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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A convidada Escolhe: "Crónica do Pássaro de Corda"

"Crónica do Pássaro de Corda", Haruki Murakami, 1997
Este foi, talvez, dos livros ultimamente lidos, aquele que demorei mais tempo a ler e a digerir.

No entanto, a parte final foi lida vorazmente como se quisesse chegar ao fundo do poço!

Aliás, o tema do poço, a necessidade de a personagem principal se recolher, se afastar, se abstrair de tudo e de todos para melhor se conhecer, é recorrente neste livro. E o fundo de um poço é para ele o melhor sítio.

Este livro, o primeiro que li deste autor japonês foi-me emprestado e vivamente aconselhado por uma amiga. Começa-se a ler e uma história banal de Toru Okada – o senhor Pássaro de Corda – um jovem habitante da cidade de Tóquio, recém-desempregado cujo gato desaparece e que mais tarde é abandonado pela mulher sem que se perceba o motivo, transforma-se numa história labiríntica com a introdução de diversas personagens invulgares. Aparentemente sem vontade própria, Toru entrega-se-lhes e é comandado por elas, mas há um momento em que ele toma as rédeas da sua vida e decide procurar a sua mulher Kumiko, de lutar por ela e pelo seu amor.

Pelo meio, surgem relatos por vezes assustadores de histórias da guerra e das atrocidades a ela associadas. Houve momentos em que tive de parar na leitura, tal a crueza ou a falta de ar que a descrição transmitia. É, de facto, um livro muito visual, muito à flor da pele, perturbador e invulgar.
Muitas vezes ao ler me questionei se tudo aquilo não seria um sonho, ou um pesadelo, ou uma sequência de sonhos com personagens que surgem e desaparecem sem deixar rasto e que aparecem muitas folhas mais tarde, quando pensávamos que já tinham desaparecido de vez.

Por isso houve um momento em que tive a necessidade de desvendar aquele enredo de personagens que entram e saem na vida do jovem Toru, de chegar ao fim do livro. De chegar ao fundo do poço. É uma história surreal, perturbadora e em minha opinião demasiado longa. Gosto pouco de fazer um julgamento definitivo sobre um/a autor/a, a partir apenas de um livro, daí que sinta necessidade de ler mais obras deste autor japonês muito apreciado e com milhares de leitores em todo o mundo.

Almerinda Bento

7 comentários:

  1. Olá Cris, Gostava de fazer uma pergunta à Almerinda Bento: mesmo não querendo fazer julgamento sobre o autor, gostaria de saber se a opinião é positiva ou negativa. É que fiquei com a impressão de que se trata de um livro muito complexo e profundo, o que seria à partida bom, mas quando refere história demasiado longa, fico com a sensação de que, não obstante a qualidade, a sua complexidade associada à sua extensão o torna numa obra maçadora. Compreendi bem?

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  2. Olá Cláudia, obrigada pelo seu comentário e pela sua questão. Acontece que o livro me foi sugerido e emprestado por uma grande amiga e à medida que ia lendo perguntei-me várias vezes o porquê de a minha amiga e tantas pessoas serem fãs da escrita do Murakami, aliás um nome que este ano muito se dizia poder ser o Nobel da Literatura. Sinceramente, não é o meu género. O livro enreda-se por diferentes episódios, personagens estranhas, algumas cenas até perturbadoras pelo menos quanto à minha sensibilidade. Talvez seja uma questão da cultura japonesa, do estilo do escritor, daquele livro em particular. A minha filosofia é: há tanta coisa boa para ler e o nosso tempo de vida está muito longe de abarcar a grande maioria do bom que há para desfrutar. Assim, porquê ler até ao fim uma coisa que não nos está a agradar? Neste caso, se fui até ao fim foi porque acreditei que a escolha que me tinha sido proposta pela minha amiga deveria fazer sentido e daí ir até ao fim. Mas, provavelmente este autor não estará nas minhas escolhas enquanto me lembrar. Sim talvez maçador. Sim, perturbador. Sim, labiríntico. Sim, estranho. Sim, demasiado longo (são mais de seiscentas páginas!). Cláudia, não a quero influenciar negativamente, pois conheço muita gente que é devoradora, adoradora de Murakami. Abraço. Almerinda

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    1. Olá Almerinda. É sempre bom sabermos as opiniões de outros que gostam de ler, não obstante por vezes terem sensibilidades e gostos totalmente diferentes dos nossos. Acho que é sempre enriquecedor. Fiquei esclarecida e curiosa, se calhar vou procurar lê-lo, sem investimento para mim, para formar opinião. Fico muito grata pelas opiniões que tem vindo a dar e pela pronta disponibilidade para a resposta. Até breve.

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