente os acontecimentos reais ou ficcionados. Mas se pensarmos bem, não é necessário, pois não? Porque esta história pode decorrer em tanto lado!
Os pequeninos gémeos não resistem à viagem e Angústias procura um sítio seguro, preferencialmente calmo, para os enterrar. Por isso leva-os consigo numa pequena caixa. O ambiente descrito é de guerra, fome e devastação. A escrita de Karina é crua, certeira e dura. Na sua viagem encontra Visitación Salazar, responsável por um cemitério ilegal que as autoridades pretendem destruir. Uma amizade estranha nasce entre estas duas mulheres. Ambas estão sozinhas e juntam forças para combater a corrupção, embora não possuam meios para tal.
Gostava de poder afirmar que este livro é uma distopia. Um mundo inventado. Mas os pormenores relatados fazem-nos acreditar e visualizar toda a violência descrita nesse mundo cruel sem compaixão onde conseguimos, por comparação com os relatos que assistimos hoje em dia, imaginar bem o horror por que passam os migrantes. Que faríamos em situações limite para sobreviver?
No entanto, aqui e ali, um toque de esperança.
Capa lindíssima. Recomendo.
Terminado em 30 de Setembro de 2023
Estrelas: 5*
Sinopse
Angustias Romero e o marido fogem da peste, a caminho das montanhas e da ansiada segurança no país vizinho; levam, atados às costas, os dois filhos ainda bebés. À sua volta, apenas miséria, calor e poeira. Os gémeos não sobrevivem à viagem, e Angustias é abandonada pelo marido. Na fronteira, Angustias chega ao Terceiro País, um cemitério ilegal vigiado pela mítica Visitación Salazar. Contra a oposição dos barões da droga e da violência, a coveira garante aos sem-terra um último local de descanso.
É aqui que Angustias encontra finalmente lugar para os filhos. Determinada a ficar sempre perto deles, junta-se a Visitación na sua luta, num lugar onde a lei é ditada por quem empunha as armas, e o tempo é marcado pelas festas e os misteriosos brinquedos que alguém deixa na campa das duas crianças. O perigo e a violência ameaçam implodir a qualquer momento, esbatendo os limites entre a vida e a morte.
N’O terceiro país, história poderosa de fuga e esperança, Karina Sainz Borgo mistura com mestria o mistério e a realidade, a tragédia clássica e a narrativa contemporânea, confirmando a sua pertença à vibrante nova geração literária latino-americana.
Cris
Acredito que seja um livro muito interessante de ler
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Saudações cordiais e poéticas.
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Depois de ler a publicação, fiquei com muita curiosidade em conhecer esta autora.
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