
Não acreditam? Então pensem no seguinte: a História, para ser boa, não tem de ser atraente, basta-lhe ser verdadeira, ser bem elaborada e documentada, ter rigor. Com o romance as coisas não são bem assim. É necessário criar personagens credíveis e preferencialmente ricas de um ponto de vista psicológico e humano, é preciso transmitir
sentimentos, é forçoso prender a atenção do leitor e a escrita deve ser elegante e imaginativa. Um romance não é um estudo, tem de dar prazer a ler. E as diferenças entre Literatura e História não se ficam por aqui. Na História os acontecimentos que o historiador analisa e narra já ocorreram, trata-se apenas de os identificar, de os interpretar e de dar conta deles ao leitor. No romance é preciso inventar e fabricar a intriga, ou, pelo menos, uma grande parte dela. Mais difícil, não vos parece? Se posso fazer um paralelo, o historiador é assim como o Vasco da Gama, isto é, uma pessoa cuja missão é encontrar um caminho marítimo para uma terra — a Índia — que já se sabe que lá está, só precisa de ser mostrada e tornada acessível. O romancista está mais próximo de Cristóvão Colombo, alguém que vai descobrir um Novo Mundo que, para os habitantes do Velho Mundo, ainda não existe, no sentido de que ainda ninguém o conhece nem sabe que lá está.
Apesar de ser muitas vezes olhado como um género menor dentro da Literatura, o bom romance histórico é, em minha opinião, um exercício literário de alto grau de dificuldade porque, para ser bem conseguido, terá de realizar um estreito cruzamento entre a ficção e a verdade histórica. Tudo tem de bater certo e ser coerente. Dito de outra forma, a pessoa que escreve um romance histórico tem de estar quase sempre a meio caminho entre o Vasco da Gama e o Cristóvão Colombo e essa é uma rota difícil de descobrir e manter.
Terei conseguido arranjar boas rotas nos quatro romances históricos que já escrevi? Eu julgo que sim, mas a opinião que verdadeiramente conta não é a minha, é a dos leitores.
João Pedro Marques
Entrevista dada à RTP em http://www.rtp.pt/play/p842/e211609/mar-de-letras
Fiquei com curiosidade de ler os livros de João Pedro Marques :)
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