Que livro bom de se ler! Confesso que estava renitente porque, à primeira vista, a sinopse não me interessou por aí além. Um livro sobre a construção da Ponte 25 de Abril, na época chamada de Ponte Oliveira Salazar? Pois, estava bem errada. Que escrita simples, directa, sem floreados e, no entanto, tão apelativa, que nos reporta de imediato para os anos 60, para um Portugal fechado em si mesmo, com leis e regras que hoje poucos se lembram mas que dominavam o povo. O medo escondido nas palavras que se diziam, as acções vigiadas, os ouvidos à escuta porque palavras fora das normas poderiam significar problemas graves. E o medo, sempre o medo.
A narrativa é lenta, cheia de pormenores que desconhecia ou já não me lembrava que me fizeram duvidar da sua existência e constatar, depois de procurar na Net, que se tratavam de factos verídicos. Que maravilha! Aprender ou recordar, que delícia!
O protagonista é um jovem serralheiro de nome Victor Tirapicos, de 22 anos, que acaba de sair da prisão onde esteve dois anos. O motivo da sua entrada num estabelecimento prisional? O roubo de batatas devido à fome que sentia!!! E é através da sua vida que mergulhamos num ambiente onde a desigualdade e a pobreza imperam. A esperança de uma vida melhor funde-se e desaparece, no quotidiano duro. Victor parte para Lisboa para arranjar emprego na construção da Ponte sobre o Tejo e vai morar num bairro típico de Alcântara, bairro onde os pés da ponte assentaram. Paralelamente a essa obra de construção inovadora, a partida de cada vez mais jovens para a Guerra Colonial e, também, a chegada de alguns desse horror, com todos os problemas inerentes.
Foi uma obra que me deu muito prazer ler. Recomendo.
Terminado em 19 de Setembro de 2025
Estrelas: 6*
Sinopse
Um retrato poderoso e simbólico do fim de um regime, uma história de
dificuldades e esperança que bem podia ter acontecido…
Estamos em 1962, num país orgulhosamente só, e vem aí a construção da
primeira ponte suspensa sobre o Tejo, para a qual vão ser precisos cerca
de três mil homens. A obra irá mudar para sempre a paisagem da capital,
muito especialmente para quem vive em Alcântara, como é agora o caso de
Victor Tirapicos, instalado na casa dos tios depois de ter envergonhado
o pai com dois anos de cadeia só por ter roubado pão e batatas para
fintar a miséria.
É, de resto, pelos olhos deste serralheiro de vinte e dois anos que
veremos a ponte erguer-se um pouco mais todos os dias e, ali mesmo ao
lado, partirem os navios cheios de rapazes para a guerra do Ultramar,
donde muitos acabarão por voltar estropiados, endoidecidos ou mortos.
Porém, apesar de a modernidade parecer estar a matar a vida e os
costumes do pátio operário onde convivem (amigavelmente ou nem tanto)
uma série de figuras inesquecíveis – entre elas o mestre sapateiro que
faz as chuteiras para o Atlético Clube de Portugal e um velho culto que
aprende a desler –, Victor Tirapicos encontra o amor de uma rapariga que
é muda mas consegue escutar o planeta, pressentindo a derrocada da
estação do Cais do Sodré e outra catástrofe ainda maior, que se calhar
tem pés de barro e só acontece neste romance, mas bem podia ter
acontecido.
«UM RETRATO MUITO DINÂMICO E VIVO DO PORTUGAL DOS ANOS
1960.»
Manuel Alegre, Presidente do Júri
Cris
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