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sexta-feira, 24 de março de 2017

"A Serpente do Essex" de Sarah Perry

Este livro manteve-me expectante quase até metade das suas 400 páginas. Confesso até que um pouco duvidosa sobre o prazer que iria retirar da sua leitura. A Serpente de Essex? O título fez-me lembrar imediatamente algo irreal e acredito que escrever sobre monstros marinhos e suas lendas não deva ser tarefa fácil porque pode-se cair em efabulações que, particularmente, não me entusiasmam muito. No entanto, isso não se verificou de todo! O livro é de fácil leitura, com uma escrita atractiva.

A acção remete-nos para Inglaterra, por volta de 1890. Através da caracterização dos personagens a autora faz um retrato muito real da era vitoriana. A ideia que tinha sobre esta época é que seria uma sociedade pródiga em moralismos, preconceitos rígidos e proibições severas em que o papel da mulher era bastante limitado, claro. Ora, Cora, a personagem sobre a qual gira a acção, foge bastante ao esteriotipo de como deveria comportar-se a mulher na altura. Cora começa verdadeiramente a viver depois da morte de seu marido. Sentia-se aprisionada, limitada nos seus gestos, ignorada, reprimida e é com uma alegria que quer conter, ou pelo menos não mostrar abertamente, que assiste ao terminus do seu casamento e altera toda a sua vida. Um pouco excêntrica tanto na sua forma de vestir como nas suas ideias muda-se, com o seu estranho e distante filho e uma amiga para Colchester onde se depara com alguns rumores sobre a serpente de Essex e com alguns habitantes de uma aldeia próxima bastante sui generis.  A autora, quanto a mim, soube caracterizá-los ao pormenor e com mestria o que me despertou um interesse crescente.

Assim, lentamente, os personagens foram-se-me entranhando. Gostei particularmente das descrições dos procedimentos médicos no que concerne, por exemplo, ao tratamento e investigação da tuberculose e também, dos relatos das dificuldades sociais vividas pela população mais pobre.

O desenrolar dos acontecimentos adensa-se e, se tinha algum receio inicial de não gostar desta leitura, ele desvaneceu-se totalmente. A floresta, os pântanos, o denso nevoeiro muito bem descrito; a crescente empatia com os personagens; a forma como é descrita toda uma população que reage e sobre-reage a uma lenda dando outro sentido aos acontecimentos que se fazem sentir; o romance que nasce entre dois personagens, que sendo importante, não cai no erro comum de dominar a história, tudo isto fez-me estar presente no local e na época. E isso é o que nós, leitores, procuramos quando pegamos num livro, não é? Estar dentro da leitura, pertencer à história que estamos a ler...

Gostei particularmente do final que não poderei considerar como "aberto" mas sim de "subentendido". Como se o livro terminasse com reticências e não com dois pontos e muito menos com um ponto final.

Depois de acabar as últimas páginas tive vontade de pesquisar sobre esta lenda da serpente que dá título ao livro e de que não tinha ouvido falar. Existiu realmente todo este temor que chegou a condicionar a vida de algumas pessoas? E isso é outra das coisas que me faz ser uma leitora ávida: aprender, pesquisar, conhecer. 

Por tudo isto posso afirmar-vos que gostei muito desta leitura e que a recomendo!

Terminado em 18 de Março de 2017

Estrelas: 4*+

Sinopse
Londres, 1893. Quando o marido de Cora Seaborne morre, a viúva inicia uma nova vida marcada ao mesmo tempo por alívio e tristeza.
Não teve um casamento feliz e ela própria nunca se adequou ao papel de mulher da sociedade. Acompanhada pelo filho, Francis - um rapaz curioso e obsessivo -, troca a cidade pelo campo de Essex, onde espera que o ar fresco e os grandes espaços lhe proporcionem o refúgio de que necessita.
Quando se instalam em Colchester, chegam-lhe aos ouvidos rumores de que a Serpente do Essex, conhecida por em tempos ter percorrido os pântanos na sua avidez de colher vidas humanas, regressou à aldeia de Aldwinter. Cora, naturalista amadora sem interesse por superstições ou questões religiosas, fica empolgada com a ideia de que aquilo que as pessoas da região tomam por uma criatura sobrenatural possa, na realidade, ser uma espécie ainda por descobrir. Quando decide iniciar a sua investigação é apresentada ao vigário de Aldwinter, William Ransome. Tal como Cora, Will sente uma desconfiança profunda em relação aos boatos, que considera um fenómeno de terror de caráter moral e um desvio da verdadeira fé. Enquanto Will procura tranquilizar os paroquianos, inicia-se entre ele e Cora uma relação intensa; apesar de os dois não concordarem a respeito de nada, são atraídos e afastados um do outro inexoravelmente, a ponto de isso modificar a vida de ambos de formas inesperadas.
Escrito com uma delicadeza e uma inteligência cheias de requinte, este romance é sobretudo uma celebração do amor e das muitas formas que ele pode assumir.

2 comentários:

  1. Oi Cris,
    Estava a aguardar a tua opinião. Já tinha sido cativada pela capa, agora o conteúdo também promete. Tenho aprendido a gostar das leituras que dão muito mais do que o enredo. A parte de conhecimentos, nomeadamente históricos, é algo que enriquece bastante um livro.
    Já está na minha lista.
    Beijos.
    Cláudia

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    Respostas
    1. Ola Claudia! Espero que gostes. O misterio da serpente aqui fica em segundo plano, acho, tal é a força de alguns personagens!

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