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sábado, 29 de março de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
"O Infinito Num Junco" de Tyto Alba e Irene Vallejo (Graphic Novel)
Este livro encerra um mundo dentro de si, como todos os outros, aliás. Podemos até não gostarmos desse mundo que um livro nos apresenta mas haverá sempre alguém para quem esse livro representa um mundo novo de oportunidades.
Esta obra fala-nos de livros, de como surgiram, onde e os motivos que levaram os
homens a desenvolvê-los, do surgimento das primeiras bibliotecas, de como eles podem representar um perigo e um obstáculo para os ditadores. A palavra oral e escrita como forma de combater as desigualdades. O livro tem infinitas possibilidades e traz-nos tudo o que o mundo contém: liberdade e amor, mas denuncia também a opressão, a dor, o ódio. “Quando vendes um livro a alguém, não lhes estás a vender doze onças de papel, tinta e cola. Estás a vender-lhe uma vida totalmente nova, amor, amizade e humor e barcos que navegam na noite. Num livro cabe tudo.” Pág 79
Há sempre umas partes ou outras que achamos mais ou menos interessantes consoante a nossa disponibilidade em apreciá-las. Aconteceu comigo nesta leitura mas o computo geral é positivo. Li-o devagar ao longo de dois ou três meses, porque a temática assim o permitiu sem perder o norte nem o ritmo de leitura. A autora intercala no decorrer das suas pesquisas, memórias da sua infância e algumas reflexões dando um toque mais intimista à narrativa.
Foca muitos temas, autores, livros e histórias sobre eles. Esta obra contém muita informação e, para mim, foi difícil absorvê-la na sua totalidade, com muita pena minha. Mas alguns pontos interessantes ficaram gravados na minha memória. “Na realidade, os livros podem ser botes salva-vidas. Chegam a qualquer lugar do mundo, inclusive aos sítios mais sinistros.” Pág 126
Uma leitura muito interessante!
Terminado em 22 de Fevereiro de 2025
Estrelas: 4*
Sinopse
O Infinito Num Junco, de Irene Vallejo, é um hino extraordinário ao amor pelos livros que seduziu milhões de pessoas em todo o mundo.
Este livro sobre livros ganha uma nova vida sob a forma de uma adaptação gráfica do desenhador Tyto Alba, cujas excecionais ilustrações nos transportam até aos campos de batalha de Alexandre, o Grande, aos palácios de Cleópatra, às primeiras livrarias e às oficinas de cópias manuscritas, mas também às fogueiras onde se queimavam códices proibidos, à biblioteca bombardeada de Sarajevo e ao labirinto subterrâneo de Oxford no ano 2000.
Estes desenhos e aguarelas, que contam a história de um artefacto incomparável nascido há cinco milénios, quando os egípcios descobriram o potencial da cana de junco, a que chamaram papiro, tornam-nos participantes na aventura coletiva de quem foi salvaguardando os livros desde aqueles tempos.
«Um testemunho precioso de amor pelos clássicos, pelos livros, pelas bibliotecas e pela leitura.» Nuccio Ordine
Cris
segunda-feira, 24 de março de 2025
"Quando os Violinos se Calaram" de Alexander Ramati
Digest, uma colecção Livros Condensados, de que faz parte esta história. Ela sabe que o Holocausto é um tema a que recorro muitas vezes. Confesso que nem olhei para as outras histórias… Não conheço a versão completa e não a descobri nas minhas pesquisas. Mas ainda são 130 páginas com uma letra muito miudinha pelo que, creio, o sumo da história estará cá todo.
Não me lembro de ter lido nada especificamente sobre o Holocausto cigano. Claro que o número de mortos (500 mil) não se compara ao dos judeus assassinados mas considero importante este tipo de documentos para que nada seja esquecido. O autor conta-nos que foi contactado num congresso por um homem de etnia cigana, Roman Mirga, dos seus cinquenta e tal anos, que lhe entregou um manuscrito, por ele escrito. Depois de ter conseguido fugir de Auschwitz, Roman manteve-se escondido numa cave de alguém que o ajudou, escrevendo, no final de 1944, tudo o que tinha acontecido à sua família. O seu pedido foi dirigido ao autor para que o livro fosse publicado na América e não apenas na Polónia.
Que dizer sobre mais esta história real, uma das muitas atrocidades que vieram ao mundo muitos anos depois?
Há um sentimento que, verifico nas minhas leituras, imperava na altura e que fez com que estes povos brutalmente assassinados, não reagissem atempadamente: o horror era tão grande que, na maior parte das vezes, duvidavam que os “boatos” que circulavam fossem realmente verdade. E depois, no caso da etnia cigana, eles não eram judeus. Logo, não tinham com que se preocupar, certo? Quando verificavam que corriam perigo o cerco já se tinha fechado.
Se conseguirem encontrar este livro (quem sabe numa estante de um familiar?), leiam esta história. Vale a pena!
Terminado em 21 de Fevereiro de 2025
Estrelas: 5*
Cris
sábado, 22 de março de 2025
sábado, 15 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
“Despedidas Impossíveis” de Han Kang
Foi a minha estreia com esta autora, prémio Nobel 2024, mas não fiquei encantada. Iniciei bem esta obra mas a meio comecei a achar a narrativa dispersa, com muitas situações onde me perdi no tempo pois a narradora alternava entre passado e presente, entre realidade e sonho com demasiada frequência.
Sinto que perdi qualquer coisa de realmente importante, sobretudo a crítica, o apontar do dedo a actos praticados na Coreia do Sul, desconhecidos para mim, e se calhar, para a maioria das pessoas. Estamos habituados a ouvir falar da Coreia do Norte por vários motivos que não os melhores, mas da Coreia do Sul nem por isso. Este alerta não poderia ter passado despercebido nestas páginas pelo que para ele vão as minha 4 estrelas. Os massacres, relatados aqui, fizeram-me ir pesquisar sobre.
Os massacres das Liga Bodo tiveram lugar durante a Guerra da Coreia no verão de 1950 contra suspeitos de serem comunistas. Os suspeitos eram alistados à força nas “Ligas Bodo” que mais não eram que campos de reeducação ideológica. O número de mortos ronda mais de 60 mil. Vários massacres tiveram lugar. As execuções eram feitas sem qualquer julgamento. Não se sabe ao certo quantas pessoas foram executadas pelas milícias anti-comunistas por suspeitas de serem simpatizantes do regime norte-coreano. As fotografias existentes das valas com os corpos são impressionantes.
Esta história debruça-se sobre duas amigas (uma delas a narradora) que mesmo separadas fisicamente encontram forma de manter e alimentar essa amizade. Quando uma necessita de apoio, a outra move montanhas para o fazer. O passado familiar de uma delas vem ao de cima, trazendo um passado doloroso.
No entanto, embora não tenha acolhido com simpatia a forma como Han Kang narra esta obra e por ter ouvido falar tão bem de Atos Humanos, quero ler esse livro em breve. A autora é multi premiada e quero conhecê-la melhor através dos seus outros livros que esperam vez na minha estante.
Terminado em 17 de Fevereiro de 2025
Estrelas: 4*
Sinopse
Numa manhã gelada de dezembro, Kyungha recebe uma mensagem da sua amiga Inseon –internada num hospital de Seul na sequência de um ferimento grave a cortar madeira – pedindo-lhe que a visite urgentemente.
Quando Kyungha chega à enfermaria, Inseon conta-lhe que veio de avião da ilha de Jeju para ser tratada urgentemente e implora-lhe que vá a sua casa dar de comer e beber ao seu periquito, que de contrário morrerá.
Uma tempestade de neve fustiga a ilha à chegada de Kyungha e muitos dos autocarros foram cancelados ou sofreram atrasos.
As rajadas de vento e o nevão constante não a deixam avançar e de repente a escuridão invade tudo.
Kyungha não sabe se chegará a tempo de salvar a ave – nem mesmo se sobreviverá ao frio tremendo daquela noite; e não sabe também a vertigem que a aguarda em casa da amiga, onde a história há muito sepultada da família de Inseon acaba por revelar-se, em sonhos e memórias transmitidas de mãe para filha e num arquivo diligentemente organizado que documenta um terrível massacre ocorrido em Jeju.
Despedidas Impossíveis é um hino à amizade, uma elegia à imaginação e, acima de tudo, um poderoso manifesto contra o esquecimento.
Como um longo sonho de inverno, estas páginas belíssimas formam muito mais do que um romance – iluminam uma memória traumática, enterrada ao longo de décadas, que ainda hoje ecoa no peito de muitas famílias.
Cris
sexta-feira, 7 de março de 2025
A Convidada escolhe: "Do Outro Lado do Sonho"
Leitura terminada. Confesso que tenho dificuldade em escrever sobre este livro, mas como vai ser objecto da próxima conversa no Leia Mulheres Lisboa, será certamente um debate vivo e com diferentes opiniões.
Eu não sou apreciadora de ficção científica. Acho que ao longo das cerca de duzentas páginas do livro, há muitas voltas e atalhos que me fizeram sentir perdida e confusa. O tema tem a ver com o sonho e a realidade. Afinal o que é sonho, o que é realidade?
O livro foi escrito em 1971. Passa-se nos Estados Unidos da América, no final dos anos 80. “Nova Iorque estava em vias de se tornar uma das maiores vítimas do efeito de estufa, enquanto o gelo polar continuava a fundir-se e o mar continuava a subir; na verdade, toda a costa de Boston estava ameaçada.” “A subnutrição, a superpopulação e a intensa poluição do ambiente eram normais” (pág. 34). George Orr vive em Portland e nas suas deslocações diárias para o trabalho, no comboio, “entre milhares de pessoas. Sentia aquele peso esmagador que se abatia interminavelmente sobre si. Pensou que estava a viver um pesadelo, daqueles que levam uma pessoa a acordar quando está a a dormir.” (pág. 42). “Poderia alguém, mesmo são, viver neste mundo sem dar em doido?” (pág. 48) É neste ambiente que George Orr, alguém que se privava de sonhar, que tinha medo de sonhar porque os seus sonhos alteravam os acontecimentos e que queria curar-se para aprender a não sonhar com efeito, acabou nas mãos de um psiquiatra que o utilizou como instrumento para as suas experiências. Mas Orr queria ser curado e não usado.
A partir do momento em que entra no esquema das sessões com o psiquiatra que o hipnotiza e lhe controla os sonhos, Orr sente-se usado, quer desistir, mas é impotente e não consegue libertar-se. Ele está “apanhado, como um rato numa ratoeira” (pág. 75). Afinal as mudanças operadas pelo dr. Haber só vieram piorar a situação. Na nova realidade tudo estava padronizado, todos se vestiam da mesma maneira, todos tinham a pele cinzenta e os problemas raciais deixaram de existir, mas embora fossem tolerados os doentes mentais, era considerado crime ter-se uma doença incurável, contagiosa ou hereditária. Não havia espaço para se “perder tempo com sofrimentos desnecessários” (pág. 131). A nova realidade era outro pesadelo.
Nesta história estranha em que há máquinas que condicionam sonhos, em que há extraterrestres pacíficos que se integram na sociedade como empresários, em que há vírus cancerígenos que dizimam populações, também há lugar ao amor que consegue sobrepor-se ao caos que o homem criou. Onde acaba a realidade e começa o pesadelo?
Em minha opinião, o título original deste livro de ficção científica “The Lathe of Heaven”, que pode ser traduzido por O Torno do Céu, aponta para a figura do psiquiatra Dr. Haber, qual deus com a ambição de moldar a mente do seu paciente, levando-o a imaginar viver uma realidade que de facto não existe. Uma coisa é certa: o problema das alterações climáticas não é ficção, a poluição é o ar que respiramos, o degelo polar e o risco de as regiões costeiras ficarem submersas são a realidade. A realidade como pesadelo é o triste legado que a humanidade está a deixar para os vindouros.
16
de Fevereiro de 2025
Almerinda Bento
quarta-feira, 5 de março de 2025
“A Ilha Onde as Mulheres Voam” de Marta Lamalfa
Lido com um pequeno grupo de amantes de livros, esta obra requer uma leitura mais atenta porque se trata de uma narrativa lenta.
Sabia, porque li na sinopse, que na pequena ilha de 5 km de Alicudi, na Itália, nos anos de 1903 a 1905, o centeio estava contaminado por fungos o que fazia com que os habitantes fossem involuntariamente submetidos a visões alucinogénias. Tal facto foi comprovado por vários estudos dado o universo colectivo a que se referia. Com uma população maioritariamente muito pobre, de trabalhadores rurais, o pão de centeio era a base da alimentação. Sabendo disso (ora aqui está uma sinopse que faz todo o sentido existir!), a minha leitura teve outro significado porque quando, por exemplo, a personagem principal, Caterina, se referia a curandeiras que voavam, o meu olhar para esses relatos foi totalmente diferente do que seria se não tivesse conhecimento deles.
Gostei bastante desta obra e, mesmo sentindo que a narrativa decorria lentamente, fiquei presa à pequena Caterina, sua irmã falecida recentemente e seus outros dois irmãos. Com referência a muitos nomes de outros personagens, o princípio pode ser desafiador mas nada que uma papel e caneta não resolvam… No decorrer da leitura, selecionei naturalmente os nomes que fazem mais sentido fixar.
Gente de uma pobreza extrema, sem literacia, cujo futuro pouco auspicioso fazia prever uma vida de sacrifícios e fome, este livro fala-nos do quão difícil a vida pode ser para quem depende da terra dos outros para sobreviver. E quão importante é sonhar, mesmo quando o sonho advém de propriedades alucinogénias de um alimento contaminado.
A Caterina resta o sonho de, tal como as curandeiras, poder voar para longe dali!
Terminado em 19 Fevereiro de 1925
Estrelas: 4*
Sinopse
ALICUDI, UMA ILHA REMOTA E SELVAGEM, HABITADA POR AGRICULTORES E PESCADORES, GUARDA SEGREDOS QUE REMONTAM A TEMPOS ANCESTRAIS.
Entre 1903 e 1905, o centeio da ilha de Alicudi foi contaminado por fungos e adquiriu propriedades alucinogénias.
Esse centeio foi abundantemente utilizado para fazer pão, a base da alimentação na época.
Por causa disso, os habitantes da ilha acabaram por ser involuntariamente submetidos a uma experiência psicadélica coletiva, comprovada por vários estudos.
Ainda hoje se contam histórias lendárias em torno da Ilha onde as Mulheres Voam.
«Uma história mágica e delicada, que aborda temas diversos como a pobreza, a ignorância, a fome e a luta de classes, mas sobretudo a descoberta do corpo feminino, o papel da mulher e os seus limites numa sociedade fortemente patriarcal.» - Goodreads
Caterina olha para o corpo inerte e duro de Maria, a sua irmã gémea, e sabe que a sua vida vai mudar para sempre.
Embora tenha ficado com mais espaço no quarto, a mãe dá-lhe agora mais trabalho nos campos, a entregar anchovas e nas tarefas domésticas, enquanto espera pelo seu dia preferido: quando todos se reúnem para amassar o pão.
Aquele pão, agora negro e amargo, é tudo o que lhes resta.
Nesses pedaços de alimento está a chave para Caterina escapar a um presente cada vez mais solitário e penoso, vislumbrando mulheres mágicas que pairam no céu soturno da ilha e logo se desvanecem na bruma.
O que ela não sabe é que os cenários dessas visões extraordinárias são comuns a todos os outros habitantes.
E que, para ela, e para todos, chegará o momento de escolher entre a realidade e o sonho.
COM UMA NARRATIVA NO LIMIAR DO ETÉREO, MARTA LAMALFA TRAZ À LUZ FACTOS ESQUECIDOS E TRANSPORTA-NOS POR UMA ESCRITA RADIANTE E ONÍRICA, ENTRE A REALIDADE E O SONHO.
«Neste romance, as relações de poder entre mulheres são muito importantes, mas também o são as relações entre homens e mulheres. Espero — e é uma esperança para a literatura escrita por mulheres em geral — que consiga ser apreciado por todos, transpondo distinções que deveriam estar ultrapassadas num mundo onde a fluidez começa finalmente a ser aceite.» - Marta Lamalfa
Cris
segunda-feira, 3 de março de 2025
“Olhos D´Água” de Conceição Evaristo
Escrita de apurada beleza, com sentidos profundos, onde permanecemos encantados com o seu som, a sua música. Contos maioritariamente sobre mulheres negras, vidas pautadas de dor e sofrimento. A pobreza e a morte ligadas como almas gémeas. Mulheres com filhos, muitos, capazes de tanto dar.
Mulheres capazes de amar tanto. Algumas fazem-se mulheres ainda meninas: “Um dia, aos treze anos, a cama do gozo foi arrumada em pleno terreno baldio” (pág.60).
É uma escrita feita de coisas que se dizem de forma bonita, fazendo o leitor permanecer nessas palavras, relendo.
Não sou leitora de contos, não me preenchem tanto quanto histórias longas. E, no entanto, por vezes, veem-me parar às mãos alguns livros bonitos, cheios de sentido. Profundos como este.
Terminado em 4 de Fevereiro de 2025
Estrelas: 4*
Sinopse
Em "Olhos D'Água" Conceição Evaristo Ajusta O Foco De Seu Interesse Na
População Afro-Brasileira Abordando, Sem Meias Palavras, A Pobreza E A
Violência Urbana Que A Acometem. Sem Sentimentalismos, Mas Sempre
Incorporando A Tessitura Poética À Ficção, Seus Contos Apresentam Uma
Significativa Galeria De Mulheres: Ana Davenga, A Mendiga Duzu-Querença,
Natalina, Luamanda, Cida, A Menina Zaíta. Ou Serão Todas A Mesma
Mulher, Captada E Recriada No Caleidoscópio Da Literatura Em Variados
Instantâneos Da Vida? Elas Diferem Em Idade E Em Conjunturas De
Experiências, Mas Compartilham Da Mesma Vida De Ferro, Equilibrando-Se
Na ""Frágil Vara"" Que, Lemos No Conto ""O Cooper De Cida"", É A ""Corda
Bamba Do Tempo"". Sem Quaisquer Idealizações, São Aqui Recriadas Com
Firmeza E Talento As Duras Condições Enfrentadas Pela Comunidade
Afro-Brasileira.
Cris