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sábado, 31 de outubro de 2015

Na minha caixa de correio

  

  

 


Da Editorial Presença chegou a minha próxima leitura: O Arquiteto de Paris.
500 Erros Mais Comuns da Língua Portuguesa recebi da Esfera dos Livros.
Sem esperar recebi um livro juvenil e Caderno de Actividades ...
Ofertado pela Planeta recebi Saudade.
Comprado numa superficie comercial, A Flor de Lótus, o primeiro de uma trilogia.
Da Marcador recebi, A Morte de um Apicultor (que comecei hoje e espero ainda terminar antes do final do dia) e A Ilha das Mil Fontes.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Novidade Manuscrito

O Livro do Pão
de Ângela Silva
Ângela Silva é uma apaixonada por fazer pão. Depois de uma carreira em Publicidade, decidiu seguir a sua paixão e fundar a padaria Miolo, onde todos os dias fabrica pão biológico. Neste livro, a autora partilha o seu saber, truques e dicas para que também você possa fazer o seu próprio pão de forma simples, saudável e prática. 
Desde os pães básicos como o pão de espelta, centeio ou kamut, até aos enriquecidos, como o de cevada e girassol, passando pelos pães para pequeno-almoço e lanche, como o de granola, Ângela Silva ensina-lhe ainda a fazer pão para dietas alternativas, sem glúten ou sem sal, e pães a pensar nas crianças, como o pão mármore ou o pão de banana. Encontra ainda receitas deliciosas de gressinos e massa de piza. Tudo sem aditivos, e excluindo fermentos industriais e o trigo comum. 
Neste livro, a autora explica-lhe também os benefícios das farinhas biológicas e da fermentação natural e ensina, passo a passo, como fazer o seu fermento natural, como misturar, amassar e cozer o seu próprio pão no forno ou na máquina.
O pão produzido industrialmente não tem qualquer interesse nutricional. Basta olhar para os rótulos para ver que estão carregados de vitaminas, enzimas e aditivos criados artificialmente, além de quantidades excessivas de fermentos químicos, responsáveis por problemas digestivos e intolerâncias alimentares. 
Com este livro, pode fazer pão para toda a família. Delicioso. Biológico. Caseiro. 
Saudável. Vamos pôr as mãos na massa?

Novidade Topseller


Novidade Marcador

Kaya África
de Adelaide Passos
Quando, no princípio do século XX, Sara abandona uma pequena aldeia no Norte de Portugal para se juntar ao marido, José, em Moçambique, inicia-se também a epopeia de uma família ao longo de três gerações, uma aventura que espelha a história do país através da vida daqueles que arriscavam tudo num território tão generoso quanto cruel. Kaya África é um romance ambicioso e de fôlego, histórico e familiar, sobre a vida dos portugueses em África.

Novidade Planeta

Eu fui a Espia que amou o Comandante
de Marita Lorenz
São poucas as pessoas que podem dizer que viram passar uma parte importante da história do século XX ante os seus próprios olhos. Não como meros espectadores, mas quase que a devorando. 
Marita Lorenz é uma delas. 
Nasceu na Alemanha em 1939, nas vésperas da invasão da Polónia. O seu pai, alemão, era capitão de barcos; a sua mãe, americana, tinha sido actriz. 
Em criança, foi enviada para um campo de concentração – Bergen-Belsen. Pouco depois de terminar a guerra, aos sete anos, foi vítima de violação.
Embarcou com o pai várias vezes nos anos seguintes. Em 1959, a bordo do Berlin, aportou numa Havana revolucionária. Um grupo de barbudos, encabeçado por Fidel Castro, subiu a bordo. 
Foi amor à primeira vista. Uma semana depois, el Comandante mandava buscá-la a Nova Iorque e fazia dela sua amante. Tinha dezanove anos. Logo descobriu que estava grávida, mas submeteram-na a uma intervenção cirúrgica e o bebé não chegou a nascer... ou pelo menos foi o que lhe contaram.
A CIA convenceu Marita de que Fidel era o responsável pelo sucedido e enviaram-na de volta a Havana com a missão de o assassinar, mas ela não foi capaz de o fazer: continuava apaixonada por ele.
Tudo isto pode parecer suficiente para preencher duas vidas, mas há mais. De regresso a Miami, conheceu o ex-ditador venezuelano Marcos Pérez Jiménez e teve uma filha com ele.
Em Novembro de 1963 viajou de Miami a Dallas numa comitiva que integrava Frank Sturgis, um dos detidos no Watergate, e um tal de Ozzie, ou seja, Lee Harvey Oswald. 
Mais tarde foi party girl da máfia nova-iorquina e informante da polícia. Casou-se e teve um filho com um homem que espiava diplomatas soviéticos para o FBI.
A história de Marita teve luzes e sombras.
Mas é sobretudo uma história de amor e de perigo. 
A de uma espia que acima de tudo e apesar de si própria, amou el Comandante.

Novidade Booksmile


Novidade Vogais

Sete Mares
de Johanna Basford


Sete Mares é uma aventura deliciosa pelos oceanos, repleta de ilustrações encantadoras às quais deve dar cor e vida. Há muito por descobrir, desde delicadas tranças de algas marinhas até jardins de coral e magníficos navios naufragados! Ao longo deste livro irá encontrar muitos seres que aguardam pela sua imaginação e criatividade: sereias encantadas, peixes exóticos, caranguejos, polvos e búzios. Não existe aventura sem tesouro, claro: por isso, se pesquisar com cuidado poderá encontrar, espalhados pelas páginas, arcas de tesouros e artefactos preciosos. Sete Mares Inclui um poster destacável.

Novidade Presença

O Arquiteto de Paris
de Charles Belfoure
1942, Paris está ocupada pelas tropas alemãs. Lucien Bernard é um talentoso arquiteto, sem trabalho devido à guerra. Acaba de receber uma proposta que lhe pode proporcionar uma avultada quantia em dinheiro ou talvez levá-lo à morte. Tudo o que tem a fazer é projetar um esconderijo secreto para um 
judeu abastado. Um espaço tão invisível que nem o mais astuto oficial alemão seja capaz de descobrir. Lucien necessita urgentemente de dinheiro, e tentar enganar os Nazis que ocupam a sua cidade é um desafio a que ele se sente incapaz de resistir. Mas apercebe-se do perigo que isso representa. 
Valerá a pena arriscar a vida em troca de dinheiro para salvar alguém que ele afinal nem conhece? Uma narrativa cheia de ironia, intriga e emoção.

Para mais informações sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.

Novidade ASA

Condenada à Morte
de Antonella Napoli
Por sua causa, o mundo susteve a respiração. Por sua causa, o mundo mobilizou-se. Quem é esta mulher que juntou num coro de protestos e indignação o Papa Francisco, Michelle Obama e milhões de pessoas anónimas nos cinco continentes? Chama-se Meriam Ibrahim e nasceu no Sudão em 1987. A sua história deu origem a “Condenada à Morte”, escrita pela jornalista e escritora italiana Antonella Napoli, que criou o movimento #SaveMeriam para dar a conhecer o caso.
Abandonada pelo pai muçulmano, Meriam foi criada no seio da fé cristã da sua mãe. Licenciou-se em Medicina e, mais tarde, casou com Daniel, também ele cristão. Meriam nunca se considerou muçulmana. Mas, em 2013, um parente não pensou da mesma maneira e acusou-a de adultério com o argumento de que a lei islâmica não reconhece o casamento entre mulheres muçulmanas e homens cristãos.
Grávida e com um filho pequeno nos braços, Meriam foi presa e chicoteada cem vezes. Nem mesmo a sua condição impediu que os maus-tratos continuassem e, no oitavo mês da gravidez, deu à luz acorrentada. Entre as paredes da prisão e em condições desumanas, nasceu Maya, a sua linda filha. Seria de esperar que tamanha crueldade quebrasse o espírito de Meriam. Mas ela não cedeu. Não renunciou à sua fé. Como castigo, os seus carrascos condenaram-na à morte.
A indignação do mundo fez-se ouvir como nunca antes. De tal forma que Meriam foi libertada em 2014. Atualmente vive nos Estados Unidos com o marido e os dois filhos. “Condenada à Morte” é a sua história, contada pela jornalista e escritora italiana que criou o movimento #SaveMeriam (http://savemeriam.org), onde o seu caso foi divulgado ao Mundo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A Escolhado Jorge: Terra Fria

"Terra Fria" é a mais recente reedição das obras de Ferreira de Castro (1898-1974) que desde 2013 a Cavalo de Ferro tem trazido novamente ao público depois de "Emigrantes", "A Missão", "A Experiência" e "A Selva".
Publicada inicialmente em 1934, "Terra Fria" constitui uma das obras mais emblemáticas de Ferreira de Castro apresentando, no entanto, algumas características que diferem um pouco da maioria das suas obras canónicas.
A narrativa desenrola-se maioritariamente na aldeia de Padornelos, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real, Trás-os-Montes profundo, já muito próximo da fronteira espanhola. Não esquecendo as duras condições de vida dos trabalhadores da região que se dedicavam de um modo geral à agricultura e à pastorícia, Ferreira de Castro transpõe com rigor a cadência dessas atividades ao longo das estações do ano permitindo ao leitor compreender não só a forma de subsistência de uma das regiões mais isoladas do país, como também o funcionamento de uma das comunidades mais ancestrais com as suas tradições que lhe são próprias com vista à sobrevivência do grupo face às inúmeras dificuldades por que passavam os seus habitantes, obrigando, em certas situações, à partilha e entreajuda não só entre elementos da mesma aldeia e/ou das aldeias circundantes.
A proximidade com o país vizinho torna o contrabando uma prática recorrente dos indivíduos mais afoitos como forma de ganhar mais algum que sirva de complemento ao magro salário que mal dá para a alimentação e manter o pequeno casinhoto com más condições de habitabilidade. Embora os riscos que os contrabandistas corram com a atividade ilícita, o leitor é levado a compreender que as muitas dificuldades económicas por que passava o país e a região em particular levava as pessoas a sobreviverem de todas as formas não olhando aos perigos que envolviam o transporte de mercadorias de um país para o outro de forma ilegal.
É neste cenário de terras transmontanas com o inverno excessivamente frio e o verão muito quente que "Terra Fria" se desenvolve, culminando em tragédia. Não tanto uma tragédia de acordo com o modelo grego em que há o cumprimento de algo trágico previamente estabelecido pelo destino ("moira funesta") que nem os deuses podem alterar o curso da ação dos homens que estão presos ao seu próprio destino. Na "Terra Fria", a narrativa vai evoluindo entre o trio amoroso (Leonardo-Ermelinda-Santiago) que de certa forma se antevê no início da obra, prevendo-se um triste desfecho, trágico no mínimo. E assim acontecerá.
A estrutura da narrativa é análoga a tantas outras histórias em que Leonardo casa com Ermelinda. Leonardo trabalha no curtume de peles e Ermelinda vai trabalhar na casa de Santiago, «o americano», que regressou da América e que decidiu investir na sua aldeia natal. Se por um lado, Santiago é visto como novidade pelo facto de ter regressado à terra, o mais apetecível para a comunidade é mesmo o dinheiro que acumulou no estrangeiro durante anos de exílio, podendo de alguma forma beneficiar dos dólares ganhos por terras estrangeiras.
Se Ermelinda beneficia de um trabalho pago acima da média, há também o retorno que se traduz nos jogos de alcova entre Santiago e Ermelinda que rapidamente é seduzida não só pela graciosidade da maneira de estar diferente do seu patrão-amante em comparação com Leonardo, o seu marido que é um homem rude, mas trabalhador.
Ermelinda rapidamente se envolve emocionalmente com o patrão que também tudo faz para a seduzir à semelhança do que fazia com outras jovens das aldeias limítrofes sendo, pois, essa a sua fama que corria em Padornelos.
As estações do ano vão passando e Ermelinda continua a ir de manhã para casa de Santiago, regressando ao final do dia para o seu marido Leonardo até que algo na história toma lugar alterando o curso da narrativa e, consequentemente, a vida de cada um dos personagens, culminando então em tragédia.
A tragédia no romance "Terra Fria" não é atribuída aos caprichos do destino na medida em que o leitor sabendo que poderá acontecer algo funesto, vai acompanhando o desenrolar da história na sequência de um conjunto de decisões tomadas pelos principais personagens. Aqui a morte é o resultado de um ressentimento que se acumula transformando-se em ódio. O ressentimento nietzschiano transforma-se em loucura incapaz de encarar a realidade com sentido e lucidez, acabando num ato atroz, ignominioso.
Enquanto que nas tragédias gregas o espetador sabe de antemão o desenlace da história, mas ainda assim fica estarrecido com a representação dos personagens e com o cenário envolvente, em "Terra Fria" o leitor tem sempre a perceção dos factos, sabe sempre onde está a verdade à medida que os acontecimentos vão tendo lugar, ficando, pois, a faltar o desenlace final que é poder provocar (ou não) o efeito surpresa.
Em "Terra Fria", cada vizinho julga ser o detentor da verdade, andando de boca em boca correspondendo em primeira instância ao zum-zum transmitido entredentes, ao diz-que-diz que rapidamente se transforma no mexerico que alimenta toda a aldeia. A pequena comunidade julga saber a verdade e é em nome dessa mesma verdade que se pretende que se cumpra a justiça.
Para estas pequenas comunidades, o cumprimento da justiça é tantas vezes associado ao "cá se faz, cá se paga", pois para pessoas com menos estudos e cultura, por vezes a necessidade de justiça urge, daí que tantas vezes se oiça em justiça pelas próprias mãos.
De forma a evitar situações que tragam desconforto e até a própria injustiça, "Terra Fria" apresenta também o antídoto face ao acima exposto, de que toda a comunidade é em parte co-responsável por certos acontecimentos, pois na medida em que os vizinhos se julgam dotados de verdade e justiça, apenas a consciência de um dos personagens é capaz de conduzir ao volte-face final da história. Assim, graças à consciência para encarar a dura verdade e as suas consequências, a justiça é cumprida e os ânimos acalmam. Também o leitor fica tranquilo porque tudo acaba em bem.

Excertos:
"- E o que vais fazer? – perguntou, com palavras macias, húmidas de uma ternura que ele próprio ignorava.
- Ainda não sei bem. Parece que é para tratar da casa, das roupas e do gado. Não sei! Mas seja lá o que for, o que é preciso é ir para a frente...
Ele não pôde dominar-se mais. Largou o sacho e, avançando para a mulher, abraçou-a, comovido como nunca se sentira depois que tinha casado.
- Ainda havemos de ser muito felizes! Ainda havemos de ser muito felizes, vais ver!... "

"Gentes que viviam ainda sob remotas tradições, muitos habitantes de Barroso acreditavam no poder incontestável da ponte de Misarela sobre os ventres infecundos ou que não sustinham o fruto, desde que as mulheres implorantes se submetessem às práticas que os antigos aconselhavam. Essa crença estendera-se a muitas léguas de distância e até de Cabeceiras de Basto e de Braga acorriam ali candidatas a mães, na esperança de que a semente do homem germinasse. Se, apesar de tudo, útero estéril continuava, à ponte não se atribuía a culpa e sim a quem ela viera e não soubera manter as usanças necessárias para que a fecundação prosperasse. Teria sido por isso, teria sido por aquilo, os logrados e si próprios responsabilizavam pela derrota do seu intento."

"Linguareira, a «tia» Augusta semeara a novidade e logo, sob a sensação imprevista, que a todos perturbou, as gentes vieram postar-se à margem do caminho que a pecadora devia fazer. Estavam as velhas e os velhos de cara de pau, lábios repuxados para dentro, como se boca desdentada os quisesse devorar; estavam os de meia idade: elas, esguedelhadas, ludras, mas tão fiéis aos maridos que nem a miséria quotidiana lhes era tão fiel; eles, enjorcados, remendos por toda a parte, faces negras de barba e um cigarrito chupado em silêncio. E estava também a canalha miúda, atraída pela pasmaceira dos adultos e teimosa em deixar-se ficar, por muito que os pais, não querendo ruído, ordenassem a sua retirada."

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

"Vamos Pintar Juntos" de Buster Books




Desta feita usei lápis de colorir.

Não sei propriamente a razão, mas voltei à minha infância, quando passava horas a pintar e lembrei-me de muitas brincadeiras e acontecimentos que tive num país sem guerra, ainda, e onde Portugal mais não era que um ponto longínquo no mapa. O meu pensamento vagueou para bem longe e amigas da primária surgiram nos meus pensamentos. Talvez porque há poucos anos tivemos a felicidade de nos reunirmos após 40 anos sem sabermos nada umas das outras. A isso devo ao Sr. Mark Zuckerberg que, apesar dos defeitos que lhe apontam, teve o condão de juntar uma amizade há muito separada mas não esquecida.

E, se é isto que apontam como anti-stress, ao esquecermos tudo à nossa volta quando pegamos num livro assim, então o objectivo foi atingido e superado até. Os minutos passaram e, quando terminei a pintura, regressei de um lugar mágico para um lugar onde a magia acontece todos os dias, o meu lar, a minha família.

E mais folhas existem para mais viagens fazer...




O meu obrigada à Planeta pela oferta deste livro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"Vai e Põe Uma Sentinela" de Harper Lee

Tal como muitos leitores, gostei muito de "Por Favor Não Matem a Cotovia". Estava, por essa razão, muito curiosa com esta obra. Curiosa e apreensiva, sobretudo porque um livro que ficou escrito e guardado tantos anos poderia não ter a mesma força narrativa que o primeiro. O primeiro que foi publicado, entenda-se, mas que na realidade foi escrito depois deste, "Vai e Põe Uma Sentinela". Assim, em termos de escrita, este livro como primeira tentativa da autora poderia não possuir a força que tem "Por favor, não Matem...". Não foi o caso, felizmente.

Não fiz esta leitura ao sabor de comparações entre os dois livros. Já não o conseguiria fazer, mesmo se quisesse, porque não me recordo da história com todos os pormenores. São histórias que a meu ver se completam. O "Por favor..." é-nos contado por uma criança, Scout, e aos olhos de uma criança, o pai, Atticus, é um herói. Na realidade, ele comporta-se como tal e defende contra tudo e todos um indivíduo negro numa época em que brancos e negros se confrontam e onde o racismo tem uma alta manifestação de violência.

Em "Vai e Põe Uma Sentinela", Scout é já uma jovem adulta e, numa vinda a casa para passar férias, descobre que o pai não é o tal modelo que imagina. Reage com violência e toda ela entra em convulção. Defende o que lhe foi incutido em criança. Os seus sonhos caem por terra mas crescer é isso mesmo. Saber dar a volta, verificar que as pessoas não possuem só duas cores, preto e branco, e que por vezes mudam. Quem não se lembra de, em criança, achar que os pais sabem sempre tudo e nunca erram? Crescer é admitir que as pessoas são isso mesmo. Pessoas! Que erram e que alteram as suas crenças, para o melhor e para o pior. Scout cresce interiormente com essa descoberta...

Esta personagem, com todo o seu fulgor, contestação e pureza, mantém-se, nos seus traços gerais, idêntica à descrita no Por Favor Não Matem A Cotovia. Sendo a personagem central é a que está mais desenvolvida e à qual o leitor sente uma empatia directa, instantânea, quase física. No entanto, Harper Lee revela-se uma contadora de histórias em todos os sentidos já que é com paixão que os restantes personagens são apresentados por Scout, no desenrolar da história.

A narrativa prende, apaixona o leitor.

Gostei muito deste livro e recomendo-o por isso.

Terminado em 23 de Outubro de 2015

Estrelas 5*

Sinopse

Jean Louise Finch - Scout - a inesquecível heroína de Matar a Cotovia, regressa de Nova Iorque a Maycomb, a sua cidade natal no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Decorre o turbulento período de meados de 1950, numa nação dividida em torno das dramáticas questões raciais. É com este pano de fundo que Jean Louise descobre verdades perturbadoras acerca da sua família, da cidade e das pessoas de quem mais gosta, o que a leva a interrogar-se sobre os seus valores e princípios, e a confrontar-se com complexos problemas de ordem pessoal e política.

Vai E Põe Uma Sentinela, romance inédito de Harper Lee, cujo manuscrito se havia perdido mas descoberto em 2014, foi escrito antes de Matar A Cotovia e apresenta-nos muitos dos personagens dessa mítica obra, agora vinte anos mais velhos. Um livro magnífico, comovente e de grande fascínio de um dos maiores vultos da ficção contemporânea.

Harper Lee nasceu em 1926 em Monroeville, no Alabama. Frequentou o Huntingdon College e estudou Direito na Universidade do Alabama. É a autora de Matar a Cotovia, eleito o Melhor Romance do Século pelo Library Journal, em 1999, do qual já foram vendidos mais de 30 milhões de exemplares em todo o mundo. Harper Lee foi distinguida com inúmeros galardões, incluindo o Prémio Pulitzer, em 1961, e a Medalha Presidencial para a Liberdade, em 1999, pelo seu contributo prestado à literatura.

Trailer: https://youtu.be/4vNSVI9sc-g
Para mais informações ver Editorial Presença aqui.

domingo, 25 de outubro de 2015

"Um Momento Meu" de Paulo Caiado



A convite da editora Marcador tive um convite especial para participar num pequeno almoço no Altis Belém Hotel & Spa e numa conversa com Paulo Caiado, autor de Um Momento Meu, juntamente com outras bloguers, alguns membros da editora e Paula Guedes do BSpa by Karin Herzog.

Uma manhã de sábado que se revelou cheia de surpresas e um "bate-papo" muito agradável com Paulo Caiado: como surgiu o livro, as suas dificuldades, momentos marcantes do antes e depois da publicação. Confirmei a ideia com que fiquei ao lê-lo, tudo o que lá está é autobiográfico ou biográfico. Sente-se isso na leitura, tal como referi aqui no meu comentário.

 

E, quando olhámos para a mesa e vimos a oferta que o autor, muito simpaticamente, tinha preparado para cada uma de nós, ficámos maravilhadas: uma capa livro personalizada com o nosso nome bordado, uma belíssima obra de Catarina Sábio (cchandmade.withlove@gmail.com), que mereceu uma foto especial.




O evento terminou com uma rápida visita ao Spa e terraço, uma simpática oferta de um voucher para uma massagem e algumas amostras dos produtos de Karin Herzog. Um hotel que gostei muito de conhecer. Está tão bem integrado no ambiente que parece pertencer ao rio que está ali mesmo ao pé.










Obrigada Marcador, Paulo Caiado e a Paula Guedes pelos belos momentos passados! Foi um óptimo momento meu, não tenho dúvidas!

sábado, 24 de outubro de 2015

Na minha caixa de correio

  


Oferta da editora Companhia das Letras, o novo livro de Afonso Cruz que desejo muito ler, Flores.
Oferta da Topseller, As Gémeas do Gelo.
Também oferta, desta feita da Planeta, chegou-me A Minha Cor Preferida é Ver-te e Pares Difíceis.
O meu obrigado a estas editoras.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Novidade PUZ

Doodle Invasion
de Kerby Rosanes
Um livro de enorme sucesso internacional e com ilustrações de Kerby Rosanes, conta com desenhos feitos com canetas de alta precisão que, magicamente, ilustra um Mundo de doodles num total de 106 páginas em formato A4.
Os desenhos são caracterizados por linhas caprichadas, padrões, personagens e pequenos elementos que são combinados espontaneamente para criar composições enormes e complexas, que nos inspiram.

Novidade Assírio & Alvim

O Impostor
de Javier Cercas
O protagonista desta história, Enric Marco, é um nonagenário barcelonês que se fez passar por sobrevivente dos campos nazis e que foi desmascarado em maio de 2005, depois de presidir durante 
três anos à associação espanhola dos sobreviventes, de dar centenas de conferências, de conceder dezenas de entrevistas, de receber importantes distinções e de comover (nalguns casos até às lágrimas) os parlamentares espanhóis reunidos para, pela primeira vez, prestarem homenagem aos republicanos vítimas do III Reich. O caso deu a volta ao mundo e transformou Marco no grande impostor e no grande maldito. Agora, quase uma década depois, Javier Cercas persegue neste thriller hipnótico o enigma da personagem, a sua verdade e as suas falsidades. E através dessa investigação, que percorre quase um século da história de Espanha, mergulha com uma paixão de kamikaze e uma honestidade dilacerante nas profundezas de todos nós: na capacidade infinita que temos de nos enganar a nós próprios, no nosso conformismo e nas nossas mentiras, na nossa sede insaciável de afeto, nas nossas necessidades contraditórias de ficção e de realidade, nas zonas mais dolorosas do nosso passado recente. O resultado é o livro mais insubmisso e radical de Javier Cercas: um livro assombroso que, com uma audácia inédita, alarga os limites do género romanesco e explora as últimas fronteiras da nossa humanidade.

Novidade Clube do Autor

Irène
de Pierre Lemaitre
Irène é um dos mais originais e poderosos thrillers dos últimos anos. Uma homenagem à literatura policial que só poderia ser escrita por um apaixonado pelo género e por um grande escritor como Pierre Lemaitre. O autor recorre a cinco cenas clássicas de crimes - de Bret Easton Ellis a James Ellroy -para criar uma obra psicologicamente densa, surpreendente e arrebatadora.

Novidade Planeta

SAUDADE 
de Linda Holeman
Diamantina tem apenas treze anos quando o pai, um marinheiro holandês que deu à costa na ilha de Porto Santo, a abandona para ir em busca de diamantes no Novo Mundo. 
Pouco depois, a mãe, uma feiticeira e curandeira africana, adoece e morre, deixando a filha a lutar sozinha pela sobrevivência no pequeno casebre da praia onde viviam. 
Por baptizar, marcada pela feitiçaria da mãe e pelo sangue estrangeiro que lhe corre nas veias, essa luta parece condenada ao fracasso. Durante algum tempo, a segurança de Diamantina parece encontrar-se em Abílio, que partilha o sonho de partir daquela ilha. 
Contudo, Abílio é um homem sem escrúpulos, que a usa a seu bel-prazer. Se Diamantina fosse uma jovem respeitável, ele tê-la-ia desonrado. Mas ela não é respeitável e não consentirá que a desonrem. 
Orquestra a fuga da ilha mediante um casamento de conveniência com um ex-padre, Bonifácio, que se encontra mergulhado num terrível ciclo de culpa, tentação e redenção, e que aceita esta marginal como esposa e penitência, levando-a para casa do pai, num vinhedo rodeado por montanhas, na ilha da Madeira, onde ela se sente ainda mais enclausurada.
Independentemente dos obstáculos que estes homens ponham no seu caminho, Diamantina recusa-se a aceitar o seu destino e determina-se a criar a vida que deseja para si.

Convite Capital Books


Novidade TopSeller


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A Escolha do Jorge: O Sol Dos Mortos

"O Sol dos Mortos" é a primeira obra do russo Ivan Chmeliov (1873-1950) a ser publicada na língua portuguesa através da editora Relógio d’Água.
Ivan Chmeliov, estabelece-se na Crimeia em 1918 numa época em que se sentia de modo agudizado as tensões entre Burgueses (Brancos) e Bolcheviques (Vermelhos), estes últimos que perseguiram as iniciativas contra-revolucionarias do Exército Branco instaurando o poder soviético naquela região do Mar Negro.
Perseguições, execuções sumárias, expropriação de bens e terras, confiscação de tudo o que era considerado excedente (alimentos e sementes, por exemplo) por aqueles que tomavam o poder à força foram algumas das razões que levaram à redução da população na Crimeia em nome da "grande experiência" como tantas vezes é referida no decurso da obra, isto é, a consolidação do socialismo.
Além das alterações políticas e sociais que estavam em curso, junta-se igualmente o fenómeno meteorológico excecional com calor excessivo no verão de 1821 e chuvas torrenciais e muito frio no inverno e primavera de 1822 contribuindo para uma redução significativa da produção agrícola, gerando um período de fome sem precedentes na região que culminou em situações de canibalismo em casos extremos conforme ditam os registos históricos de então.
Escrito em 1923 quando Ivan Chmeliov já se encontrava no exílio em Paris, "O Sol dos Mortos" é um livro cru tanto quanto violento graças às imagens que provoca no leitor. O autor produziu uma narrativa extremamente rica tanto quanto realista, de um realismo quase extremo, diria, ao ponto de chegar a magoar face às perseguições, execuções, humilhações, encarceramentos e tudo o mais que advém como consequência de toda uma população ser esmagada a todos os níveis.
Ao longo da leitura, foram várias as vezes que me recordei do conto "O Capote" (1842) de Nikolai Gógol (1809-1852), um dos contos que mistura realismo com fantasia com o objetivo de alcançar algum sentido de justiça após cometida a atrocidade ao personagem principal. Não diria que esse personagem seja um herói dado que ao longo de toda a história é ele próprio um sofredor dada a sua realidade e condição, sofrendo ainda mais devido à austeridade severa que impõe a si próprio no nobre intuito de comprar um capote feito por medida num atelier de um alfaiate de S. Petersburgo.
Se todo o ambiente descrito no conto "O Capote" deixa o leitor condoído face à miséria quase extrema do personagem principal, em "O Sol dos Mortos" a grande maioria dos personagens vive ainda em piores condições, passando mesmo muita fome. Como forma de sobrevivência, as artimanhas em roubar os vizinhos que ainda possuem galinhas, carneiros e vacas sobrepõe-se à vergonha de pedir esmola na pequena comunidade onde se desenrola a narrativa. Outros há que a fraqueza arrasta para a morte vindo os corpos a serem encontrados dias mais tarde.
Lemos já bastante sobre crises económicas e sociais ao longo da História que têm a sua origem em alterações climáticas ou em anos demasiado chuvosos, frios e/ou secos que, em épocas mais recuadas, antes da Revolução Agrícola e Revolução Industrial, rapidamente culminavam em períodos de fome, aumentando a mortalidade. Em todo o caso, no início do século XX, a agricultura e a indústria mantinham-se atrasadas na Rússia em comparação com a Europa Ocidental, daí que um ano muito chuvoso e/ou muito seco tem um impacto direto na mortalidade. Apenas a título de registo, na Crimeia a população diminuiu 15% entre 1921 e 1923.
A par das questões acima indicadas, também a gradual consolidação do regime soviético na Crimeia contribuiu para impor à população uma austeridade sem precedentes, ao ponto de a população ser espoliada de todos os seus pertences além daquilo que os dirigentes e outros fiéis seguidores do regime entendiam como estritamente necessário para viver, que era pouco mais que nada e tudo em nome da "grande experiência" em curso, a consolidação do socialismo.
"O Sol dos Mortos" retrata em certa medida aquilo que mais tarde se veio a concretizar em toda a URSS tendo como base o socialismo que não olhou a meios para atingir a sua finalidade, nem que para isso fosse preciso eliminar tantos opositores quantos os que se tivesse conhecimento ou suspeita, sobretudo no período em que Estaline esteve à frente dos desígnios da URSS até 1953.
Ivan Chmeliov dá voz aos oprimidos, a todos aqueles que chegaram ao fim da linha, da vida, tantas vezes em pele e osso, ao ponto de retratar com bastante rigor a miséria por que passava a população, mas também os animais, a natureza envolvente. Tudo e todos estão a morrer ante "a grande experiência" que aos poucos se afirma, uma máquina que a todos engole, sem clemência. O sol que tantas vezes é referido no curso da narrativa, ludibria, engana, esconde-se. Aqui é correto afirmar que quando o sol nasce não é para todos. Aqui o sol chega a ser tão negro quanto a noite invernal, pois, aos poucos, a todos condenará, invariavelmente, mais tarde ou mais cedo.
Citando Ivan Chmeliov "Prestai atenção (…), senhores lá de fora, com o vosso bem-estar, as vossas sábias filosofias e o interesse científico pela grande experiência com as cobaias humanas: isto aqui não é só a nossa desgraça… um belo dia pode acontecer que…" (introdução, p. 9)

Excertos:
"- Já ouviu falar do caixão original que lhe construí? – sorri o doutor, estreitando os olhos. – Lembra-se de um móvel triangular, de canto, que tínhamos na sala de jantar, pesado, de nogueira? Guardávamos nele a compota de damascos… dos nossos próprios damascos. Ah, que compota! (…) Pois, o móvel tinha uma portada de vidro que se fechava à chave… Francamente, nada pior do que um caixão! Tirei o vidro, tapei-o com tábuas. Porque tem de ser obrigatoriamente hexaédrico?! O triedro é mais simples e é simbólico: três em um! Sob os lados prendi cavaquinhos, para segurar, ficou perfeitamente cómodo! Comprar um caixão é impossível para mim, ora, alugado… Agora alugam os caixões, até ao cemitério! Lá, esvaziam-nos… Não: Natália Semiónovna era perfeitamente asseada, e como se trata de uma espécie de leito eterno… não ia depois ocupar o lugar de algum comedor de gatos com doenças venéreas, ou pior! Já é diferente ser coisa nossa, ainda por cima com cheiro à nossa compota preferida!..." (pp. 61-62)

"- Qual é a sua ocupação agora, doutor?...
- Estou a pensar. Penso: tanto material! E que contributo para a história… do socialismo! Coisa estranha: os teóricos, os fabricantes de palavreado não fizeram nem um preguinho para a vida, não limparam nem uma lágrima à humanidade, embora na boca não tenham outra preocupação que não seja a felicidade de toda a humanidade. Afinal, que seita sanguinária! Repare também: isto está apenas no início, estão apenas a ganhar gosto! Com o seu deus terreno! O principal foi que acalmaram os homens: se provêm do macaco, então toma lá o mandato! Qualquer piolho tem direito a agir destemidamente e sem restrições. Ei-la, a Grande Ressurreição… os piolhos! Olhe só que parábola! Parábola vitoriosa!" (pp. 77-78)

"- Já podemos criar uma nova filosofia da realidade irreal! Uma nova religião da «ausência da vida de lixeira»… quando os pesadelos se transformam em realidade e nos habituamos a eles de tal modo que o passado nos parece um sonho. Não, é inexprimível!" (p. 80)

"Na subida, vejo um velho alto, de capucho, com o xaile pelos ombros a agasalhá-lo, com uma cesta e um bordão comprido.
- Ivan Mikháilitch?!
- Meu querido!... Meu caro... - diz lastimosamente, e lança-me os seus olhos moribundos, que já choraram todas as lágrimas. - Ando a apanhar migalhas... Na padaria tártara estão a cortar pão... as migalhas caem... apanhei um punhado, vou comê-las com água fervida... Seria bom aquecer-me com chazinho... Aqueço a casa com a cómoda, a última... Ainda tenho as gavetas, com os materiais sobre Lomonóssov, com fichas de apontamentos... quatro gavetas muito boas! Não as posso... são materiais da histórias da língua... Estou a acabar o último livro... de acordo com o plano... todos os dias trabalho desde o amanhecer, quatro horas. Estou a enfraquecer... Vou à cozinha soviética, as cozinheiras praguejam... às vezes dão-me sopa, mas não há pãp... Os professores prometeram farinha... mas eles próprios não a têm..." (p. 200)


Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

"A incrível Viagem do Faquir Que Ficou Fechado Num Armário Ikea" de Romain Puertolas

A INCRÍVEL VIAGEM DO FAQUIR QUE FICOU FECHADO NUM ARMÁRIO IKEA, de Romain Puértolas, é, no mínimo, uma história insólita, muito divertida, que dispõe bem o leitor, mas que não deixa de chamar a atenção, seriamente, para os graves problemas atuais da imigração ilegal, uma das preocupações mais pertinentes da atualidade. A crítica à atuação das autoridades relativamente às situações angustiosas que se lhes deparam está bem presente, bem como às mafias do tráfico humano. São chamados "os últimos aventureiros do nosso século", os que sacrificam tudo para tentar entrar num país mais estável e alcançar uma vida melhor.
A personagem principal é um faquir indiano de fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante, que toda a vida sobreviveu enganando as pessoas com os seus truques de magia, mas que ao longo desta história e ao vivenciar tantas peripécias sonha em tornar-se uma pessoa melhor, o que vem a conseguir. Deixa a Índia e parte para França com passaporte legal e visto para o espaço Schengen, financiado pelos seus conterrâneos a quem consegue enganar uma vez mais, com o fim de comprar numa loja IKEA, em Paris, uma nova cama de pregos que vira em promoção numa revista. Chegado ao aeroporto burla o taxista, de etnia cigana, que o conduz à loja e que o virá a perseguir até ao final feliz da história. Como a cama de pregos só estará disponível para entrega no dia seguinte e o faquir não tem dinheiro para hotéis resolve passar a noite no Ikea. A dada altura vê-se obrigado a esconder-se num armário o qual, por azar, irá ser transportado num camião para Inglaterra. No camião viajam vários clandestinos. Assim, chegados a Inglaterra, o faquir, embora com passaporte válido, é tratado como os outros ilegais e são todos repatriados para Barcelona, pois a postura das autoridades é enviá-los para o mais longa possível, porque sabem que em breve eles irão tentar novamente passar a fronteira. E, assim, começou o seu deambular que o levou até à Líbia.
No Aeroporto de Barcelona encontra o taxista francês, personagem secundária que protagoniza cenas bastantes divertidas, que o ameaça com uma faca, pelo que se vê obrigado a fugir dentro de uma mala. No porão do avião que o levará a Roma ele começa a escrever na sua própria camisa o seu primeiro romance, que com a ajuda da dona da mala virá a ser publicado e lhe dará não só a independência económica, como lhe permitirá ser uma pessoa melhor e solidária, como passou a desejar ser a partir do momento em que se relacionou com os imigrantes ilegais e se questionou sobre a sua própria vida.
É um livro leve, inteligente, original, onde não está ausente a caricatura, séria o bastante quando o assunto assim o determina, sendo a personagem principal muito interessante e muito bem descrita.
Curiosa a personagem do inspetor inglês de ascendência indiana, que trata o faquir de forma tão dura. Há uma passagem em que ele comenta que provavelmente os pais do inspetor também viajaram clandestinos para que hoje ele tenha uma boa vida.
O percurso do indiano e seus comentários pela loja IKEA são interessantes para quem o já tenha feito.
Gostei muito e diverti-me.

Maria Fernanda Pinto

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"Peregrino" de Terry Hayes

Fabuloso! Um livro que dá gosto ler de tão bem engendrado que está!
Já comecei a lê-lo há bastante tempo (o meu obrigada à Topseller por este exemplar de avanço que tão inesperadamente chegou às minhas mãos!) mas as suas 880 gr impediram-me de o transportar diariamente comigo. A minha caminhada diária, a bem da minha saúde física e mental, era incompatível com O peso destas 650 páginas, pelo que só o conseguia ler ao fim do dia...
Aproveitando este fim de semana, e porque a vontade de conhecer a história era muitaaaaaa, fiz uma maratona literária e... Uff! Finalmente consegui sossegar a minha crescente necessidade de ler este livro. Brilhante, brilhante mesmo! Um enredo de cortar a respiração, sobretudo nas últimas 100 páginas, onde a inteligência do autor nos transporta para pormenores e ligações "que não lembram o diabo"!
Um agente secreto (Peregrino) que sonha um dia poder assumir uma identidade de alguém com uma vida comum, possuidor de uma forte intuição e inteligência, mas conseguindo ser suficientemente sensível e implacável ao mesmo tempo, conta-nos como alguém (Sarraceno) agindo sozinho, engendrou um plano para espalhar o virús da varíola pelos Estados Unidos e saciar, assim, a sua sede de vingança.
Contar a história, para além de impossível, não é o meu desejo nem hábito sequer. Entre múltiplos assassinatos, desejos de vingança e traição, histórias de coragem e valor passadas no 11 de Setembro, somos catapultados para a Turquia, para os EUA e tantos outros lugares, que estamos constantemente a viajar por mentalidades e hábitos diferentes e sítios diversos, tentando absorver o máximo de informação possível com o intuito de permanecer alerta e descobrir quer os assassinos quer a solução deste espectacular triller. Participamos das descobertas efetuadas pelo agente secreto e temos também conhecimento das acções do terrorista, fazendo-nos espectadores privilegiados, mas mesmo assim incapazes de nos colocarmos à frente do enredo descobrindo o que as páginas seguintes têm para nos contar.
Os capítulos pequenos trazem consigo uma alucinante e espectacular viagem cheia de suspense que qualquer leitor vai adorar! Recomendo! Sai dia 26 deste mês!
Terminado em 18 de Novembro de 2015
Estrelas: 6*

domingo, 18 de outubro de 2015

Ao Domingo com... Hugo Ernano

Três e minutos e meio

Passaram anos e continuo a sonhar, de noite, com o que aconteceu. Uma, duas vezes por mês. Em alguns períodos acontece todas as semanas, noutras alturas não sonho com nada. São dois sonhos diferentes. Num desenrola-se tudo como naquele dia. Vejo-me como que a flutuar em cima do carro-patrulha e revejo a perseguição, muito devagar, quase em câmara lenta. Observo todos os movimentos e faço tudo igual ao que fiz naquele dia. Analiso meticulosamente se fiz bem ou mal, tento questionar se poderia ter feito de outra forma. O detalhe do sonho é tanto, que acordo exausto. E o desfecho é igual ao desfecho real, mas sinto sempre que não poderia ter actuado de outra maneira. Acordo quando a carrinha já está parada à entrada do Largo da Igreja e com ele nos meus braços. Exactamente como aconteceu.

Outras vezes, o sonho é completamente diferente. E muito pior. Revejo-me na perseguição e sei que tenho de travar a carrinha. Se não conseguir que ela pare, serei responsável pelo atropelamento de dezenas de crianças no largo. Vejo-me também de cima, como que a flutuar. Observo-me no carro-patrulha, a tentar fazer de tudo para
impedir o avanço da carrinha, mas o que tento não funciona. Quando disparo aos pneus, a arma encrava. Outras vezes, a arma até dispara, mas a bala sai sem força e vejo-a a cair, lentamente, à minha frente. Enquanto isso, a carrinha avança, progride e eu entro num desespero e numa incapacidade atrozes. Morre tanta gente. Vejo os cadáveres e sinto-me, impotente e incapaz. Falhei. Não consegui evitar as mortes. Acordo suado, sobressaltado. E não tenho vergonha de admitir que já acordei a chorar.

Quase nunca consigo voltar a adormecer. Às vezes a Daniela dá conta. Outras vezes levanto-me sem que ela acorde. Tranco-me na cozinha, abro a janela para apanhar ar. Já me aconteceu não conseguir respirar. Sei que faça o que fizer, isto vai acompanhar-me. E acompanhar-me-ia sempre, fosse qual fosse o desfecho da história. De certa forma, a minha vida parou naquele dia.

Esta é uma homenagem a todos os que me acompanharam neste percurso, desde 2008, e aos polícias que passaram, e ainda passam, pelo que eu passei e continuo a passar.

Hugo Ernano

sábado, 17 de outubro de 2015

Na minha caixa de correio

 
  

 

Oferta da Marcador: A Elizabeth Desapareceu e Os Números Que Venceram os Nomes.
Da Esfera dos livros chegou-me Natural, O Grande Livroa da Cozinha Vegetariana.
Quando Eu Era Invisível foi comprado na apresentação do livro no El Corte Inglês. Incrível!
Os restantes quatro livros ganhei nos passatempos do JN e Ionline.