Escrita cuidada, algo poética, trama que desperta interesse passada em três épocas temporais diferentes - 1959 em Lisboa, 1964 em Moçambique e 1991 entre Lisboa e Moçambique. Atrevo-me a dizer que a linguagem utilizada tem as cores e sons dessa terra africana, de quem lá viveu. Capa que traduz na perfeição o texto do seu interior.
O livro fala-nos dos erros que cometemos e da melhor ou pior forma como lidamos com eles. Daniel culpa-se de desatenção e do acidente que provocou a morte de sua filha. Depois de muita dor, de disparate atrás de disparate, foge para um lugar recôndito em Moçambique. Tudo lhe passa ao lado, nada o faz voltar à vida. A vida encarrega-se de lhe povoar os dias com gente boa e com amor que não sabe reconhecer.
Em relação aos sons que transbordam das palavras, este livro possui outra particularidade que o faz ainda mais musical: o autor é pioneiro na junção da literatura com a música. Os seus livros possuem um QR Code e o leitor vai ouvindo os temas que o músico/escritor compôs para esse efeito.
Um twist inesperado surpreende o leitor, embora outro aspecto da trama nos indique o final.
Fiquei muito curiosa e vou ler o seu livro mais recente, "Os flamingos também sonham".
Frase escolhida: "Tentei dizer-lhe que o inferno não está no mal que nos acontece, mas no mal que fazemos com ele."
Terminado em 25 de Julho de 2023
Estrelas: 5*
Sinopse
Depois do sucesso da inauguração do Metropolitano de Lisboa, Daniel Stoffel, responsável financeiro do projeto, parece poder escolher o futuro que quiser. Porém, a morte da filha num acidente estúpido enche-o de uma culpa que de não se consegue libertar. Desfeito o casamento, começa a afundar-se na bebida, até que um amigo lhe sugere que deixe Portugal, onde tudo aconteceu, e tente recomeçar a vida noutro lugar. Instala-se, então, num lugar recôndito de Moçambique, onde uma velha negra o ajuda nas tarefas domésticas e lhe leva jornais que o põem a par dos movimentos independentistas das Colónias e das mudanças por que a Metrópole vai passando.
Apesar da vontade de ficar sozinho, o frondoso embondeiro que o protege da curiosidade alheia tem uma frase riscada no tronco que parece traçar-lhe um destino diferente, insistindo na paternidade que lhe estava destinada. E, por mais que Daniel a renegue, é nesse caminho que poderá encontrar o próprio perdão.
Belo, duro, mágico e ternurento – com uma banda sonora exclusiva e um toque africano no colorido das palavras e das paisagens –, Lugar para Dois é um romance excecional sobre a culpa, o amor e aquilo que ainda tem para dar quem julga que, afinal, já perdeu tudo.
Cris
Parece muito interessante.
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