Fiquei a pensar neste livro quando o terminei de ler, a aperceber-me da história na sua totalidade, a deixar-me envolver por ela. Só mesmo após o terminus desta leitura isto aconteceu porque Sara Stridsberg foi apresentando esta história em pequenos flaches, capítulos pequenos que caminham para a frente e para trás, misturando o passado e o presente mas sem que o leitor se perca neles.
Muitas das cenas, quase cinematográficas, são passadas no Hospital Psiquiátrico de Beckomberga em Estocolmo, Suécia, onde Jackie visita frequentemente seu pai que se encontra internado aí. Jim é dominado por uma tristeza profunda, vive com intensidade mas muito rapidamente se deixa abater por essa tristeza que o consome ao ponto de desejar e tentar o suicídio mais do que uma vez. A morte está sempre presente nas conversas entre pai e filha. Uma certa indiferença da parte de Jim e um desejo de ser (mais) amada por parte de Jackie. Até onde se pode amar?
E é aí nesse sítio que Jackie descobre o amor e cria laços profundos com as pessoas que aí vivem. Paul, Sabina, Edvard. Mas uma dúvida persiste no seu interior, como que a medo: terá também ela vontade de desaparecer, como o pai? O medo de ser igual permanece durante quase toda a sua vida.
Um ensinamento Jackie aprende com seu pai, Jim: a verdade deve ser dita sempre, mesmo quando magoa. E é isso que ela pretende ensinar ao filho, Marion. Sempre a verdade. No entanto, deseja também que ele nunca duvide do seu amor. A sua presença na vida de Marion é uma constante. Presença que Jackie não teve quando adolescente e, por isso, busca o amor do pai sofregamente, intensamente, mesmo depois de adulta.
Com uma escrita fluída, Sara Stridsberg conta-nos uma história através de pedaços da vida de Jackie, Jim e Lone, seus pais e, com eles, temos de montar o puzzle. São pedaços de vida que nos são atirados com dor, de repente, mas com beleza também. É uma leitura exigente, que deixa o leitor a pensar. Gostei.
Terminado 4 de Agosto de 2016
Estrelas: 5*
Sinopse
Quando Jimmie Darling é admitido no hospital psiquiátrico Beckomberga, nos arredores de Estocolmo, a sua filha Jackie começa a passar cada vez mais tempo na instituição, até que esta se torna todo o seu mundo quando a mãe parte numa viagem de férias. No hospital conhecemos o médico responsável, Edvard Winterson, que às vezes leva Jimmie e outros doentes a grandes festas na cidade. «Uma noite passada fora do recinto do hospital torna-vos novamente humanos», diz ele. Conhecemos também Inger Vogel, uma «enfermeira angélica de socas», que parece habitar um mundo entre a ordem e a devastação, bem como a doente Sabina, objeto dos desejos tanto de Jimmie como de Edvard, com as suas contas coloridas e a sua obsessão com a liberdade e a morte. A Gravitação do Amor, um livro de uma beleza arrasadora, explora o amor de Jackie por Jim e o modo como tenta aproximar-se dele, tanto em criança como em adulta e já mãe, tendo sempre como pano de fundo Beckomberga, na sua dimensão quase mítica de anjo punidor e redentor de espíritos atormentados.
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