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domingo, 10 de julho de 2016

Ao Domingo com... João Leal

Escrevo porque gosto de criar histórias que ainda ninguém imaginou e do
processo de as tentar escrever do modo mais eficaz possível. Acho que entreter alguém é uma tarefa nobre. Gosto do contrato invisível que se estabelece entre o escritor de ficção e o leitor, em que o primeiro propõe um pequeno mundo que o segundo decide aceitar mesmo sabendo que não é a realidade.

O Terra Fresca nasceu numa tarde anónima de fim de semana em que assisti na Internet a uma troca de argumentos acerca de uma questão que divide teólogos há 500 anos. No final dessa acalorada discussão acerca da Predestinação, surgiram-me duas questões. « E se existisse alguém com possibilidade de criar outras pessoas a partir do nada? E se esse criador pudesse definir os pensamentos das suas criaturas, pensando estas que mantinham o livre-arbítrio?»

Pensei então em alguém que, sem o saber, tivesse nascido com essa capacidade e surgiu-me a imagem de uma rapariga a escrever, desesperada, no jardim de um chalet em plena Serra de Sintra.

Vivi com os personagens do Terra Fresca durante quatro anos. Pensei neles várias vezes ao dia e à noite tentava escrever. Entretanto, cá fora, na minha vida, as coisas iam mudando. Nasceu a minha terceira filha, desapareceram-me pessoas importantes, aconteceu-me algo inesperado que desfez o modo como encarava a vida e mudei de cidade. E, enquanto tudo isso ia acontecendo, os personagens lá estavam à minha espera, sempre prontos a avançarem quando eu os ia buscar a esse lugar que a ficção habita dentro de mim, sempre prontos a serem passados para o ecrã do computador ou para a superfície da folha de papel.

Para grande surpresa minha, surgiu, num desses momentos de casting, um dos personagens principais. O meu irmão Daniel não sobreviveu ao nascimento prematuro com 7 meses de gestação. Era três anos mais novo do que eu e sempre me questionei sobre como teria sido a minha vida se ele tivesse nascido e crescido connosco. Mudei-lhe o nome para David, convidei-o para a história, fi-lo conhecer a família Alonso e acabou por ser fundamental para o enredo do Terra Fresca.

Porque escrevo? Porque preciso de exercitar a imaginação. Percebo que poderá não ser tão nobre ou fundamental como outras razões que escritores apresentam. Escrevo para o leitor que sou, não para o escritor que sou.

João Leal

1 comentário:

  1. "Escrevo porque gosto de criar histórias que nunca ninguém imaginou... escrevo para o leitor que sou" Revejo-me 100% nestas palavras e que escritora sou eu comparada com João Leal?

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