Uma forma diferente de apresentar o texto que à primeira vista poderia parecer mais difícil de entrar na leitura e que me surpreendeu muitíssimo porque foi precisamente o contrário. A musicalidade com que esta autora colocou nas palavras e nessa forma de escrita é fantástica e muito original. Ao falar nisso com uma amiga ela referiu que o seu livro do "Pássaro" é escrito também assim. Está visto que tenho de lhe pegar brevemente!
E o conteúdo? Fiquei encantada com esta história. Narrada pela personagem principal que recorda a sua infância conturbada dentro de uma família disfuncional, este livro é para ser lido com sofreguidão! Fala-nos de abandono e de maus tratos de diferentes tipos e perpetrados pelos pais mas com uma subtileza e leveza que intriga e surpreende. Júlia não conhece outra forma de vida, a comparação com as poucas colegas suas amigas fá-la ficar surpreendida. O carinho, o toque amoroso de pais para filhos não fazem parte da sua vida. Bem pelo contrário, as agressões da parte de quem a devia proteger, são frequentes e qualquer motivo é razão para surras valentes. E, no entanto, o despreendimento como ela nos relata isso, magoa o leitor atento, é quase como se isso não fosse importante, a sua vida é assim, nada há a fazer! Da mãe recebe agressões, do pai, ausências de afeto.
A escrita torna-se o seu refúgio.
A junção da forma com o conteúdo neste original romance é de mestre! Tão, mas tão bom! Não há palavras que exprimam a minha surpresa e contentamento. Leio para encontrar obras assim, é o que vos digo!
Terminado em 21 de Setembro de 2023
Estrelas: 6*
Sinopse
Com o talento capaz de conjugar numa única frase opostos como beleza e feiura, sofrimento e afeto, leveza e violência, Aline Bei conquistou uma legião de fãs com O Peso do Pássaro Morto, surgindo como uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea. Neste novo romance, a autora consolida o seu estilo único — que explora habilmente ritmo, imagens e forma narrativa — e constrói uma trama inesquecível sobre autodescoberta, amor e trauma. A protagonista é Júlia, uma jovem que chegou à vida adulta tentando juntar os cacos de um relacionamento destroçado: a sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto o pai não suporta a ideia de ter sido casado. Ela cresceu sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto e, pouco a pouco, tenta desvencilhar-se da bagagem emocional familiar. Entre lembranças da infância e da adolescência — que moldaram quem ela é — e sonhos para o futuro — que podem ajudá-la a tornar-se quem ela quer ser —, Júlia ensaia a sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento dos seus pais que lhe traz marcas indeléveis. Ao longo desse processo, ora consolador ora angustiante, ela encontra uma série de personagens que a ajudam a enfrentar a solidão e dar sentido à sua história: uma dona de pensão, um pugilista aposentado, uma proprietária de um café e um misterioso escritor. Com a sensibilidade poética que captura a beleza, até mesmo dos sentimentos mais dolorosos, Pequena Coreografia do Adeus é um romance emocionante que examina o poder devastador das relações humanas — e das possibilidades de encontrar ternura onde menos se espera.
Cris
É tão bom quando encontramos uma história que nos prende tanto e que nos faz querer descobrir mais do/a autor/a.
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