Este livro, romance finalista do Prémio Leya, foi um chamamento para os meus olhos. A sinopse agradou-me por se tratar de um assunto para mim desconhecido. No séc. XVII, por volta de 1637, cerca de 35 000 camponeses japoneses refugiaram-se no castelo de Hara, fugidos que estavam dos tributos excessivos que não lhes deixavam, sequer, víveres para sobreviverem e também fugidos da proibição de professarem o cristianismo (kirishitans). Resistiram ao longo de vários meses e foram comandados por um jovem de 16 anos a quem atribuíam poderes especiais, "milagres", e era conhecido pelo "mensageiro do céu". Esta tentativa de resistência e revolta da população ficou conhecida pela Rebelião de Shimabara. O xogunato de Tokugawa enviou uma força de mais de 125 000 tropas para combater os revoltosos e após um cerco prolongado, obtiveram a vitória, exterminando os sobreviventes. A política de perseguição formal aos cristãos continuou até à década de 1850. (Informações retiradas da Wikipédia).
Finda esta explicação histórica, que adorei conhecer ao longo destas páginas, vamos ao romance e à escrita de Raquel Ochoa. Podia ser uma "seca" contar tudo isto? Podia, mas não foi. Ao introduzir a história de uma mãe e do seu filho - Jana e Tago - que se juntaram à multidão que caminhava em direcção a Hara, uma pitada de romance e mistério foi colocada acertadamente na trama o que levou a fixar a minha atenção e a ler com muito gosto esta obra.
Haru, um ex-samurai; Clarimundo, um missionário português; a irmã e o pai de Haru, invisual de muita idade, apimentam e completam esta trama. Segredos antigos, um fim que todos temem e que o leitor suspeita, fazem querer ler mais depressa. Mas há sempre surpresas na ficção e Jana é uma mulher lutadora, que sabe manejar armas e faz de tudo para salvar o seu filho. Que fim a aguarda?
Escrita cuidada mas simples (algumas palavras preferiria que tivessem notas de rodapé em vez de um glossário no final) que me conquistou. No meu coração permanece sempre a lembrança do primeiro livro que li desta autora em Setembro de 2010, A Casa-Comboio. Posteriormente li Mar Humano e O Vento dos Outros.
Recomendo muito se for uma temática que vos interesse, esta de um país culturalmente muito diferente do nosso.
"- Toda a vida sempre pensei que a fé é o maior dom - dizia-lhe a avó, preparando-a para o desconhecido, suspeitando não ser compreendida pela neta. -E não precisas de pôr esse ar sério, a fé ajuda-nos a imaginar o futuro.
- Que interessa o futuro? O futuro vai ser igual ao presente, que já é igual ao passado.
- O futuro é sempre melhor porque nele colocamos a esperança." (pág. 113)
Terminado em 21 de Junho de 2024
Estrelas: 5*
Sinopse
Japão, 1637.
Com a proibição de professar o cristianismo e a imposição de avultados tributos à população, cerca de 35 000 camponeses liderados por um general-menino com reputação de fazer milagres invadiram várias fortalezas governamentais e acabaram por se refugiar na ruína do castelo de Hara.
Reconstroem-no em conjunto para resistir, ao longo de vários meses, à resposta do xogum – um cerco implacável levado a cabo pelas suas tropas.
Entre os que lutam contra a tirania, encontram-se Jana e o seu filho pequeno, bem como o ronin Haru – samurai renegado e agora ao serviço do seu povo.
Apesar do ódio mútuo inicialmente sentido, Haru não consegue ficar indiferente a essa mulher que carrega um mistério e sabe pegar em armas, nem ao ciúme provocado pela relação dela com o missionário Clarimundo, um dos poucos portugueses que ainda não deixaram o Japão.
Mas são forçados a lutar em conjunto e, no caos que só a guerra poderia causar, os sentimentos entre estas três personagens vão exacerbar-se.
Tal como no final do cerco, não existirá redenção, só a grande busca da liberdade.
E a certeza de que há vida enquanto houver amor.
Este é um extraordinário romance sobre um episódio real, que foi finalista do Prémio LeYa em 2023.
Cris
Quando a uma escrita e a uma história cativante se junta a possibilidade de aprender sobre factos históricos, tudo se combina para bons momentos de leitura.
ResponderEliminarFoi o que aconteceu aqui, Alexandra!
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