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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

"Quarto de Despejo, Diário de uma Favelada" de Carolina Maria de Jesus

Ouvi falar bem neste livro e li-o em ebook na versão brasileira. Creio que há já uma editora que o publicou cá em Portugal. É um diário escrito por uma mulher que viveu numa favela em S. Paulo, Brasil. Foi começado a escrever em 15 Julho de 1955 passando depois para 1958.

São pequenas entradas contando alguns apontamentos diários de sua vida. Carolina vive com os seus três filhos em condições de pobreza extrema. O seu barraco tem chão de terra batida e não tem água. O seu objetivo diário é a sobrevivência dos seus e por isso "cata" papel, ferro e o que consegue aproveitar para vender nas ruas da cidade. A ida para buscar água é diária. Sabe que o seu aspecto é, a maior parte das vezes, imundo e que, fora da favela, a olham com nojo. 

A fome é uma constante. A delinquência, os maus tratos, a violência, os roubos são os seus vizinhos de bairro. A bebida é um paliativo para a maior parte dos seus vizinhos. Bebem para festejar e bebem porque estão tristes. Carolina não bebe e, a maior parte das vezes, é uma mulher alegre, determinada em conseguir um futuro melhor para si e os seus mas as condições em que vive são de tal ordem que se deixa abater em muitas situações para logo se recompor...

Gosta de ler e escreve o que sente e o que vê. Os vizinhos sabem disso e é marginalizada em muitas situações por ser "diferente". Tem uma consciência política da situação vivida no país de então, verdadeiramente fora do que o leitor poderia esperar e escreve porque quer que fiquem a conhecer como vive um favelado e como é difícil prosperar naquelas condições.

Um relato impressionante, algo repetitivo, porque a vida para Carolina são dias e dias de uma luta sem resultados positivos visíveis. E a fome sempre lá.

Terminado a 5 de Setembro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

«O texto de Carolina é acima de tudo um texto que interroga. Não só a sociedade e a política, mas também a literatura, os processos de tornar-se autor e de manter-se autor, em todo e qualquer lugar no qual o lugar de autor é ainda primordialmente tomado como sinonímia de um tipo muito específico de sujeito - homem, branco. Por essa razão, Quarto de despejo provocou um abalo sísmico no sistema literário; porque foi capaz de traduzir em ato um principio da autora: "na minha opinião escreve quem quer". Em consequência, Carolina abriu os caminhos para que possamos hoje pensar sensibilidade estética e elaboração narrativa como um dever aberto, e não como um a priori restrito a determinadas conjugações sociais, que tornam alguns sujeitos "legítimos" para serem autores e outros não.»

Cris

4 comentários: