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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A Convidada escolhe: "Memória de Elefante"

Memória de Elefante, António Lobo Antunes, 1979

Um dos muitos livros que pensei que ainda não tinha lido, mas a verdade é que o folheio e descubro anotações, marcas de leitura antiga. A memória apagou-se; não tenho memória de elefante… mas reparo que, quer as anotações, quer os sublinhados não passaram um quarto do livro, pelo que não o devo ter concluído na altura. Na badana desta edição do Círculo de Leitores, leio que este foi o primeiro romance de António Lobo Antunes.

O narrador é um psiquiatra “vazio de tudo” (pág. 76) a viver um período negro na sua vida. A juntar ao total desprazer pelo sítio onde trabalha ”a inumana máquina concentracionária do hospital” (pág. 49), pelas pessoas com quem trabalha, é crítico do sistema que gera a doença mental e também crítico da própria psiquiatria”aqui estou eu a colaborar não colaborando com a continuação sito, com a pavorosa máquina doente da Saúde Mental trituradora npo ovo dos germenzinhos de liberdade que em nós nascem sob a forma canhestra de um protesto inquieto, pactuando mediante o meu silêncio o ordenado que recebo, a carreira que me oferece; como resistir por dentro , quase sem ajuda, à inércia eficaz e mole da psiquiatria institucional, inventora da grande linha branca de separar a «normalidade» da «loucura»(pág. 46), não consegue suportar a solidão pelo fim do casamento recente que o afastou das filhas e da mulher, que no entanto continua a amar, e as persistentes lembranças da guerra de África onde combateu.

Este é também um romance de Lisboa, das ruas por onde o psiquiatra conduz na sua deslocação ao fim do dia de trabalho, quando vai ao dentista, à sessão de análise de grupo e ao restaurante, antes de se dirigir pela marginal a caminho do seu apartamento no Monte Estoril “uma ilha estrangeira a que se achava incapaz de se adaptar, longe dos ruídos e dos cheiros da sua floresta natal.” (pág. 162)

Agora que o termino acho que percebo por que não o li até ao fim, numa altura em que deveria ainda nem ter quarenta anos. É deveras um livro pesado, carregado de angústia e solidão, profundamente pessimista, numa escrita densa e carregada de metáforas nem sempre fáceis ou acessíveis. Períodos longos, que obrigam a que se volte atrás para se apanhar o fio à meada da ideia principal, não foi um livro de leitura fácil, sobretudo porque o pessimismo é demasiado pesado e por vezes, até asfixiante.

Almerinda Bento





2 comentários:

  1. Creio que a minha disponibilidade mental actual não me permitiria desfrutar convenientemente de uma leitura tão pesada.

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