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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A Convidada Escolhe: Bestiário de Kafka


Bestiário, Franz Kafka, 1912, 1915, 1917, 1918, 1920, 1921, 1922, 1923, 1924

Antes de mais, quero dizer que não tenho uma relação fácil com Kafka. Há tempos iniciei a leitura de “O Castelo” que se arrastou penosamente e que acabei por deixar a mais de meio, com um marcador que assinala o momento em que achei que já bastava! Eu sei que Kafka é considerado um dos mais importantes autores do século XIX e cito a informação da contracapa do exemplar da colecção “Autores Premiados pelo Tempo”, exactamente o volume 12 – “ O Castelo” – de “Grandes autores que nunca ganharam o Prémio Nobel reunidos numa colecção única e irreverente”: “Franz Kafka não ganhou o prémio Nobel por não ser um autor consagrado quando a morte o levou. Algumas das suas principais obras, como “O Processo”, “O Castelo” ou “América” só foram publicados postumamente pelo seu amigo Max Brod, que não respeitou o pedido de Kafka para que estas fossem destruídas.”

É muito raro não levar um livro até ao fim, mas revejo-me completamente senão em todos  “Os Direitos Inalienáveis do Leitor” de Daniel Pennac pelo menos no 3º direito “O Direito de não acabar um livro”! Há tanto para ler e independentemente da justeza e da pertinência dos temas de Kafka, a sua leitura deixou-me cansada, deprimida mesmo. Na minha opinião, ler Kafka, entrar no seu mundo é perceber que para ele o mundo lhe era insuportável e que a vida foi algo de muito penoso.

Mas como gosto de me questionar e fui/fomos como participantes do Clube de Leitura da Bertrand do Chiado convidados a aventurar-nos nos “Diários” e no “Bestiário” de Kafka, escolhi este último, uma colectânea de contos em que os animais são narradores ou personagens principais.

Se nestes contos há temas que me parecem evidentes, noutros as próprias personagens podem ser sujeitos de leituras muito diversas e de interpretações bem diferentes. Nada em Kafka é linear ou unívoco. Kafka é suficientemente ambíguo e perturbador para deixar em aberto as muitas acepções dos seus livros, das suas propostas, permitindo múltiplas leituras e interpretações das suas obras.

Em “A Transformação” ou “ A Metamorfose” face à transformação de Gregor Samsa num “monstruoso insecto”, a família considera que foi atingida por uma desgraça e rejeita-o, esconde-o, despreza-o, agride-o. Como ninguém o aceita como ele é, Samsa percebe que não tem outra coisa a fazer senão desaparecer e morre, o que constitui um alívio para os pais e irmã e a possibilidade de um futuro sorridente para eles, libertos daquele estorvo. A metáfora do insecto monstruoso é o medo e a não aceitação da diferença, que pode ser a doença, a deficiência, a deformidade física ou a escolha de um caminho fora da norma socialmente estabelecida.

Em “Relatório a uma Academia” é pedido a um macaco que faça um relatório da sua anterior vida, antes de ter sido capturado na Costa do Ouro. Difícil este relatório, na medida em que o macaco foi adestrado e já mal se lembra como era. Primeiro aprendeu a dar um aperto de mão e depois aprendeu a palavra. Para sobreviver ao cativeiro, consciente de que jamais poderia ansiar à liberdade, aquilo por que todos os humanos aspiram sem nunca conseguirem alcançar, o símio percebeu que precisava de uma “saída” e para tal só tinha de imitar os humanos. Embora sendo-lhe insuportável a domesticação, essa foi afinal a única saída possível. Creio estarmos aqui perante uma reflexão sobre os limites da liberdade e sobre os limites que a sociedade impõe a todos os humanos que julgando-se livres, não o são de facto. Este tema da liberdade está também presente na “Fábula Breve” em que o rato se apercebe de que o seu mundo se vai estreitando cada vez mais, acabando por ser devorado pelo gato, quando foge da ratoeira. E se em “Investigação de um Cão” o cão iniciou as suas investigações quando ainda era cachorro e agora já é velho, para saber “que erro decisivo e determinante cometeu” sem encontrar respostas, passa o tempo a fazer perguntas sobre a ciência, sobre a alimentação e sobre a experiência, para concluir que a liberdade é o mais importante. “A liberdade! Certamente a liberdade, tal como ela é possível hoje em dia, é uma miserável excrecência. Mas ainda assim é a liberdade, ainda assim uma posse.”

“A Toca” foi construída por um animal que não sabemos identificar. A toca é “um grande buraco que não conduz a parte nenhuma”. É um labirinto, com túneis, galerias e uma praça-forte onde armazena presas que vai capturando. Sente-se seguro, tem alimentos suficientes para viver, tem silêncio e paz. Aquele é o seu “castelo”. Mas aquela segurança não lhe basta e aventura-se para o exterior para observar e para se assegurar da sua inexpugnabilidade. Quando de volta ao seu “castelo” transportando mais uma presa, começa a ouvir um ruído, o que põe em dúvida todas as certezas de segurança e invencibilidade que o seu esconderijo cheio de comida lhe dava. Como muitas pessoas que armazenam fortunas e bens e se entrincheiram num falso casulo de segurança, mas que um dia, perto da velhice e da morte se confrontam com a certeza da morte e com a sua própria fragilidade. Um texto também ele labiríntico e que ficou inacabado, como aconteceu com muitos dos romances de Kafka.

Por fim, “Josefina, a Cantora ou o Povo dos Ratos”. Josefina aparece como uma cantora, mas poderá representar um herói ou uma pessoa ilustre, alguém que num determinado período teve um papel agregador dum povo ou duma comunidade. Mesmo que esse povo, pouco dado à música, se sentisse atraído por ela. É um conto cheio de adversativas. Para mim, cheio de questões que ficaram em aberto.

Finalmente, quero valorizar o livro físico, com uma capa dura com desenhos e separadores muito interessantes.

22 de novembro de 18

Almerinda Bento

terça-feira, 27 de novembro de 2018

"Meu" de Susi Fox

Gostei muito desta leitura. Achei-a credível e senti uma imediata empatia com a narradora e principal personagem, Sasha, uma médica patologista que acabou de dar à luz depois de anos de tentativas falhadas. 

Envolvi-me de imediato com a escrita da autora. É real, cheia de palavras urgentes que nos impelem para uma leitura compulsiva. Os termos exactos, as sensaçōes contraditórias após um parto inesperado antes do termo por cesariana, a necessidade de sentir amor por um ser que é apresentado como sendo "nosso" no final de uma anestesia geral, tudo achei verosímil no discurso de Sasha. Tanto que acreditamos nas suas sensaçōes, nas suas desconfianças quando afirma que aquele bébé nāo é o seu.

Foi um livro de leitura muito rápida, com a minha mente a formular mil ideias do que poderia ter acontecido dadas as voltas e reviravoltas que a própria Sasha transmite ao colocar para si própria as várias hipótese e as suas desconfianças. Chegamos a desconfiar de tudo e de todos, inclusivé da sanidade mental da protagonista. Sasha sofrerá de alguma patologia?

Adorei este tumulto de hipóteses, este nāo saber o que contar e tive uma frenética vontade de saltar frases, páginas para chegar ao fim. Adorei o final. Uma desconfiança, um pequeno alerta, vai ficar-vos presente mesmo após o términus do livro. Achei isso espectacular! Como é evidente nāo posso falar-vos de como termina esta história nem tampouco dessa dúvida que a autora deixou em aberto e que achei uma ideia fantástica. 

E nāo, nāo descobri nada do final. Serei muito básica nesta coisa de trillers dado a autora ter-me enganado constantemente durante esta leitura?

Terminado em 23 de Novembro de 2018

Estrelas: 5*

Sinopse
Uma mãe diz que o recém-nascido que lhe trazem não é seu. Depressão pós-parto? Ou um dos piores pesadelos de uma mãe? Sasha vê-se obrigada a um parto prematuro, por cesariana. Mas quando o bebé nasce, ela diz que não é seu. Todos interpretam aquilo como um caso grave de depressão pós-parto, mas a situação piora. Sasha torna-se amiga de Brigitte e fica horrorizada ao descobrir que o filho dela é de facto o seu.

O bebé acaba por morrer de uma infeção e Sasha dá tudo por tudo para ficar com o seu «filho» Toby.

Cris

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

"Wonderstruck, o Museu das Maravilhas" de Brian Selznick

Este livro é um livro de peso. Muito peso mesmo! E nāo falo só em sentido literal porque, de facto, ele deve ser um dos livros mais pesados da minha estante, mas em sentido figurado também! É de "peso" sim porque é uma pequena maravilha da literatura. 

Fisicamente é um livro lindíssimo! Autor e ilustrador reunidos numa só pessoa fazem com que a complementariedade entre a escrita e a ilustraçāo resulte num livro belíssimo. Duas histórias separadas por meio século sāo contadas, uma por texto, outra por ilustrações. E como nāo podia deixar de ser acabam por casar-se no final, fazendo sentido e explicando as pontas deixadas a meio das histórias. E que engraçado foi sentir-me impaciente e tentar passar depressa as folhas com as ilustraçōes para pôr-me ao corrente mais depressa do enredo...

Adorei! Um livro para miúdos e graúdos! Uma belíssima prenda de Natal.

Estrelas: 6*

E nāo podia deixar de vos mostrar algumas ilustraçōes para que possam imaginar as restantes:







Cris

sábado, 24 de novembro de 2018

Na minha caixa de correio

  

  

L
  


Todos estes livros foram ofertados pelas editoras parceiras do blogue. Obrigada Coolbooks, Planeta, Porto Editora, Companhia das Letras, Quinta Essência, Clube do Autor , Alfaguara e Cultura. Fizeram desta semana o meu Natal!

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Para os Mais Pequeninos: "O Livro Dos Erros"

Que livrinho engraçado este! É certo que o "li" num ápice, quase a voar, porque fiquei curiosa com o desenrolar do "erro" de desenho por onde começa esta história... mas, vocês, quando estiverem com uma criança por perto nāo sejam tāo gulosos como eu fui e prolonguem o tempo em que estāo em cada página porque é dos pequenos pormenores que vive esta história.

Ver com atençāo é a leitura proposta por esta obra. Achei-a tāo engraçada que vos desvendo um pouquito do véu...

Ora vejam:






Cris

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

"Mindhunter" de John Douglas e Mark Olshaker

Para além de um "Māe, este livro é de uma série da Netflix!", pouco sabia sobre ele. Qualquer coisa sobre "assassinos" mas nāo fazia ideia que era de "nāo ficçāo".

O livro é quase uma auto-biografia de John Douglas (creio ter sido escrito por Mark Olshaker) e, na primeira pessoa, conta-nos o seu percurso profissional, de como um aluno mediano passou a um excelente "caçador de mentes". Já explico melhor...

Preparem-se para ouvir falar de vários assassinos, a maior parte deles, assassinos em série, dos mais macabros e horriveis que possam ter ouvido. O pior é que se trataram de casos verídicos passados dos EUA e felizmente, quase todos, terminaram com a captura do criminoso. Ao mesmo tempo vamos acompanhando a vida pessoal e a progressāo profissional de Mark. 

O estudo da Ciência do Comportamento, negociaçāo de reféns, as técnicas de elaboraçāo de perfis, a análise do comportamento e psicologia criminal, as técnicas pro-activas elaboradas para atrair os criminosos, sāo temas que vāo ser abordados no decorrer da leitura e que achei deveras interessantes.

Mas nāo pensem que se trata um "manual do assassino" onde se podem encontrar as fórmulas usadas pelo FBI para elaborar, com base nas fotos e relatos dos acontecimentos, perfis dos assassinos. Sāo muito surpreendentes esses perfis e, muitas vezes, foi com eles que conseguiram alcançar os verdadeiros criminosos. 

Uma vida muito interessante de se conhecer, embora o preço a pagar, da intensa dedicaçāo ao trabalho, fosse, na minha opiniāo, muito elevado.

Acho que quem gosta de saber mais sobre o tema deve ler esta obra. Eu gostei muito de o fazer. 

Terminado em 18 de Novembro de 2018

Estrelas: 5* 

Sinopse
Os bastidores de alguns dos casos mais terríveis, mais impressionantes e desafiadores investigados pelo FBI .

Ao longo de mais de duas décadas ao serviço desta instituição, o agente especial John Douglas tornou-se uma figura lendária, com uma ação exemplar na aplicação da lei e na perseguição aos mais sádicos e violentos homicidas do nosso tempo.

Tal como John Crawford em O Silêncio dos Inocentes, Douglas confrontou, entrevistou e estudou muitos assassinos em série, entre os quais Charles Manson, autor dos macabros crimes de Los Angeles no final da década de 1960. Com uma extraordinária habilidade para se colocar quer no lugar da vítima quer na do criminoso, Douglas analisa cada cena do crime, revivendo mentalmente as ações de um e de outro, definindo os seus perfis, descrevendo os seus hábitos, antevendo os passos seguintes.

Um fascinante relato de vida de um agente especial do FBI e da mente dos mais perturbados assassinos em série que ele perseguiu.

Escrito com a força de um thriller, embora assustadoramente real, Mindhunter é um clássico do género. Um livro que serviu de inspiração à série homónima da Netflix.

Cris

sábado, 17 de novembro de 2018

Na minha caixa de correio

  

 
O Desculpe Sr Nobel  comorei num alfarrabista juntamente com Os Segredos da Fermentaçāo.
Ofertados pelas editoras parceiras chegaram:
- A Provadora e Um Bom Partido pela Saída de Emergência
- Foi Sem Querer Que Te Quis pela Manuscrito

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Para os Mais Pequeninos: "Mortina, Uma História de Morrer a Rir"

A capa e o título deste livro podem parecer um pouco macabros visto que se trata de contar uma história para a criançada mas esqueçam lá isso! A Mortina, uma menina sem amigos que por acaso está morta é deliciosa! Endiabrada e bastante solitária ela só tem um desejo: brincar com os meninos que observa às escondidas! O Halloween é o pretexto para sair à socapa, sem a tia ver, e misturar-se com a miudagem!

Será que ela vai conseguir manter o seu segredo?

Um livro divertido, cheio de pormenores, com desenhos muito criativos e uma história amorosa onde a amizade ultrapassa todas as barreiras... Afinal, as crianças veem as coisas de outra forma, nāo é?

Ora espreitem lá...






Cris

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A Escolha do Jorge: "A Saga de Selma Lagerlöf"



“Tive sempre presente em mim a ideia e a certeza de que toda a literatura deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.” (p. 103)

A edição de “A Saga de Selma Lagerlöf” de Cristina Carvalho constitui uma agradável surpresa no contexto das publicações neste final de ano. Para quem segue a escritora através da sua página do Facebook, pôde acompanhar a sua recente viagem à Suécia a fim de recolher informação sobre Selma Lagerlöf, a grande e amada escritora sueca, com a finalidade de escrever este romance biográfico.

Escrito num discurso intimista em que por vezes se confundem as vozes de ambas as escritoras, é notável e até comovente a homenagem que é feita a Selma Lagerlöf (1858-1940) por parte de Cristina Carvalho.

Embarcamos nesta viagem literária e não raras vezes ouvimos os barulhos das criaturas da floresta com toda a magia que a imaginação pode criar e transportar. Várias são igualmente as vezes em que nos parece ouvir a própria Selma Lagerlöf no meio de tanta magia e seres fantásticos, mas também junto de personagens maravilhosos e inesquecíveis dos seus romances.

Ler Selma Lagerlöf é descobrir um amor duradouro porque desperta em cada um de nós a vida e o
fantástico, alimenta em nós a ideia fervilhante da vida em que a imaginação e a criatividade precisam de ser estimuladas, fomentando a arte e os valores, no fundo.

Natural da província de Värmland, Selma Lagerlöf transpôs para as suas obras a essência primordial da cultura sueca. Värmland é “a região povoada por seres da mais requintada fantasia: feiticeiras, trolls, gnomos de todas as espécies, duendes, anões e fadas. Em todas a vasta Suécia, é este o território de todas as grandes fantasias.” (p. 34)

Através de uma escrita simples e de fácil compreensão para todos, Selma Lagerlöf rompeu com as correntes literárias de então, o realismo e o romantismo, sendo bastante criticada pelos seus pares, principalmente por August Strindberg. Talvez tenha sido essa ideia de fantástico que tenha despertado a imaginação dos leitores das obras de Selma Lagerlöf e, em função disso, os tenha remetido, para a ancestralidade da sua cultura e esse fantástico que de alguma forma nos desperta.

Selma Lagerlöf desde criança conviveu com a ideia permanente de magia e de fantástico desde as prédicas da velha tia Wennervik que lhe vaticinou o futuro, desde a deficiência numa perna à sua relação com os livros.

O problema físico que paralisou Selma Lagerlöf durante alguns anos obrigou-a a ficar muito tempo em casa, na grande propriedade em Mårbacka, onde nasceu e viria a falecer. Selma Lagerlöf tentava perceber à distância os barulhos e ruídos das rotinas caseiras, da floresta envolvente e de grandes eventos como as caçadas que envolviam vários homens num conjunto de rituais que, no final, esquartejavam os animais, dividindo a carne para as várias famílias envolvidas na caçada.

A par de todos estes momentos e episódios que decorriam ao longo dos anos ao sabor das estações do ano, Selma Lagerlöf contou ainda com a presença de Backa-Kajsa, uma empregada ao serviço da família, que lhe contava histórias repletas de fantasia e mistério sendo reforçadas com uma linguagem corporal adequada. “Com Backa-Kajsa, descrevi grande parte da infância em muitos dos livros que escrevi. Em todos os cenários de festa, de tristeza, de mistério, fantasias, bruxedos e aventuras, de alguma forma, Backa-Kajsa está presente. Tão presente quanto uma imagem e uma lembrança de infância conseguem ser retidas ao longo de toda uma vida.” (p. 68)

Os anos foram passando e Selma Lagerlöf tornou-se professora de História e Literatura numa escola para raparigas. Os seus métodos de ensino tornaram-na bastante popular e acarinhada pelas alunas. A par da sua actividade como professora, Selma Lagerlöf tornou-se numa acérrima defensora do feminismo e dos direitos das mulheres.

Na sequência de um concurso na revista literária “Idun”, em 1890, Selma Lagerlöf publica o seu primeiro romance “A Saga de Gösta Berling”, no ano seguinte, chamando a atenção do grande público. Mais tarde, em 1907, seria publicado o livro que levaria a escritora a conquistar leitores de todas as idades com “A Viagem Maravilhosa de Nils Holgersson através da Suécia”. Estas são as obras mais vendidas de Selma Lagerlöf na Suécia e das mais traduzidas em todo o mundo na sequência da autora ter sido galardoada com o Prémio Nobel de Literatura, em 1909, tendo sido a primeira mulher a receber semelhante prémio. De referir ainda que, em 1914, Selma Lagerlöf tornou-se também na primeira mulher a integrar a Academia Sueca numa época em que só homens eram admitidos.

No que concerne à vida amorosa, a escritora sueca mostrou-se também uma mulher à frente do seu tempo. Tendo como suporte o feminismo e a luta pela emancipação das mulheres, Selma Lagerlöf teve dois relacionamentos amorosos duradouros com duas mulheres, a judia Sophie Elkan e Valborg Olander. “Eu amei duas mulheres, aliás, amei três assuntos femininos, Mårbacka, Sophie e Valborg. Dei-lhes todos os meus melhores sentimentos, sofri e alegrei-me com elas. E o meu sentir apaixonado foi sempre o que tive de melhor na minha vida. Quero lá saber o que pensam de mim! Eu quis amar, dar o meu sangue interior. O meu pai percebeu-me sempre muito bem. Ele sabia o sentia tudo o que está no interior das florestas. Eu fui uma floresta.” (p. 137)

Muito se poderia dizer sobre a vida e a obra Selma Lagerlöf e, na verdade, a autora Cristina Carvalho faz essa chamada de atenção no final deste romance biográfico, no entanto, esta obra constitui um marco na revitalização das obras de Selma Lagerlöf, assim como, reposicionar o lugar da escritora sueca no contexto dos grandes escritores intemporais que deixam marcas indeléveis nos seus leitores. O mesmo se pode dizer deste romance biográfico que nos aproxima ainda mais de Selma Lagerlöf,
aproximando-nos do seu mundo, da sua floresta.

Compreendemos, desta forma, a razão de tantos e tão notáveis escritores oriundos dos países do Norte da Europa serem considerados “propriedade cultural” de toda a região e não somente do país de nascimento de cada um. A universalidade dos temas tratados, a par do amor que lhes é conferido, fazem de escritores como Selma Lagerlöf um dos nomes que mais contribuiu para a grandeza da Literatura.

Excerto:
“No fundo, nada interessa. O que restará? Quem pode dar alguma importância, a quem pode interessar a descrição do interior de uma casa? Só mesmo a ti, minha amiga Cristina Carvalho, que te apaixonaste por mim de uma maneira tão intensa e desinteressada, que te apaixonaste por uma pessoa que aí para os teus sítios de vida poucas pessoas conhecem. Pretendes alguma coisa, realmente, ao escrever, nesta forma de romance biográfico, a minha vida? Desejas que todos fiquem a conhecer-me e a gostar dos meus livros? Não penses nisso! Se quisessem conhecer-me já tinham tentado, já teriam lido, pelo menos “A Viagem Maravilhosa de Nils Holgersson através da Suécia”, esses livros que, a seguir a “A Saga de Gösta Berling”, me tornou famosa no mundo inteiro! Queres render-me homenagem? E quando viajas pela velha Suécia, pelo seu interior, quando vagueias pelas florestas ou quando admiras os lagos e as paisagens planas e ouves o uivo do lobo e o rosnar do urso? Achas que alguém se interessa por ti ou por mim quando, na margem de um lago qualquer, quase a tocar o céu iluminado pelo sol da meia-noite, te sentas e emudeces por tanta beleza? Queres vislumbrar a minha alma, eu sei, mas essa, nem essa já existe. Transformei-me. Morri há muito, mais exactamente em 1940, e saí daqui para sempre. Se é que – para sempre – quer dizer alguma coisa no todo da eternidade.
Continua, então, a descrever agora o interior da minha casa do modo mais terno e amável que conseguires. Imagina-me! Solta-me! Prende-me!” (pp. 153-154)

Texto da autoria de Jorge Navarro

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

"Nāo Te Afastes" de David Machado

Foi o nome do autor que me chamou a atençāo. A capa, seguida da sinopse fez o resto: tinha de ler este livro! Sim, eu sei que é um livro juvenil e o que eu gosto mesmo, quando nāo se trata de ler livros "para a minha idade", é ler livros infantis. Muitas das vezes devido às imagens e áquilo que com elas podemos ensinar aos miúdos. Mas este livro era do David (nāo o conheço pessoalmente mas permitam-me que o trate assim porque lhe reconheço a escrita) e tinha de o ler.

Oh pá! Gostei verdadeiramente de me embrenhar nesta leitura! Simples, verdadeira e comovente q.b.! Só me imaginava a lê-la a uma criança (se bem que, acredito, um miúdo do final do 2º ano já o conseguisse fazer sozinho) e ver a reacçāo dela às aventuras passadas pelo pequeno Tomás. Imaginaçāo nāo faltou ao autor e nāo foi difícil mergulhar na história muito embora a calamidade nela narrada nunca tenha acontecido em Portugal. 

Gostei da escrita, dos dois narradores existentes (o passado é contado pelo próprio Tomás, revivendo-o intensamente e o presente é narrado na terceira pessoa por um narrador omnisciente), da mudança perceptível da grafia quando se passa de um para o outro, da construçāo do jovem personagem cheio de coragem mas também cheio de dúvidas e de medos. 

Leitura que devorei e que aconselho a quem gosta de ler livros infantis/juvenis. 

Terminado em 10 de Novembro de 2018

Estrelas: 5*

Sinopse
Após a morte do pai, Tomás acredita que, por sua causa, coisas más acontecem; e, para proteger a mãe e os amigos, decide deixar o lugar onde viveu toda a sua vida.
Mas o país é apanhado por um furacão e, de um dia para o outro, o rapaz vê-se no meio de ruínas e inundações, perdido e desesperado. É, porém, no meio da tragédia que encontrará o mais inesperado dos amigos...

"Não te Afastes" é uma história comovente e fascinante sobre o desgosto da perda e o poder curativo da amizade.

Cris

sábado, 10 de novembro de 2018

Na minha caixa de correio

  

  

  

  

   


Da Editora Planeta chegaram cá a casa: Um Dia Em Dezembro e Adoro Yoga, Boa Noite Amigos;
Da 2020 Editora, com a chancela Fábula, chegou O Livro dos Erros,
Da Bizâncio chegaram Os Três Pestinhas e O Melro;
Vegetariano em Part-Time foi oferta da Arte Plural;
Os restantes foram "ganhos" nos passatempos do JN.