o norte-americano Derek B. Miller como um nome a seguir. O escritor vive actualmente em Oslo onde decorre a parte fulcral da narrativa e, tendo em consideração a sua experiência profissional, assim como o seu olhar como estrangeiro, devolve ao leitor uma perspectiva interessante, talvez mais isenta, no que concerne à forma de vida dos noruegueses, o seu quotidiano, os principais problemas que identifica na sociedade, tanto entre pares, como na relação com os imigrantes, que nos últimos anos se tem assistido ao seu aumento.
Este romance em particular, ao contrário de outros romances policiais, não apresenta uma narrativa vertiginosa, apresentada num ritmo alucinante, com crimes hediondos, tanto quanto a mente humana é capaz de imaginar. Em “Um estranho lugar para morrer”, a narrativa decorre segundo a cadência normal dos dias em que os personagens se movem nos seus afazeres, entre o trabalho e o ócio e as suas preocupações.
A obra tem como ponto nevrálgico a vida do judeu octogenário Sheldon que deixou Nova Iorque para viver com a sua neta Rhea e o seu marido Lars, em Oslo, pelo facto de viver sozinho e de lhe terem sido diagnosticados os primeiros sintomas de demência.
Numa narrativa circular, ficamos a saber que Sheldon participou na Guerra da Coreia, do mesmo modo que incentivou o seu filho Saul a participar na Guerra do Vietname, onde acabou por perder a vida. Vivendo com um sentimento de culpa na medida em que sentiu que a causa nacional foi colocada à frente de qualquer outra razão, Sheldon nunca conseguiu expiar essa culpa que surge sempre espelhada ao longo desta narrativa.
Surge, entretanto, um crime envolvendo um grupo de libertação do Kosovo com ramificação em Oslo. Um grupo que inicialmente era reconhecido por várias instituições internacionais como uma organização válida e credível, mas que, com o passar dos anos, rapidamente se transformou num grupo terrorista que não olha a meios para atingir os seus objectivos que se afastaram da ideia da criação de um estado independente da Sérvia.
Sheldon protege uma criança na sequência de a sua mãe ter sido brutalmente assassinada, decidindo assim, resgatar a criança das mãos do grupo terrorista. Proteger e libertar a criança constitui, para Sheldon, uma forma de expiação face à perda do seu próprio filho. Se as guerras da Coreia e do Vietname nada diziam aos americanos e muito menos aos judeus, também a guerra nos Balcãs pouco lhe dizia, porém é o princípio que agora é importante: resgatar uma vida, salvar uma criança, reconciliando-se consigo próprio.
Se por um lado a narrativa decorre com relativo interesse ainda que não se trate de uma obra que agarre por completo o leitor e, ainda menos, quem seja ávido deste género de romances, por outro lado, parece-me totalmente exagerada toda a parte da narrativa em que Sheldon decide proteger a criança do grupo terrorista. Temos afinal um octogenário com problemas de demência que acabou de chegar a um país estrangeiro e que agarra literalmente numa criança que também fala outra língua, conseguindo ludibriar as pessoas nas ruas e as autoridades, escondendo-se por assim dizer das garras dos inimigos…
A questão central do livro constitui em si mesma a grande falha da narrativa. Se por um lado, o autor consegue dotar o leitor com informação interessante sobre a Noruega, vista por alguém de fora que vive no país, mencionando situações que noutras obras de autores de policiais nórdicos não acontece, a questão da inverosimilhança acabou, por outro lado, por destoar e corroer o romance.
Texto da autoria de Jorge Navarro
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