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sábado, 30 de janeiro de 2016

Na minha caixa de correio

  

  

 


Oferta de um amigo, Contos de Cães e Maus Lobos de V.H.Mãe
A Filha Desaparecida e Brunch foram ofertados pela Editorial Presença.
Milagre e Amemo-nos Uns Aos Outros chegaram da Porto Editora.
Da Esfera dos Livros vieram A Corporação Invisível e Obrigaste-me a Matar-te.
Da Quinta Essência chegou Estranhos ao Luar.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Novidade Saída de Emergência

O Aprendiz de Gutenberg
de Alix Christie
«Peter Schoeffer é um jovem ambicioso à beira de alcançar o sucesso como escriba em Paris quando o seu pai adotivo, o rico mercador Johann Fust, o convoca à cidade de Mainz para conhecer um homem extraordinário.
Gutenberg, inventor de profissão, criou um método revolucionário – há quem diga blasfemo – de produção de livros: uma máquina a que chama de prensa. Fust está a financiar a oficina de Gutenberg e ordena a Peter que se torne o seu aprendiz. Ressentido por ser forçado a abandonar uma carreira tão prestigiante como escriba, Peter inicia a sua aprendizagem na “arte mais negra”.
À medida que as suas habilidades crescem, assim também cresce a admiração por Gutenberg e a dedicação a um projeto ousado: a impressão de cópias da Bíblia Sagrada.
Mas quando forças externas se alinham contra eles, Peter vê-se num dilema entre os velhos costumes e as novas criações que ameaçam transformar o mundo. Conseguirá ele encontrar uma forma de superar os obstáculos numa batalha que poderá mudar a História?»

Novidade Bertrand

Uma mulher de coragem
de Danielle Steel
Uma inesquecível história de guerra e coragem... Annabelle Worthington tem 19 anos e nasceu em berço de ouro, na sociedade de Nova Iorque. Mas tudo se desmoronou com o naufrágio do Titanic. Annabelle torna-se voluntária e ajuda os pobres.Desiludida com o seu primeiro amor, Annabelle foge para França, arrasada pela guerra, e trabalha como enfermeira na guerra, salvando vidas. Quando a guerra acaba, começa uma nova vida em Paris, agora é médica, casada, mãe e esquece o mundo que deixou para trás. Até que um encontro inesperado a obriga a regressar a Nova Iorque, já uma mulher diferente, e a reconstituir as peças do puzzle que é o seu passado.

Novidade Clube do Autor

Rosa Brava
de José Manuel Saraiva 
Em 1368, D. Leonor Teles de Menezes, a mulher mais desejada do Reino, casa com o morgado de Pombeiro, D. João Lourenço da Cunha. O matrimónio é imposto por seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos. Mulher fora do tempo, aceita contrariada o casamento, que a melancolia da vida do campo não ajuda a ultrapassar. Por isso, decide abandonar o marido e parte para Lisboa, para gozar a vida de riqueza e luxúria que a Corte proporciona. Perversa e ambiciosa, não tem dificuldade em seduzir o jovem monarca, D. Fernando, alcançando, desse modo, o poder que sempre desejou. Mas a nobreza, o clero e o povo não veêm com bons olhos esta aliança de adultério com o Rei. E menos ainda quando a formosa Leonor Teles se envolve com o conde Andeiro... Rosa Brava é um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela, reinventa, numa linguagem cativante, uma das personagens mais fascinantes da História de Portugal.

Novidade Porto Editora

Milagre 
de Deborah Smith
Sebastien de Savin é um brilhante cirurgião cuja habilidade e arrogância representam uma mistura explosiva. No passado, um segredo obscuro foi o responsável pelo endurecer do seu coração, até que um milagre acontece. O milagre dá pelo nome de Amy Miracle, uma rapariga tímida com um emprego de verão nas vinhas da família de Savin e a última pessoa pela qual alguém como Sebastien esperaria apaixonar-se.
Um acaso junta-os: graças a Sebastien, Amy escapa de uma vida de pobreza e abusos psicológicos, adquire autoconfiança e progride numa carreira de sucesso. Graças a Amy, Sebastien reaprende a rir e desperta para o amor. No entanto, a vida real separa-os. Embora tendo passado pouco tempo juntos, a memória desses preciosos momentos assombra-os durante anos. Até ao dia em que os seus caminhos se cruzam novamente…

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Escolha do Jorge: Dora Bruder

Foi a primeira vez que li uma das obras de Patrick Modiano (n. 1945), Prémio Nobel de Literatura em 2014, e foi interessante que (re)descobri no final do ano passado o livro "Dora Bruder" da prestigiada colecção "Pequenos Prazeres" das Edições ASA, aquando da reorganização do escritório. Perdi a conta às vezes que numa ou outra livraria peguei na recente edição do livro publicado pela Porto Editora na sequência da atribuição do Prémio Nobel ao escritor. Pelas opiniões que fui recolhendo ao longo dos meses, constatei que o escritor não é propriamente consensual quanto à preferência dos leitores. Mesmo tratando-se de um livro pequeno, acabei por nunca o adquirir sem que me recordasse que já tinha uma das edições, a segunda por sinal, em meu poder. Durante as arrumações e seleção de livros, fiquei contente quando redescobri o livro estando anotado o ano de 2001 como ano da aquisição do mesmo..
Ontem decidi então pegar no livro e aventurar-me na escrita de Patrick Modiano tendo ficado bastante surpreendido com a forma como o escritor apresenta as ideias, assim como o que esteve na origem de "Dora Bruder".
Gosto particularmente daqueles livros que fazem a ponte entre a História e a Literatura, não se resumindo apenas à História meramente factual, nem ao romance pelo romance por muito que conte uma boa história. Gosto de romances que adquirem em certa medida as características dos ensaios na medida em que, neste caso em particular, a história da vida de Dora Bruder mistura-se e confunde-se com a História propriamente dita.
Livros como "Dora Bruder" fazem-me recordar os tempos dos estudos em História e, em particular, uma cadeira que muito apreciei sendo, pois, Teoria da História e do Conhecimento Histórico. É este questionar a História cujas dúvidas se mantêm que conduz ao estreito relacionamento entre os caminhos trilhados pela Humanidade e o saber histórico propriamente dito. É este contínuo questionar a vida para compreender a História e compreender de que forma os acontecimentos históricos determinam e/ou condicionam a ação do indivíduo particularmente na sua relação com o outro (família, sociedade) que gosto de ver reflectidos nos romances que mais aprecio, uma vez que nos ajudam igualmente a questionar, a refletir, sem que nos apresentem apenas uma história pela história em si mesma como a comida rápida pronta a comer.
Quando este questionar é transposto de modo contínuo em obras como "Dora Bruder", o autor consegue a proeza de apresentar um livro cuja fusão entre a História e a Literatura saia ainda mais enriquecida e, consequentemente, o leitor também.
Patrick Modiano parte de uma premissa simples apresentada na primeira página do livro, vejamos:
"Há oito anos, num velho jornal, o "Paris-Soir", datado de 31 de Dezembro de 1941, dei na página três com uma rubrica: «De ontem para hoje». Já quase no fim, li:
PARIS
Procura-se uma rapariga, Dora Bruder, 15 anos, 1m55, rosto oval, olhos cinzento-acastanhados, casaco desportivo cinzento, camisola em tom bordeaux, saia e chapéu azul-marinho, sapatos leves castanhos. Endereçar todas as indicações ao Sr. E à Srª Bruder, Alameda Ornano, nº 41, Paris" (p. 5)
Partindo deste pequeno anúncio, Patrick Modiano tenta desvendar o que aconteceu à adolescente Dora Bruder, onde vivia, quem eram os seus pais, onde estudava até descobrir as razões do seu desaparecimento.
A partir da premissa cima indicada, o autor compreende que perante uma nova descoberta, acaba por descobrir uma Paris que nalgumas situações já não existe como o caso de edifícios e ruas que já não existem, uns na sequência da 2ª Guerra Mundial, outros relacionados com a reconstrução e modernização da cidade desde a 2ª Guerra Mundial até aos nossos dias.
Este reavivar a memória histórica da cidade de Paris é outra das questões com grande enfoque em "Dora Bruder". Este escavar as entranhas de um passado que teima em se ocultar está presente em toda a obra sentindo o leitor a necessidade de trazer à luz o máximo de dados possível como forma de contributo para a construção da memória coletiva.
"Dora Bruder" reaviva a mancha negra do século XX através da força que o Nacional-Socialismo teve na Alemanha e na Áustria na década de 30 culminando com a eclosão da 2ª Guerra Mundial que vitimizou mais de seis milhões de judeus (holocausto).
Dora Bruder apesar de ter nascido em França e de ser detentora de cidadania francesa, o seu pai, Ernest Bruder, era judeu austríaco, de Viena, e a sua mãe, Cécile Burdej, também judia, era natural de Budapeste, na Hungria.
Partindo de dados biográficos concretos, o autor leva esta busca incessante até às últimas consequências, tal como se tratasse de uma obsessão transformada numa questão de dever moral na medida em que era imperativo manter viva a memória não só de Dora Bruder, mas de todos aqueles que foram vítimas do holocausto. Assim, trazendo à luz estas histórias de pessoas reais que se perderam no esquecimento levadas pelo rio do tempo constitui uma forma de manter a História viva.
Patrick Modiano procurou a rua onde vivia Dora Bruder, o colégio em que estudou, a prisão e internato por onde passou até ao derradeiro destino final que foi Auschwitz. Certidão de nascimento, registos de matrícula e de frequência no colégio, registos da Polícia do tempo da Ocupação Nazi, entre outro género de documentos, o autor tentou a todo o custo reconstruir os passos de Dora Bruder desde que desapareceu do colégio a 14 de dezembro de 1941 até ter sido internada antes da sua deportação para o campo de concentração.
A determinação do autor em reconstruir o quotidiano de Dora Bruder é notável na medida em que à beira do desespero de causa, eis que surgem novos dados, mas é precisamente nesses hiatos para os quais não há respostas que Patrick Modiano conclui que é na ausência de respostas que Dora Bruder está viva e livre de toda a perseguição e onde podia em certa medida ser feliz sem que os carrascos nazis a perseguissem.

Excertos:
"Em 1924, Ernest Bruder casa-se com uma rapariga de dezassete anos, Cécile Burdej, nascida a 17 de Abril de 1909 em Budapeste. Não sei onde se realizou o casamento e ignoro o nome dos padrinhos. Que acaso presidiu ao seu encontro? Cécile Burdej vinha de Budapeste e chegara a Paris um ano antes, com os pais, as quatro irmãs e o irmão. Uma família judia originária da Rússia, mas que se fixara sem dúvida em Budapeste no princípio do século.
Depois da primeira guerra, a vida era tão dura em Budapeste como em Viena, e foi preciso voltar a fugir para o Ocidente. Tinham ido dar a Paris, ao asilo israelita da Rua Lamarck. No mês da sua chegada à Rua Lamarck, três raparigas, com catorze, doze e dez anos de idade, haviam morrido de febre tifoide.
Será que na altura do casamento Cécile e Ernest Bruder já habitariam na Rua Liégeard, em Sevran? Ou viveriam num quarto de hotel em Paris? Nos anos que se seguiram ao casamento, e após o nascimento de Dora, moraram em quartos de hotel.
Deixaram poucas marcas atrás de si. Quase anónimas. Não se destacam de certas ruas de Paris, de certas paisagens de arrabalde onde descobri, por acaso, que haviam morado. O que se sabe deles resume-se amiúde a um simples endereço. E esta precisão topográfica contraste com o que ignoraremos da sua vida para todo o sempre – esse hiato, esse bloco de desconhecido e de silêncio." (pp. 22-23)

"E, no meio de todo este brilho e desta agitação, custa-me a acreditar que estou na mesma cidade em que se encontravam Dora Bruder e os pais, e também o meu pai quando tinha menos vinte anos que eu. Invade-me a sensação de ser o único a estabelecer a ligação entre a Paris daquele tempo e a de hoje, o único a recordar-me de todos estes pormenores. O laço adelgaça-se por momentos e parece em vias de romper-se; noutras noites, a cidade de ontem surge-me em reflexos furtivos por detrás da actual." (p. 42)

Texto da autoria de Jorge Navarro

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A Convidada Escolhe: "Mataram o Sidónio"

"Mataram o Sidónio" de Francisco Moita Flores é, como diz no livro o próprio autor, uma ficção e cito:
«Porém, é uma ficção que se fundamenta num documento decisivo, uma fonte impressa em 1921 e que é, nem mais nem menos, a autópsia do Presidente da República Sidónio Pais. É uma separata dos Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, Série B, Vol. V, e intitula-se Exames Periciais no Cadáver do Presidente da República Dr. Sidónio Pais, no Vestuário e na Arma Agressora. É assinado por Asdrúbal d’Aguiar, um dos mais proeminentes médicos legistas portugueses dos inícios do século XX. O documento que inspira este livro é citado em dezenas de trabalhos científicos, no entanto, apenas mobilizado para o aparato erudito". "O intrigante relatório forense conduziu a outras pesquisas nos arquivos do Instituto de Medicina Legal e às diversas reconstituições feitas na época pelos jornais de Lisboa.»
É uma obra com uma narrativa bastante atraente que faculta ao leitor muitos conhecimentos sobre a época em que a mesma se situa. Ao mesmo tempo é uma história de amor, onde os momentos bem-dispostos, que são imperdíveis, não lhe faltam.
A ação passa-se em 1918, ano decisivo para as ciências forenses em Portugal. É o ano da criação dos institutos de medicina legal e da criação da Polícia de Investigação Criminal-suportada por laboratórios e produzindo prova com fundamentação científica. Sidónio Pais, a pedido de Azevedo Neves, diretor da então Morgue, assinara os respetivos decretos, decisões que iriam modificar radicalmente a relação da medicina legal com a polícia e com os tribunais.
Contudo, no final de 1918 a ciência forense está a dar os primeiros passos, sendo pouco aceite nos tribunais que aplicam a justiça, que é baseada em confissões arrancadas sob tortura dos presos.
É o ano da tragédia de La Lys e, também, do Armistício que conduziu ao fim da Primeira Guerra Mundial. É o ano da "espanhola" a pandemia gripal influenza pneumónica que surge, no Portugal republicano, fragilizado e faminto, que se transformou num verdadeiro desastre que terá morto mais de cem mil pessoas, durante quatro meses.
É em plena crise desta pandemia que assolava também Lisboa, que se deu o assassinato do Presidente Sidónio Pais, cujo consulado se iniciara em dezembro de 1917, com um golpe de militar e que terminava assim em tragédia. Este assassinato permanece um mistério. A polícia havia prendido um suspeito, e tornara-se uma verdade indesmentível e absoluta para a área política também, que Sidónio Pais fora assassinado por José Júlio da Costa, muito embora as suas confissões fossem muito contraditórias. Os jornais confirmavam esta versão. Mas havia outras verdades. Os resultados da autópsia solicitada pelo juiz de instrução que verificara muitas falhas no processo, foram de tal maneira surpreendentes que anulavam completamente a hipótese de ter sido o acusado, José Júlio da Costa, o autor do crime. Este morreria 30 anos depois sem nunca ter sido julgado, o que confirma a dúvida sobre a sua culpa. Moita Flores, utilizando as técnicas forenses em que se encontra sobremaneira à vontade, reconstrói o homicídio e elabora um interessantíssimo romance, pleno de teses, aproveitando para apresentar ao leitor as mais importantes personalidades da época ligadas à medicina como Asdrúbal de Aguiar, diretor interino do Instituto de Medicina Legal em substituição de Azevedo Neves, que se encontrava, na altura, a desempenhar funções governativas, em agradecimento a Sidónio Pais, Júlio de Matos, Miguel Bombarda, etc.. Dá, ainda, uma ideia de como era, à época, a justiça e a medicina legal em Portugal.
Gostei muito.
Maria Fernanda Pinto

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

"Arquipélago" de Joel Neto

Mal acabei de ler, senti que este livro tinha consistido para mim uma leitura muito especial. Especial na sua grandeza, na sua forma, na maneira como está escrito e como os Açores, mais propriamente a Ilha Terceira, estão descritos. Só quando terminei a sua leitura é que me apercebi da sua dimensão. Uma sensação de paz, como acontece quando as coisas se encaixam nos seus lugares de sempre, como se finalmente tudo fizesse sentido, acometeu-me.

São muitas páginas bem escritas, num tom calmo, muitas vezes descritivo mas belo. Lembrei-me muitas vezes de Stoner, um livro onde parece que nada acontece mas que somos incapazes de largar porque estamos pregados ao personagem, sentindo com ele tudo o que lhe acontece. Quem já leu o livro de John Williams sabe do que falo. E quem não leu e pensa que o que acabei de dizer é uma crítica por não ter gostado, desengane-se. Esta leitura vai ter nota máxima!

No entanto, quando a acção se processa calmamente e o ritmo é tranquilo, um soco atinge-nos. Adorei isso!
Não vos vou contar a história. Para isso têm a sinopse e para além do mais, não vos quero roubar a surpresa. Quero, no entanto, comentar aqui o quanto gostei de, no epílogo, o narrador ter mudado subitamente. A história passa a ser contada por uma personagem secundária, na primeira pessoa, e já sobre factos de um passado mais ou menos recente.

Uma das coisas que gosto muito de saber é o que está por detrás de um livro, a pesquisa. Ler os agradecimentos faz-me compreender o quanto um livro não é apenas o pegar na caneta e deixar a imaginação fluir. Neste caso, os pormenores são muitos e pode pensar-se que muitas partes do livro é apenas a imaginação do autor a trabalhar. Não é e, caso passe despercebido ao leitor, isso pode aperceber-se nos "agradecimentos".

Recomendo muito este Arquipélago para umas boas horas de leitura e de viagem à Ilha Terceira. Será que tenho mais algum livro deste autor na minha estante? Adoro por-me á procura...

Terminado em 23 de Janeiro de 2016

Estrelas: 6*

Sinopse

Açores, 1980. Uma criança desaparecida. Um homem que não sente os terramotos.
Quando um grande terramoto faz estremecer a ilha Terceira, o pequeno José Artur Drumonde dá-se conta de que não consegue sentir a terra tremer debaixo dos pés. Inexplicável, esse mistério há-de acompanhá-lo durante toda a vida. Mas, entretanto, é hora de participar na reconstrução da ilha, tarefa a que os passos e os ensinamentos do avô trazem sentido de missão.
Já professor universitário, carregando a bagagem de um casamento desfeito e uma carreira em risco, José Artur volta aos Açores. Durante as obras de remodelação da casa do avô, é descoberto um cadáver que o levará em busca dos segredos da família, da história oculta do arquipélago e de uma seita ritualista com ecos do mito da Atlântida. Mas é nos ódios que separam dois clãs rivais que o professor tentará descobrir tudo o que os anos, a insularidade e os destroços do grande terramoto haviam soterrado…
Usando a mestria narrativa e o apuro literário dos clássicos, bem como um dom especial para trazer à vida os lugares, as gentes e a História dos Açores, Joel Neto apresenta o romance Arquipélago, em que a ilha é também protagonista.

Passatempo "D.Filipa de Lencastre" - Livros Horizonte

Hoje, gentilmente cedido pela editora Livros Horizonte, temos um livro de Isabel Stilwell para oferecer. Trata-se de uma reedição do seu romance histórico, D. Filipa de Lencastre, a rainha que mudou Portugal. Junto é oferecido o roteiro Pelos Caminhos de Filipa de Portugal, um percurso pelos caminhos da rainha, Inglaterra, Galisa e Portugal, feito pela escritora, com indicações de trajectos, lugares pnde ficar...
O passatempo decorre até ao dia 5 de Fevereiro.
Desejo-vos boa sorte para que possam palmilhar as folhas deste livro e ficarem maravilhados com a escrita de Isabel Stilwell.

Passatempo "Brunch" - Editorial Presença

Trago-vos mais um passatempo com a gentil colaboração da Editorial Presença. Desta feita, o livro que tenho para vos oferecer é um presente para os vossos olhos e, sobretudo, para o vosso paladar: Brunch de Joana Limão, a bloguer do Limonaid.
Se gostam de comida saborosa e saudável, corram e vão espreitar o seu blog. Concorram e ponham as mãos à obra. São receitas fáceis e muito boas!
O passatempo decorre até ao dia 31 de Janeiro.
Para mais informações sobre o livro veja Editorial Presença aqui!
Boa sorte!

domingo, 24 de janeiro de 2016

Ao Domingo com... Dud@

Toda a gente tem um sonho tresloucado que adorava seguir. O meu é conseguir ser uma grande escritora.
Desde pequena que todas as pessoas próximas de mim me chamam Duda, daí ter decidido editar com esse nome. Vivo em Sines, uma cidade industrial vizinha da aldeia Porto Covo, varanda cinco estrelas para a tão famosa “Ilha do Pessegueiro”. 
Comecei a escrever aos 12 anos, altura em que fiz da leitura um passatempo, que levava o meu pai à falência. No princípio, sentia-me satisfeita mas, à medida que o tempo foi passando, os livros que lia pareciam-me todos os iguais; eu lia para encontrar algo de novo, não para chegar à conclusão que, se quisesse, eu conseguia ter aquela mesma ideia e escrevê-la. Primeiro, embirrei com os finais; depois, com o conteúdo.
Sempre tive muita imaginação. Lembro-me perfeitamente de estar na casa da minha avó de Porto Covo e passar horas a falar com alguém. Alguém que só eu via. Hoje em dia, certas pessoas já admitiram que pensavam que eu era altista. Foi uma desilusão para elas saberem que, afinal, não passava de uma miudinha imaginativa a brincar.
Editei o meu primeiro livro com 17 anos: um simples romance mas que me deixa um sorriso nos lábios sempre que o olho. Não foi uma boa experiência. Talvez por ser muito nova, talvez por outra coisa qualquer. Contudo, continuo a ter orgulho dele. Agora chego à conclusão que podia ter sido pior.

“Elfanos – O Legado” é o meu segundo livro, primeiro de literatura fantástica. A ideia surgira-me há algum tempo atrás mas resolvi não lhe mexer logo; eu precisava de assentar bem as ideias, de passar um bom bocado a olhar para esboços de tudo um pouco para decidir por onde começar e por onde devia ir. Só quando acabei os estudos, consegui avançar.
Neste momento, estou a rever o segundo livro desta colecção, onde já conto com planos para mais 3 volumes. O objectivo é conseguir editá-lo no fim do ano. Espero conseguir! Também sou leitora e não gosto de esperar muito tempo pela continuação das sagas que leio.
Deixo-vos um bocadinho do início desta aventura à qual chamei: “Elfanos – O Legado”.

“E se estivesse a cometer um erro? E se aquilo não fosse a única opção? E se houvesse outro caminho? Teria ele o direito de fazer o que estava prestes a fazer? Que direito tinha ele de invadir a vida de uma pessoa e voltar-lhe tudo de pernas para o ar, só por causa de uma coroa e de um reino?
Basta, pensou de si para si. 
Não havia alternativas. Ele já tinha pensado o suficiente, já tinha sofrido o suficiente, já tinha perdido o suficiente. Até porque não era só ele que importava: também havia o reino, também havia as Terras Brancas, aquele castelo a que chamava casa, os aldeões lá fora a que chamava povo. Não podia simplesmente ir-se e deixá-los sós.”
Elfanos – O Legado Dud@      Capital Books

Para mais informações, podem visitar a minha página: https://www.facebook.com/DudaEscritora/

Dud@

sábado, 23 de janeiro de 2016

Na minha caixa de correio

  



Da Suma de Letras chegou-me Nós os Dois.
Oferta dos Livros Horizonte, a reedição de Filipa de Lencastre, de Isabel Stilwell. Estejam atentos porque haverá em breve um passatempo!
Comprados numa loja Cash Converters, As Cinzas do Céu e Tu Contra Mim.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Novidade Porto Editora

Amemo-nos uns aos outros
de Catherine Clément 
Em 1871, a Comuna de Paris, a mais nobre revolução que o mundo já conheceu, incendiou os corações e as ruas.
Élisabeth Dmitrieff é a enviada e representante de Karl Marx na capital francesa. Jovem, tão frágil quanto arrebatadora, recusa-se a amar algo ou alguém que não a revolução. 
Léo Frankel, revolucionário húngaro e também ele membro da Primeira Internacional, tem o sonho de construir um modelo ideal de sociedade sem exploradores nem explorados. 
Mas poderá o amor nascer na insurreição e sobreviver no coração da barricada?
Numa escrita apaixonada e de ritmo alucinante, Catherine Clément faz o retrato literário destes dias trágicos e gloriosos, «que começaram com a alegria e terminaram com o sangue», oferecendo-nos uma narrativa de esperança e de sonho, numa homenagem a todos cujas vidas foram tocadas pelo Génio da Liberdade.

Novidades Presença

Brunch
de Joana Limão


O que é o Brunch?
O hábito do brunch surge no fim do século XIX e passa de uma rotina de elites para um hábito de uma geração em pouco mais de 100 anos. Conta-se que vem dos almoços vespertinos ingleses, no intervalo de longas caçadas, em que se combinava o pequeno-almoço com o almoço. 
Cada vez vamos a mais brunches. Até já podemos provar sugestões mais ou menos completas em cafés, pastelarias ou esplanadas.
A verdade é que, às vezes, tudo o que nos apetece é ficar no conforto das nossas casas. Receber em casa é uma opção mais acessível, preparada exatamente ao nosso gosto e muito mais versátil.
Conheça um conjunto de sugestões surpreendentes e inovadoras partilhadas por Joana Limão, sobre como compor e conjugar o brunch perfeito!
Arrisque, atreva-se e inove enquanto prepara de forma divertida aquela refeição da semana pela qual todos os seus amigos e família aguardam!

Para saber mais sobre este livro, aceda ao site da Editorial Presença aqui.


A Filha Desaparecida

de Jane Shemilt
As horas passam mas Naomi não aparece. A noite avança e Jenny desespera. A filha adolescente já devia ter voltado da escola, onde participou numa peça de teatro. A vida de Jenny, uma médica casada com um neurocirurgião de sucesso, está prestes a mudar.

Um ano depois da noite fatídica, Naomi continua desaparecida. A polícia procurou em vão e os piores cenários (rapto ou homicídio) parecem hipóteses remotas. A busca obsessiva de Jenny, que não desiste da filha, sugere outra explicação: as pessoas em quem confiava e que julgava conhecer têm escondido segredos – sobretudo a própria Naomi.     

Para saber mais sobre este livro, aceda ao site da Editorial Presença aqui.

Novidade Quetzal

Não Há Tantos Homens Ricos como Mulheres Bonitas Que os Mereçam
de Helena Vasconcelos
Ema Bovary, Ana Karenina, Maria Luísa (prima de Basílio): mulheres criadas pela literatura que viram nos romances que protagonizam a sua vida corrompida pelo consumo de matéria literária. Também Ana Teresa DeWelt, a mulher do romance de Helena Vasconcelos, mergulha no universo da autora de Orgulho e Preconceito, enquanto em fundo está o retrato dos dias que correm entre Lisboa e Londres e outros lugares de Austen.
«O mundo divide-se entre as pessoas que gostam de Jane Austen e as que não gostam» diz Ana Teresa DeWelt. Ou entre estas e as pessoas que ainda não leram Jane Austen. Helena Vasconcelos conduz os leitores de qualquer dos mundos numa revisitação contemporânea de Jane Austen, através dos olhos de uma leitora, também ela, apaixonada pela escritora e convertida à literatura contra as normas vigentes do seu tempo – apesar de usar o email, o facebook, as mensagens curtas de telemóvel.

Novidade

Elfanos - o Legado
de Dud@

Joana pensa que tem uma vida normal. Até que um estranho homem aparece e desestabiliza tudo. De repente, aquilo que pensava saber sobre os seus pais não condiz com a verdade. Nem aquilo que pensava saber sobre os seus amigos mais íntimos...
Obrigada a escolher entre o seu mundo, a família mais próxima e os amigos, ou acompanhar Marcus para um lugar desconhecido e mágico, Joana vê-se numa encruzilhada que mudará definitivamente a sua vida e daqueles que a rodeiam.

Uma rapariga que é a salvação ou a maldição.
Um guarda com uma missão ambiciosa. 
Um povo desesperado por mudança. 
Uma rainha sem voz para se impor. 
Um rei iludido com uma utopia. 
Um reino dividido sem razão. 
Um grupo de amigos unido. 
Um mundo caído na guerra. 
Bem-vindo às Terras Brancas, no Reino de Elfanos, no Mundo Antigo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A Escolha do Jorge: Pudor e Dignidade

Aprecio consideravelmente a literatura nórdica com incidência nos autores da transição do século XIX para o XX e no caso específico dos escritores noruegueses não posso deixar de indicar Knut Hamsun, o meu escritor de eleição, entre outros autores que à medida que vou tendo o prazer de conhecer vão fazendo parte da família dos meus autores preferidos e que em certa medida constituem uma referência nas letras e na cultura daquelas latitudes.
Em relação a Dag Solstad (n. 1941) é um dos grandes nomes da literatura norueguesa atual, cujo nome se pode juntar a nomes como Per Petterson ("Cavalos Roubados", "Maldito seja o Rio do Tempo") e Lars Saabye Christensen ("O Meio-Irmão", "Herman", Beatles"). Para quem teve a experiência da leitura de alguma(s) das obras acima indicadas certamente teve a sensação de mergulhar num mar de emoções que chegam a tocar-nos de forma que dificilmente esquecemos alguns dos personagens e parte das histórias. O aspeto intimista, melancólico e a forma delicada em que os personagens são apresentados são características que deixam o leitor agarrado a estes livros desde a primeira página até ao fim.
A experiência com a leitura de "Pudor e Dignidade" de Dag Solstad não só reflete os aspetos acima indicados como dá a conhecer ao leitor uma forma diferente de escrita, uma escrita cujo estilo e forma de contar as histórias é bem capaz de se demarcar dos outros nomes referidos. Lendo as primeiras páginas desta pequena obra rapidamente somos confrontados com a ideia de que "isto é bom". Estranhamos de alguma forma o modo repetitivo e circular de recuperar as ideias e episódios mencionados anteriormente, mas cedo nos apercebemos que essa é a estratégia de tornar esses mesmos episódios ainda mais presentes, de modo mais vincado.
"Pudor e Dignidade" conta-nos a história de Elias Rukla, professor de norueguês há vinte e cinco anos numa escola secundária de Oslo, ensina aos seus alunos algumas das obras dos grandes nomes da literatura norueguesa, a saber, Bjornson, Kielland, Garborge Ibsen, cuja obra "O Pato Selvagem" está precisamente a trabalhar com a sua turma de finalistas. Knut Hamsun e Sigrid Undset (Prémio Nobel de Literatura em 1920 e 1928, respetivamente) também não são esquecidos por Elias Rukla nesta alusão aos grandes escritores do seu país.
A narrativa é passada apenas durante uma parte do dia e nesse mesmo período Elias Rukla revisita todo o seu passado. Partindo de um pequeno aspeto de ‘O Pato Selvagem’ de Ibsen, Elias Rukla no decorrer da sua aula com a turma de finalistas do ensino secundário vislumbrou ao fim de vinte e cinco anos o verdadeiro significado desse pequeno detalhe acabando por ter um impacto decisivo nos acontecimentos que tiveram lugar após a aula conduzindo à antevisão de toda a sua vida como uma espécie de balanço que culmina na iminente desgraça em termos profissionais e com consequências sérias ao nível familiar.
Um simples aspeto banal do quotidiano vai alterar totalmente o estado de espírito de Elias Rukla passando do seu estado calmo e melancólico ao descontrolo e raiva iminente que culmina na agressão verbal a uma aluna da sua escola. Tudo isto aconteceu porque o guarda-chuva não abriu quando Elias Rukla estava a sair da escola!
A descrição dos acontecimentos inesperados envolve de tal forma o leitor que é catapultado para aquele cenário de tensão face a um pequeno nada e que marcou toda a diferença na precipitação dos acontecimentos que se seguiram. Esta sucessão inesperada dos acontecimentos em escassos minutos na vida de Elias Rukla pode ser descrita pela passagem/transformação de três estados diferentes ‘calma-tensão-raiva’ que têm em "Pudor e Dignidade" o epicentro da narrativa.
O próprio Elias Rukla não compreende como passou de um estado ao outro, embora tenha a consciência de que a sua vida profissional e familiar chegou a uma encruzilhada. Na iminência de perder o emprego e o respeito dos alunos e colegas da sua escola, Elias Rukla toma igualmente consciência que face a uma situação insólita como a descrita, toda a sua vida pode desagregar-se colidindo com as expectativas da sua esposa que passados tantos anos de casamento decidiu investir nos estudos já com uma idade próxima dos 50 anos na medida em que o orçamento familiar apenas permitiu que Elias Rukla investisse na sua carreira profissional.
No decurso de "Pudor e Dignidade", o balanço da vida de Elias Rukla passa pela revisitação de outros grandes nomes da literatura do século XX como Kafka, Proust e Thomas Mann. A relação com cada um dos escritores foi determinante em certos momentos ou fases da vida de Elias Rukla, mas é com Thomas Mann que mais se identifica no momento. Há um momento de ouro em "Pudor e Dignidade" quando Elias Rukla inventa uma conversa com Thomas Mann ao ponto de se imaginar como um dos personagens romanescos do escritor alemão.
Se "Pudor e Dignidade" é uma viagem por alguns dos grandes nomes da literatura ocidental, é também um livro sobre a vida, sobre a angústia permanente que se pode sentir face àquilo que sabemos objetivamente na relação com os outros, mas também as dúvidas que surgem, as questões existenciais, por vezes a dor face ao que ainda não conhecemos e que tememos.

Excertos:
"Quando chegou à porta da rua, reparou que tinha começado a chover. Não muito, apenas uns chuviscos, mas o suficiente para que ponderasse se havia ou não de abrir o guarda-chuva, em todo o caso não se molharia muito durante o curto trajecto até casa. Mas uma vez que tinha trazido o guarda-chuva pela manhã, decidiu-se a usá-lo. Tentou abri-lo, mas não funcionou. Carregou no botão que o faria abrir automaticamente, mas não aconteceu nada. Voltou a carregar no botão com mais força, mas voltou a não acontecer nada. Não, só me faltava esta, pensou com amargura. Experimentou uma terceira vez, mas sem resultado. Em seguida tentou abrir o guarda-chuva à força, mas tão-pouco resultou, o guarda-chuva oferecia tal resistência que mal conseguiu que as varetas se esticassem. Nesse momento sentiu-se avassalado. Encontrava-se no pátio da Escola Secundária de Fagerborg, durante o intervalo, a tentar abrir o guarda-chuva. Mas não o conseguia. Havia centenas de alunos em redor, e alguns deles deviam tê-lo visto. Agora tinha atingido o limite. Apressou-se em direção ao bebedouro e bateu com o guarda-chuva na pedra num acesso de fúria selvagem. Bateu e bateu com o guarda-chuva contra o bebedouro, e sentiu que o metal do varão começava a ficar amolgado e que as varetas se quebravam. Isto satisfê-lo e continuou a bater e a bater. Através de uma espécie de neblina viu que os alunos se iam aproximando, lentamente, em profundo silêncio, encontrando-se agora à sua volta num semicírculo, mas a uma distância respeitosa. Continuou a bater com o já amolgado e rebentado guarda-chuva contra o bebedouro numa fúria selvagem. Quando se apercebeu de que as varetas começavam a soltar-se, atirou o guarda-chuva ao chão e começou a saltar-lhe em cima antes de usar o calcanhar para tentar desfazê-lo. Depois voltou a apanhar o guarda-chuva e a bater com ele uma vez mais contra o bebedouro – as varetas, que já estavam partidas e indomáveis de tão retorcidas, espetavam-se cada uma para seu lado, e algumas fizeram-lhe golpes tão profundos na mão que viu como o sangue começava a brotar das feridas. Estava rodeado de alunos por todos os lados, alunos dissimulados, silenciosos e com olhos arregalados. Estavam à volta dele imóveis, boquiabertos, mas ainda a uma distância respeitosa. Alguns deles tinham comida na mão, pois encontravam-se no intervalo do almoço. Como se vislumbrasse através de uma neblina, conseguiu distinguir as caras dos que estavam à frente e, parece estranho dizê-lo, de uma forma curiosamente nítida. Apercebeu-se de uma rapariga loura e crescida que o olhava admirada, tal como o olhavam dois rapazes da turma de finalistas, cujas expressões faciais, ridiculamente perplexas, aumentaram ainda mais a sua fúria. Arregalou os olhos para a rapariga loura e crescida, e gritou-lhe: Imbecil! Come a tua comida, gorda sebosa! E no mesmo instante agarrou no guarda-chuva negro e despedaçado e foi em direcção a eles de costas encurvadas. Afastaram-se para os lados quando se abeirou, afastaram-se com rapidez, de modo que pôde passar cambaleante pelo meio deles, continuar a atravessar o pátio vazio e molhado pela chuva, sair da escola e descer a Rua Fagerborg. Livre, por fim livre, longe deles! Caminhava precipitadamente, num ritmo violento e convulsivo, que dizia com a sua agitação interior. E foi ainda nessa disposição anímica que começou a lamentar-se quando se deu conta do que tinha feito." (pp. 40-42)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

"Uma Vida à Sua Frente" de Romain Gary

Ainda não consegui completar a listagem dos livros que possuo e este encontrava-se perdido nas minhas estantes. Depois de vê-lo em vários tops de "Os melhores livros" que no principio do ano abundam na Net, coloquei-o numa lista para o comprar. E qual não foi o meu espanto quando, numa das minhas conquistas de espaço, encontrei esta preciosidade! Por mais que tentem imaginar como será ler este livro, ao olharem para sinopse e para a capa, não vão conseguir ter uma ideia do seu conteúdo!

Primeiro estranhei um pouco. Foi a escrita do autor a causa dessa estranheza. É pelas mãos de Mohammed (Momo) que o autor nos conta esta história maravilhosa. Mas fá-lo com um discurso corrido, coloquial, onde as expressões muitas vezes não possuem um significado literal e foi isso que me fez estranhar no princípio. Mas é uma escrita muito bonita, plena de significado, contada por um menino árabe que num misto de inocência e sabedoria transporta-nos para o seu mundo.

O seu amor pela Madame Rosa, uma judia sobrevivente de Auschwitz, antiga prostituta que recebe em sua casa "filhos de putas" ajudando-os a criar, é algo de único. O amor que ele recebe em troca torna-se, durante anos, o mais parecido com um amor de mãe que Momo terá.

Com uma ironia plena, uma inocência cativante e uma sabedoria que só alguém que já viveu e sofreu bastante consegue transmitir, Momo seduz o leitor com armas lentas mas arrabatadoras. Vai-nos apresentando os restantes personagens, ao contar-nos o seu dia-a-dia, quase todos moradores num prédio onde a inter-ajuda, de quem tem pouco e dá muito, é uma constante. Os restantes personagens, quase todos moradores no prédio onde Momo vive, pertencem a extratos sociais baixos, muitos clandestinos, e o prédio é um perfeito arco-iris devido às etnias ali existentes.

A saúde cada vez mais frágil de Madame Rosa faz com que Momo desdobre-se em amor e cuidados para aquela que considera sua mãe de coração. Corajoso e destemido pretende encontrar alguém que no futuro substitua Madame Rosa mas, ao mesmo tempo, inocente e verdadeiro Momo representa todas as crianças que têm medo de perder a sua mãe e o seu amor.
Os temas abordados são incómodos para quem pretende uma leitura fácil: a velhice e como ela é desrespeitada pela sociedade, a eutanásia e como o prolongamento da vida pode ser cruel e penoso, a prostituição e quem mais ganha com ela... De tudo isto nos fala Momo no alto dos seus vividos 10 anos (ou serão 14?) de uma forma inocente, quase poética, mas com um realismo que muitas vezes incomoda.

Descobrir que tem mais anos do que pensava e o porquê desse erro foi para Momo um facto muito importante e para nós, leitores, uma forma inteligente de nos cativar. A forma como isso nos é transmitido é realmente especial e única.

Tocante, repleto de um humor inocente e cáustico ao mesmo tempo, este livro vale a pena ler. Mesmo!

Terminado em 15 de Janeiro de 2015

Estrelas: 6*

Sinopse

Uma vida à sua frente é narrado por Mohammed, um rapaz árabe de 14 anos, órfão, que vive no bairro pobre de Belleville com Madame Rosa, prostituta reformada e sobrevivente de Auschwitz. Publicado em 1975, o livro teve êxito imediato: vendeu milhões de exemplares em todo o mundo, foi traduzido em mais de vinte línguas e adaptado para o cinema num filme com Simone Signoret. Nesse mesmo ano, recebeu o Prémio Goncourt.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A Convidada Escolhe: "As Filhas Sem Nome"

"As Filhas sem Nome" (do inglês "Miss Chopsticks"), Xinran, 2007
Este livro passa-se no início deste século e foi escrito por uma jornalista chinesa cujo trabalho de apresentadora de um programa de rádio a levou a conhecer e conversar com grande número de mulheres muito diversas oriundas de um país imenso, a China. As diferenças entre elas decorriam da origem geográfica, mas também de serem citadinas ou camponesas, com hábitos, culturas e dialectos tão distintos que por vezes pareciam terem origem em países diferentes. Chinesas, diferentes, mas com um traço comum: discriminadas por serem mulheres.
Quando a autora, no final dos anos 90 do século passado, foi viver para Inglaterra, teve de trabalhar como empregada de mesa em restaurantes e em hotéis, viveu na pele a condição de imigrante, invisível e nessa altura recordou algumas mulheres rurais chinesas que se tinham mudado para as cidades em busca de uma vida melhor e que eram ignoradas e tornadas invisíveis, apesar da imprescindibilidade do seu trabalho para a comunidade.
Lembrou-se das histórias que tinha ouvido das bocas dessas suas conterrâneas, da infelicidade que era não terem filhos, mas apenas filhas, havendo até casos extremos de mulheres que se suicidavam por isso. Numa sociedade que encara(va) as raparigas como "pauzinhos" (chopsticks), úteis, mas frágeis e facilmente quebráveis, portanto incapazes de serem o suporte de uma casa, só um rapaz pode ter esse papel, pois é tido como a "trave-mestra" de uma casa.
É a partir desta triste e dura realidade que a autora vai desenvolver o seu romance. Uma família camponesa, infeliz e socialmente desvalorizada porque teve seis filhas e nenhum filho-varão. Estes "pauzinhos" nem sequer merecem ter um nome, apenas um número, correspondendo à sua chegada ao mundo. No entanto, há três – a Três, a Cinco e a Seis – que ousam sair desse mundo profundamente limitado, sem saídas, caracterizado pela pobreza e escassez a todos os níveis.
A chegada à cidade – Nanquim – é uma revelação, por vezes dolorosa. Mas também há uma alegria infantil e encantadora no prazer da descoberta das pequenas coisas. Tudo é surpreendente para aquelas três irmãs de uma ingenuidade extrema, confrontadas com o choque de culturas, educadas na repressão dos corpos e da sexualidade, moldadas para servir e não mais do que isso. Aliás, o que sempre tinham visto como modo de vida da mãe, dominada por um forte sentimento de inferioridade comum a todas as mulheres do campo e que elas querem reverter e compensar de algum modo no final do livro, quando regressam a casa para as comemorações do Festival da Primavera.
Diferentes nas suas aptidões, elas vão ser valorizadas na cidade de Nanquim pelas suas qualidades particulares, coisa que nunca tinham conhecido na sua aldeia nem no seio da sua família. A Três era especialmente dotada para fazer arranjos artísticos com vegetais frescos, o que tornou o restaurante O Tolo Feliz onde trabalhava mais apetecível e com mais clientela. A Cinco, sempre considerada o patinho feio da família e a rapariga mais estúpida da aldeia, revelou no Centro Cultural Aquático do Dragão uma sensibilidade natural para conjugar as ervas usadas nos tratamentos termais. Por fim, a Seis, a única das irmãs que tinha frequentado a escola e que sabia ler, encontrou na Casa de Chá dos Provadores de Livros o espaço ideal para a leitura, para alargar a sua visão do mundo no contacto com os estrangeiros, para aprender inglês e ensinar chinês aos estudantes estrangeiros que frequentavam a Casa de Chá. Aí descobriu a existência de livros proibidos e também o quase completo desconhecimento da cultura e da história da China por parte dos ocidentais.
Ao longo do livro são frequentes as referências aos diferentes períodos da história da China com as figuras do imperador, dos senhores da guerra e mais recentemente o papel da revolução cultural de Mao na vida do povo. Apesar da abertura mais recente da sociedade chinesa ao exterior e da alteração de alguma legislação restritiva, há uma crítica à corrupção generalizada começando pelos mais baixos funcionários do Estado, à prepotência da polícia e ao atropelo da justiça e dos direitos humanos e, sobretudo, há uma crítica ao fosso enorme na vida das pessoas do campo em relação às da cidade, assim como um olhar muito crítico à forma como as mulheres são encaradas na sociedade chinesa actual. "…folhas de erva a crescerem nas fendas entre as pedras; queriam ver a luz do Sol e arranjar um espaço para respirarem, mas o vento e a chuva abatiam-se sobre elas. Era muito fácil estas raparigas serem esmagadas pelos homens e sentirem que não tinham o menor valor."
Espantado e ao mesmo tempo incapaz de assumir a realidade das transformações notórias nas filhas, o pai pergunta-se se seria possível que as suas filhas pauzinhos fossem capazes de suportar o telhado da sua casa. O posfácio que resulta do desafio da tradutora e amiga pessoal de Xinran para que ela desvende a continuação da história das três irmãs que um dia saíram da sua aldeia e descobriram um outro mundo na cidade de Nanquim é, em minha opinião, irrelevante e retira, porventura, a este belo romance o tom optimista do percurso daquelas meninas sem nome que o pai considerava meros pauzinhos.

Almerinda Bento

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

"Um Castigo Exemplar" de Júlia Pinheiro

Tirando a capa, que sinceramente não acho atraente, tudo neste livro me surpreendeu. Não li o livro anterior de Júlia Pinheiro que todos conhecemos por nos entrar casa adentro. Por essa razão não sabia o que esperar da sua escrita. Aliás, minto. Uma amiga instigou-me a lê-lo. "Vais gostar, vais ver!". E foi verdade, gostei muito, tanto ao ponto de simpatizar e odiar ao mesmo tempo as personagens principais deste romance, Amélia e Henrique. E este amor/ódio dirigido simultaneamente aos mesmos personagens fez crescer em mim um sentimento de incredulidade: como podia simpatizar com alguém que é, ou viria a ser, horrivel?

A caracterização dos personagens foi feita de uma forma bastante exaustiva, criando neles sentimentos e acções cuja dicotomia baralhava-me como leitora, fazendo-me experienciar uma contradição de sentimentos que, aliás, adorei sentir. Tanto gostava de Henrique odiando Amélia, como simpatizava com Amélia dirigindo o meu ódio a Henrique! Já viram como uma história bem contada nos faz sentir? Não posso, porém, negar que fiquei com um fraquinho por Amélia e quase justifiquei as suas atitudes...

Amélia, filha única de um juíz e de uma dona de casa "doente dos nervos", é a narradora desta história, contando-nos o seu passado. Apercebemo-nos que não se tem em grande conta, que fez algo, levada pela vingança e pelo ódio, e que, na altura em que nos narra os acontecimentos, já se arrependeu do que fez. Analisa o seu comportamento, fazendo uma auto-crítica mas, ao mesmo tempo, justificando as suas atitudes.

A acção é passada maioritaramente na cidade do Porto, em 1895 e anos seguintes. O contexto histórico introduzido foi verídico, a história em si é ficcionada. Uma opção que, não sendo original mas estando bem documentada no que concerne aos factos históricos, se torna perfeita para uma leitura agradável e credível. Gostei!

Uma história de amor, de ódio e de vingança. De como as atitudes dos outros nos atingem e de como somos atingidos pela nossa raiva e ódio se insistirmos neles. A ler!

Terminado em 10 de Janeiro de 2016

Estrelas: 5*

Sinopse


Muito antes de amar o meu marido, odiei-o profundamente. Não tive alternativa, nem ninguém me ensinou outro caminho. Procurei conselho junto da minha família, entrei desesperada no confessionário para revelar a sombra que se apoderava do meu coração. Todos os esforços se revelaram em vão. Eu, como qualquer mulher do meu tempo e da minha classe, fui ensinada a fazer dos sentimentos a razão da minha existência. Não me posso sujeitar à indignidade do trabalho e não escondo que acho a caridade entediante. Só me restou o amor, o casamento e a maternidade. Como falhei estes desígnios, abracei o ódio com a ternura e o empenho com que qualquer marido gostaria de ter sido amado. Até o meu.

Amélia Novaes, uma jovem tímida, sem berço e de aparência banal, é inesperadamente cortejada por um dos solteiros mais desejados do Porto do final do século XIX — Henrique Bettancourt Vasconcelos, filho do terceiro visconde De Lara. Apesar do desagrado da família do aristocrata, o casamento não tardará a acontecer e, no seu novo estatuto, Amélia antevê uma vida de conforto e alegria. Mas a sua ilusão começa a ruir quando Henrique decide partir sozinho para uma longa viagem pela Europa, para dar asas aos seus negócios. É então que a mágoa toma o lugar do sonho no espírito de Amélia, a cujas transformações vamos assistindo neste romance intenso, surpreendente e profundamente revelador da natureza humana, que marca o regresso de Júlia Pinheiro à ficção depois do sucesso de Não Sei Nada Sobre o Amor.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Ao Domingo com... Gonçalo Raposo

O meu interesse em criar histórias começou quando eu percebi o que é uma personagem.  A complexidade que advém ao criar uma mente é demasiado apelativa para mim. A isso, junto a minha fascinação pela fantasia, pelo Bem e o Mal e, claro, pelo carácter e espírito humano.
Nasci em Sintra e, tendo em casa a vista perfeita para toda a serra, foi-me fácil ganhar inspiração todos os dias. Na faculdade decidi seguir História. Como tal, fui lendo Thomas More e Victor Hugo e fui tendo cadeiras de Mitologia, Cultura e Imaginário, acabando por descobrir qual a paixão para escrever: a fantasia e a luta entre o Bem e o Mal. A minha imaginação é agregada ao gosto pela escrita e pelas mensagens que devem ser transmitidas aos leitores. Para mim, o valor de um livro encontra-se nas acções dos personagens e no apelo que o autor faz aos leitores. É essa a mensagem que vale a pena perceber, pois um livro deve inspirar quem o lê; deve fazer pensar e reflectir; deve conectar e fazer agir.
"A Origem de Ethosis" é uma saga de fantasia, mistério, romance e aventura sobre inocência, coragem, amor, amizade, sabedoria, confiança, opressão, liberdade, Luz e Escuridão. Assim que decidi sobre o que queria escrever, assentei ideias acerca de uma
história em que humanos interagiam com elfos, heróis míticos, druidas, faunos, ninfas, centauros... Tudo isto num mundo novo e fantasioso. Após ter o "esqueleto da história", percebi que queria escrever algo mais complexo. Queria que os meus livros inspirassem as pessoas e, por isso, desenvolvi esta saga à volta de várias virtudes. Queria escrever algo acerca do carácter humano e sobre a Luz e a Escuridão. Assim que tive os temas principais, foquei-me na criação deste novo reino fantasioso, Lohess, lugar onde vários seres míticos e fantasiosos habitam. Depois, veio a criação das personagens. Cada uma com a sua própria história a contar, cada uma com um propósito. Nesta saga, criei uma cultura e língua nativa para Lohess e, sendo um apaixonado pelo Simbolismo, não fiz nada sem primeiro pensar. Não há nenhum nome que não tenha o seu signficado e razão de ser, nem há nenhum vocábulo sem sentido. Muito menos há perguntas sem respostas, as quais surgirão no decorrer dos volumes seguintes. Este mundo complexo não é fácil de introduzir e é por isso que o primeiro volume desta saga, "Caminhos Quebrados", é uma introdução a este reino fantasioso. Nele, as personagens humanas serão os olhos e mentes dos leitores pois, tal como elas, também os leitores vão mergulhar e descobrir este mundo místico, replecto de mistérios, segredos e grandes surpresas... Este primeiro volume narra a história de Emma Fox, uma jovem com um sonho, que é inspirada pela trágica diva Lea Fiennes. No entanto, ao conhecer Henry Gaelma, a sua vida muda completamente e tudo aquilo que ela pensava ser fantasia torna-se realidade, pois Henry é um elfo que tem de conseguir cumprir a sua missão, antes que seja tarde demais para Lohess, o seu reino. O Cavaleiro tem de descobrir a razão do inesperado Outono que assombra Lohess, mesmo que isso signifique desenterrar o seu passado e enfrentar o principal suspeito: Philip, o melhor amigo de Emma.

Para mais informações, seguem-se os seguintes links:

http://goncaloraposo3.wix.com/goncalo-f-p-raposo
https://www.facebook.com/origemethosis

Gonçalo Raposo

sábado, 16 de janeiro de 2016

Na minha caixa de correio

 



Gentilmente oferecidos pela Marcador chegaram Kaya África e O Rapaz Que Venceu Salazar.
Pela Saída de Emergência recebi A Tomada De Madrid.
O meu obrigada a ambas!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A Escolha do Jorge: o Salão Vermelho



O início do ano trouxe um dos vultos da literatura sueca que se impôs como um dos grandes escritores das letras a nível mundial tanto no que respeita à dramaturgia como à literatura em geral. Estou a referir-me a August Strindberg (1849-1912) cujas obras são sobejamente conhecidas do público português pelas duas vertentes em que assentou o seu legado.
“O Salão Vermelho” (1879) de August Strindberg é uma das primeiras propostas da E-Primatur, um novo e inovador projeto editorial que se articula com o envolvimento dos leitores no que respeita às potenciais obras a serem publicadas a curto e a médio prazo.
“O Salão Vermelho” foi publicado quando o autor tinha apenas trinta anos de idade confirmando a consciência do autor no que respeita à compreensão da sociedade da segunda metade do século XIX. Iniciando a leitura desta obra, o leitor rapidamente percebe o ritmo (quase) alucinante em que decorre a narrativa, sempre pejada de uma energia alimentada com humor e ironia que tantas vezes questionamos como é possível manter essa intensidade ao longo de mais de trezentas páginas. Não poucas vezes sentimos necessidade de reler algumas passagens atendendo às frequentes pedras no charco que August Strindberg atira sem dó nem piedade, tratando-se, pois, de uma crítica feroz e acérrima à sociedade. São tantos os exemplos dos ataques sociais presentes em “O Salão Vermelho” que o leitor bem cedo toma consciência que passado quase um século e meio da publicação da obra, a sociedade pouco tem evoluído sobretudo no que respeita à relação das pessoas umas com as outras. Inúmeras são as passagens com contextos e situações tão atuais que por vezes ficamos na dúvida se August Strindberg não estará de facto a referir-se ao século XXI.
Os sindicatos não são poupados, a vida cosmopolita também não. A gradual emancipação da mulher é igualmente criticada. A depravação dos costumes também não fica de fora. O rei é trazido também para o palco dos ataques. O capitalismo e todo o mercado de títulos e de ações é encarado como uma nova forma de ganhar dinheiro de forma algo ilícita, como um jogo, que gera simultaneamente a pobreza e a falência das empresas. Os escroques da sociedade que pretendem ganhar dinheiro empregando formas desonestas capazes de manipular terceiros com vista a alcançar os seus objetivos acompanham toda a obra. A cultura na sua essência também não escapa ao crivo de Strindberg. A maledicência, a intriga, o egoísmo, a hipocrisia são outros dos pontos transversais a toda a obra a que o leitor não ficará indiferente.
Nada nem ninguém ficou de fora de “”O Salão Vermelho”! Não deixa de ser curioso que o próprio Strindberg alude a esta ideia nas últimas linhas da obra ao dizer o seguinte: “Agora, penso ter terminado a minha revista sem me esquecer de ninguém. Por isso, adeus por agora. Terás novas notícias minhas em breve.”
Outras obras de autores nórdicos que tive a oportunidade de ler cujas temáticas e energia seguem em linha com “O Salão Vermelho” e que frequentemente me vieram à recordação são “O Doutor Glas” (1905) e “O Jogo Sério” (1915) do sueco Hjalmar Söderberg (1869-1941). Em ambas as obras o leitor viaja por uma Estocolmo cosmopolita, moderna e que acompanha a evolução dos tempos, apresentando temas como o aborto e a eutanásia, que chocaram a sociedade sueca no início do século passado.
“O Salão Vermelho” fez-me igualmente recordar “O Anão” (1944) do sueco Pär Lagerkvist (1891-1974) e Prémio Nobel de Literatura em 1951, cuja obra assenta também na crítica à sociedade e na apologia da maldade.
“O Salão Vermelho”, publicado recentemente pela primeira vez em língua portuguesa, assume-se como uma das obras a impor-se em 2016 constituindo, assim, a primeira sugestão de leitura deste novo ano, nesta rubrica.

Excertos:
“Levi era um jovem, nascido e criado como homem de negócios, que estava prestes a estabelecer-se com a ajuda de m pai rico quando o dito progenitor morreu e não deixou nada além de uma família de que cuidar. Isto foi uma grande desilusão para o jovem, pois acabara de atingir a idade em que pensava ser altura de parar de se esforçar e deixar que os outros trabalhassem por si. Tinha vinte e cinco anos e boa aparência. Uns ombros largos e uma total ausência de ancas tornavam a sua figura particularmente adequada ao uso de sobrecasaca, no estilo que tantas vezes admirara em certos diplomatas estrangeiros. A natureza dotara o seu peito da elegante curvatura que consegue encher uma camisa bem larga, mesmo quando o indivíduo em questão está aninhado numa poltrona na ponta de uma longa mesa de reuniões rodeada pela direcção. Uma barba cuidadosamente dividida e forqueada dava ao seu rosto jovem um aspecto que era simultaneamente atraente e inspirador de confiança. Os seus pés eram pequenos e feitos para caminhar nos tapetes de Bruxelas de um gabinete de director, e as suas mãos com unhas bem tratadas eram especialmente adequadas a um trabalho mais leve, como adicionar a sua assinatura a formulários, de preferência já impressos. Naquela época, agora referida como os Bons Velhos Tempos, embora tivessem sido, na verdade, muito maus para muitas pessoas, a grande – de facto, a maior – descoberta do século acabara de ser feita: mais concretamente, o facto de ser mais barato e agradável viver do dinheiro dos outros do que do próprio trabalho. Muitas, mas mesmo muitas pessoas tinham-se já aproveitado da descoberta e, como a ideia não estava protegida por nenhuma patente, dificilmente se pode achar surpreendente que Levi se tenha apressado a fazer o mesmo, especialmente se se tiver em conta que não tinha dinheiro e nenhuma propensão para trabalhar por uma família que não era a sua.” (pp. 155-156)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

"O Que Ela Deixou Para Trás" de Ellen Marie Wiseman

Recomendado por uma amiga com gostos muito similares aos meus, peguei nesta obra com um misto de curiosidade pelos elogios de que foi alvo mas também de medo que as minhas expectativas fossem defraudadas...

Com duas histórias que decorrem em espaços temporais diferentes (1929/1995), separadas por mais de 60 anos, rapidamente entrei nessas histórias e foi com igual entusiasmo que saltitei de uma para outra. Vivi momentos de verdadeira angústia, sobretudo quando a autora descrevia os métodos utilizados num hospício onde pessoas com perturbações mentais e outras perfeitamente sãs retidas ali contra sua vontade, eram submetidas a métodos totalmente bárbaros e sem respeito pela vida humana! Vivi momentos de incerteza e outros de esperança, de descrença e angústia mas sempre com o verdadeiro prazer em LER!

A história, ou histórias se preferirem, são de tal modo fortes, tão repletas de acontecimentos que foram ou são baseados em factos reais, que nós, os leitores, não sabemos qual preferir. Saltitei, como referi, de uma para outra sempre com um sentimento de angústia/ ansiedade por querer saber mais, por querer rapidamente chegar ao fim.

Qualquer dos personagens nos parece alguém que conhecemos e os seus comportamentos, as suas decisões são perfeitamente verosímeis. Os problemas focados - a auto-mutilação, as famílias de acolhimento, os abusos sexuais, o buling, os hospícios e seus métodos de "tratamento" e afastamento de pessoas indesejáveis à sociedade, por exemplo - tocam-nos, afigem-nos porque sabemos que existiram ou ainda existem.

Gostaria, já na parte final, que a autora tivesse dado mais ênfase à história de Clara, a menina que foi encarcerada num hospício, de saber mais pormenores no que concerne à sua vida futura. Há um iato de tempo que não foi contado e que o leitor, certamente, ficará com vontade de conhecer melhor.

Em relação à capa, bonita por sinal, acho que nos leva para outras histórias que não esta. Por um lado está perfeita porque todos os pormenores nela contidos estão numa das histórias, mas por outro, não revela o quanto esta leitura pode ser dolorosa. Não dou palpites na escolha de uma outra. Reconheço que não seria tarefa fácil...

Nota máxima, sobretudo pela forma de contar que empolga verdadeiramente o leitor. A mim prendeu-me deveras. Vai experimentar?

Terminado em 9 de Janeiro de 2016

Estrelas: 6*

Sinopse

Iluminado e provocador, este é um romance sublime sobre o desejo de pertença e os mistérios sob as vidas mais comuns.Há dez anos, a mãe de Izzy Stone disparou sobre o seu pai enquanto este dormia.Arrasada pela insanidade da mãe, a jovem recusa-se a visitá-la na prisão. Para a ocupar, os seus pais de acolhimento inscreveram-na como voluntária num asilo público. Ali, no meio de pilhas de pertences sem dono, Izzy descobre um molho de cartas por abrir, um jornal antigo e uma janela improvável para o seu passado.Clara Cartwright, com 18 anos em 1929, está encurralada entre os seus pais superprotetores e o amor por um italiano. Irado por Clara recusar um casamento arranjado para ela, o pai coloca-a num lar sofisticado para pessoas nervosas.Mas, quando a sua fortuna se perde com o crash de 1929, não consegue suportar os custos do lar e Clara é enviada para um asilo público.A história de Clara mergulha Izzy num passado cheio de enigmas. Se Clara, na verdade, nunca foi doente mental, poderia explicar-se de outra forma o crime da sua mãe? Completar as peças deste puzzle do passado conduz Izzy à reflexão sobre a sua própria vida e a questionar-se sobre tudo o que pensava saber e acreditar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A Convidada Escolhe: "A Minha Pequena Livraria"

"A Minha Pequena Livraria", de Wendy Welch começa com uma dedicatória muito interessante: «O livro é dedicado a todas as pessoas que alguma vez viraram as costas a uma coisa "importante" para fazerem uma coisa melhor».
É uma história de vida da autora, americana, natural da região dos Apalaches, e de seu marido, escocês, Jack. Durante uns anos viveram na Escócia, ela como diretora de uma organização sem fins lucrativos e ele como diretor de Departamento de uma Universidade, para além de outras atividades como músico. Resolveram deixar a vida estável e mudaram-se para a Virgínia, EUA. A primeira experiência não correu bem.
Assim, quando propuseram a Wendy gerir os programas educacionais na minúscula cidade de Big Stone Gap no sudoesta da Virgínia, escondida nas montanhas da zona central dos Apalaches, partiram. Era uma região carbonífera, agora cheia de mineiros reformados, onde os eventos importantes eram os jogos de futebol e as reuniões do liceu, mas acharam ser um local aprazível.
Quando procuravam casa deparou-se-lhes uma linda e enorme mansão "eduardiana" de inícios do século XX, com dois pisos, portas deslizantes e soalhos rangentes que lhes trouxe de imediato à memória o seu velho sonho de ter uma livraria de livros usados. Os tempos eram difíceis, a economia estava em plena recessão e seria muito difícil vender a anterior casa. As dificuldades eram muitas.
Sem pensar muito e seguindo a sua intuição e o seu coração avançaram. No primeiro piso fizeram residência e no de baixo a livraria. Levando uma vida simples e com o seu próprio espólio de três mil e oitocentos livros, fizeram as primeiras estantes.
A princípio a comunidade olhava-os de soslaio, desconfiavam e achavam que eram completamente loucos ao tentar abrir uma livraria naquela localidade tão pequena, habituada a compras através da internet. Foi com muita determinação, esforço e amor aos livros que conseguiram abranger a comunidade no seu sonho. O chá e os biscoitos do Jack também ajudaram.
Começaram por se integrar nas atividades já existentes e a seguir criaram os seus próprios eventos:
Noite de tricô; Grupo de escrita; Noite de dança e música; Celebração de dias especiais; Representações de dramas policiais com a participação de clientes regulares, sendo os membros do grupo de escrita que elaboravam os enredos, etc
Quando se iniciaram as trocas e doações de livros, cada livro que entrava trazia uma história de vida que era ouvida com toda a disponibilidade. Ouvir as pessoas era mais importante que vender livros por isso conseguiram congregar a comunidade à sua volta.
O livro está dividido em capítulos todos descrevendo episódios do quotidiano da livraria desde a sua fundação à atualidade e todos são encabeçados por citações muito interessantes e que apelam à reflexão. No decorrer da narrativa, e a propósito do que conta, a autora inclui, também, citações de outros autores o que enriquece muito a obra.
Não resisto a transcrever algumas citações incluídas na capa:
"Os livros são mais do que palavras numa sucessão de páginas. Marcam os momentos importantes da viagem que é a nossas vidas."
"Talvez a melhor coisa que os livreiros fazem pelo mundo não é vender histórias às pessoas, mas escutar a história das pessoas."
E algumas passagens do livro:
…. «Os livros, sejam eles objetos físicos ou impulsos eletrónicos são do melhor que há. São edifícios que albergam ideias. Portanto, quem gosta de ler a partir de máquinas que o faça. Quem aprecia o toque, o cheiro, a orla dourada e as bonitas capas, e a suavidade do papel e as memórias cinéticas, apreciará o livro na sua versão física. Qualquer uma das formas poderá ser um artefacto. E desde que toda a gente leia, e disso retire o prazer, importa assim tanto qual o suporte a partir do qual o fazemos?
Pensando bem…talvez importe.»…. Pag.182…. «Em miúda, ainda bem pequena, lembro-me de ter sido advertida de que as bibliotecas e as livrarias eram locais tranquilos e silenciosos onde não se tolerava barulho. Era mais uma coisa em que os adultos estavam enganados, pois aqueles sítios palpitavam, vibravam. O que se passava era que os sons por eles produzidos não eram ruidosos. Os livros sussurravam. O barulho coletivo que emitiam era semelhante ao de um barco em que a trepidação uniforme do motor vibra sobre os nossos sapatos, passando despercebida até nela atentarmos, tornando-se depois omnipresente e inexorável. Cada livro transbordava de barulhos que queria que escutássemos assim que os abríssemos;» …. Pag.198
…. «Os livros em segunda mão são livros selvagens, livros sem-abrigo; juntos formam vastos bandos de espécies variadas e possuem um charme de que os volumes domesticados das bibliotecas carecem. Para além disso, nesta fortuita e heterogénea companhia, podemos cruzar-nos com um desconhecido que, com sorte, se transformará no melhor amigo que temos no mundo. Virgínia Woolf, "Street Hunting: A London Adventure"» …Pag.243, citação no capítulo "Recomendar Livros".
A Livraria é atualmente um sucesso, diz a autora, mas ela mantem um emprego que lhe permite pagar o seguro de saúde e Jack continua a organizar excursões culturais à Irlanda e à Escócia o que lhe permite visitar a sua terra natal…
Alonguei-me mas o livro merece. Foi muito interessante acompanhar o percurso da realização de um sonho. Gostei muito, embora tenha consciência de que a história é difícil ou quase impossível acontecer fora da América, mas há valores como a disponibilidade ao outro, o estabelecimento de relações e a amizade, o amor aos livros, que são universais.

Maria Fernanda Pinto