A nota do autor, logo no início das primeiras páginas, faz referência a um massacre em S. Tomé e Príncipe, em Fevereiro de 1953, do qual nunca tinha ouvido falar. Se calhar nem vocês... O massacre de Batepá. Pela conversa boa a que tive o privilégio de assistir num grupo de leitura da Leya, o autor estava também entre aqueles que não tinham conhecimento de tal barbárie.
Se quiserem saber um pouco mais pesquisem aqui (wikipedia/link). Os mortos, estimados entre 200 a 1000 pessoas, foram sujeitos a torturas elétricas e afogamentos cometidos pelas tropas coloniais portuguesas. Na tentativa de reprimir o povo africano de uma suposta conspiração contra os portugueses, o Governador Geral de então desencadeou uma repressão que teve lugar nesse massacre. Na base e como principal motivo, estava o desejo de angariar mão de obra barata por parte do Governador e latifundiários. Este massacre pode ter sido o ponto de partida desta história mas não pretendeu relatá-lo amiúde.
A escrita do autor é deliciosa. Apetece ler em voz alta para a podermos saborear melhor. Os sons e os cheiros da trama, os trejeitos da linguagem, a originalidade.
Dois espaços temporais diferentes habitam neste romance. Um, numa aldeia portuguesa, outro, em S. Tomé. Xavier Sarmiento pertence aos dois. Com um comportamento antagónico, Xavier parece possuir em si duas personalidades diferentes que se apoderam dele consoante os diferentes espaços. O bom e o mau. Em ambos, um sentimento de pertença mesclado de incerteza. Em Portugal ele cura, em África, mata.
O final deste livro é polémico para quem já o leu. Confesso que queria mais. Mas, nao dou de todo o tempo perdido, antes pelo contrário! Já há muito que não lia nada assim tão espantosamente bem escrito. Com uma cadência única. Prémio Leya bem atribuído.
Terminado em 28 de Maio de 2022
Estrelas: 5*
Sinopse
Em 1980, é encontrado em Berlim um caderno que relata a
descoberta, em terras portuguesas, de uma jazida de ouro, segredo que
levará o leitor aos anos da Segunda Guerra Mundial, à exploração de
volfrâmio e à improvável amizade de um engenheiro alemão com o jovem
Xavier Sarmiento, que descobre ter o dom de curar e se fascina com a
ideia de Poder. É a sua história, de curandeiro e mágico a temido chefe
das milícias, que acompanharemos ao longo do romance, assistindo às suas
curas e milagres, bem como aos amores clandestinos e à fuga
intempestiva para África.
Percorrendo episódios da vida portuguesa ao
longo de cinco décadas – das movimentações na raia transmontana durante
a Guerra Civil de Espanha à morte de Francisco Sá Carneiro –, As
Pessoas Invisíveis é também a revisitação de um dos eventos mais
trágicos e menos conhecidos da nossa História colonial: o massacre de um
grande número de nativos forros, mostrando como o fim legal da
escravatura precedeu, em muitas dezenas de anos, a sua efectiva
abolição.
Entre realismo e magia, Poder e invisibilidade, ignomínia e
sobressalto, o presente romance, de uma maturidade literária exemplar,
foi o vencedor do Prémio LeYa em 2021.
Cris
Acredito que seja um livro com uma narrativa muito interessante de ler
ResponderEliminar.
Cumprimentos cordiais … um dia feliz
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Plenamente de acordo. Um romance que merece destaque e divulgação. Prémio Leya que me deu imenso gozo ler e que é enriquecedor quando remete para um passado recente.
ResponderEliminarNão conhecia este livro. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarInteressante publicação!
ResponderEliminar.
Coisas de uma Vida
Beijos e uma boa noite
Também nunca tinha ouvido falar no massacre. Obrigada pela sugestão.
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