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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A Convidada escolhe: "As Inseparáveis"


As Inseparáveis, Simone de Beauvoir, 1954

Quando no ano passado li “A Força da Idade” de Simone de Beauvoir, lamentei já mal recordar “Memórias de uma Menina Bem-Comportada” que lera há muitos e muitos anos e que na altura teve um grande impacto no meu desenvolvimento. Aí, logo no início, se referia várias vezes a grande amiga Zaza e a enorme influência que essa amizade tinha tido na sua juventude e ao longo da vida. “As Inseparáveis” é um romance que vai ressuscitar essa amizade profunda entre Élisabeth Lacoin (Zaza) e Simone de Beauvoir. Para isso, em “As Inseparáveis” a autora cria duas personagens: Andrée que é Zaza e Sylvie/Simone, a narradora.

Conheceram-se com nove anos, numa escola de freiras católicas. Se antes de passarem a ser colegas de carteira, Sylvie não tinha amizades com ninguém em particular, “Todas as crianças que conhecia aborreciam-me” (p. 16), Andrée vai ser para ela uma revelação. Rebelde, confiante, frontal, independente (vai sozinha da escola para casa), habilidosa e muito inteligente, Sylvie vai nutrir pela colega uma amizade profunda, a tal ponto que, quando as férias as separam, confessa que “viver sem ela não era viver” (p. 22). Mas incapaz de revelar essa paixão, só para si própria confessava que “nos livros, as pessoas fazem declarações de amor, de ódio, têm coragem de dizer o que lhes vai na alma; porque é que isso não é possível na vida real?” (p. 29) e só bastante mais tarde lhe revelou que o que a ligava à amiga era muito mais do que estima.

No entanto, a narradora, ao aprofundar a sua convivência com a colega e com a família, vai descobrir insuspeitos aspectos da vida de Andrée, que sempre lhe parecera uma rapariga insubmissa e diferente do comum das jovens que conhecia. Filha de uma família numerosa, profundamente religiosa, tradicional, classista, conservadora, o destino que lhe estava previamente traçado, era o de não ter direito à escolha, de se moldar ao que a sociedade queria dela enquanto mulher, de reprimir desejos, de pôr a família em primeiro lugar e de seguir um destino igual ao da sua mãe, também ela castrada por uma mãe autoritária. A narradora descobre que a casa e a família de Andrée não passam de uma prisão; que os casamentos são arranjados, pois “um casamento por amor é considerado suspeito” (p. 84); que a alternativa ao casamento é o convento e que, afinal, a amiga é profundamente infeliz “Não tenho um minuto livre” (p. 79).

Em “As Inseparáveis” Andrée é a personagem central, sendo o papel da narradora o de desvendar a personalidade da amiga e em consequência, traçar o retrato de uma época, incidindo a atenção sobre a vida das mulheres e das raparigas de uma determinada classe social. Simone de Beauvoir tinha 46 anos quando escreveu este romance e o seu pensamento sobre a condição feminina estava amadurecido e já publicara “O Segundo Sexo” e “Os Mandarins”. Sendo “As Inseparáveis” um romance e não um ensaio filosófico, ele denuncia, contudo e de forma clara, a visão de um sector conservador e poderoso da sociedade francesa, o peso da ideologia da Igreja na construção do conceito de pecado ligado à sexualidade e aos sentimentos; os preconceitos de classe e de raça que discriminam pessoas e as tornam personae non gratae, ou, por exemplo, os medos daquele sector privilegiado da sociedade, de que o sufrágio feminino viesse beneficiar os inimigos da Igreja.

Na contracapa desta bela edição da Quetzal, com tradução de Sandra Silva, pode ler-se na sinopse, que o livro contém “um posfácio da filha adoptiva de Simone de Beauvoir – Sylvie Le Bon de Beauvoir – em que é feito um relato factual e cronológico desta amizade, da vida e do contexto familiar de Zaza, e um conjunto de cartas e de fotografias, As Inseparáveis é um livro de grande valor literário e documental e uma peça importante no conhecimento da vida e obra de Simone de Beauvoir”.

9 de Outubro de 2024

Almerinda Bento



domingo, 13 de outubro de 2024

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Setembro

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Setembro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado um vencedor! Foi ele:

R y k @ a r d o


Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 22, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

 
Cris


 

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

"Erva" de Keum Suk Gendry-Kim (GN)


É preciso comer um bife para conseguir pegar nesta novela gráfica, digo-vos já! São quase 500 páginas e quase que parece um tijolo de tão “grossa”! Se gostei? Sim, claro. Sabia  ao que ia pelo menos no que concerne às ilustrações porque desta autora já tinha lido "A Espera" e tinha gostado muito. Opinião aqui.

O tipo de traço é idêntico, como que feito por um pincel, e também é a preto e branco. A autora nasceu na Coreia do Sul e esta GN foi a que lhe deu mais projecção internacional.

Conta-nos a história de Ok-Sun, uma criança sul coreana, que viu os seus sonhos, a sua vontade de aprender e ir à escola e a sua vida no geral sacrificados porque, pertencendo a uma classe social extremamente pobre, se viu “vendida” pelos seus pais, durante a segunda Guerra Mundial. Posteriormente foi explorada como “mulher de conforto” pelos militares japoneses. A autora retrata através de Ok-Sun a vida de muitas mulheres aquando da ocupação japonesa, as humilhações e dificuldades por que passaram.

História verídica impressionante mas de uma resiliência e superação imensas. Gostei muito e recomendo!

Terminado em 15 de Agosto de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Uma história real que ilustra como a atrocidade da guerra devastou a vida de inúmeras mulheres. Erva é uma poderosa novela gráfica que conta a história verídica de Ok-Sun Lee, uma criança sul-coreana que, durante a Segunda Guerra Mundial, foi vendida pela família e explorada como «mulher de conforto», o eufemismo utilizado pelos militares japoneses para se referirem às suas escravas sexuais. Até hoje, este continua a ser um dos capítulos mais negros e chocantes da História. Ok-Sun Lee sobreviveu a décadas de desespero e, no fim da sua longa vida, tornou-se ativista pelos direitos das mulheres, dando a conhecer as suas dolorosas memórias. Com base nos seus relatos, Keum Suk Gendry-Kim ilustra o período que antecedeu a guerra a partir da perspetiva vulnerável de uma criança forçada a enfrentar as mais cruéis adversidades, valendo-se apenas da sua força e determinação para sobreviver. Com recurso a pinceladas a negro tão delicadas quanto duras, a autora descreve em pormenor a forma desumana como muitas raparigas de famílias humildes viveram a ocupação japonesa e a vida de sofrimento generalizado que herdaram. 

Cris

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

"A Estrada" Graphic Novel de Manu Larcenet (Adaptado da obra homónima de Cormac McCarthy)


Li, faz muito tempo, o livro com o mesmo nome de Cormac McCarthy e, na altura, sei que gostei muito. Dessa leitura recordo apenas que é retratado um mundo distópico e desolador e o longo caminho que pai e filho percorreram para encontrar um local seguro livre de agentes agressores: o mau tempo e o Homem mau. Por isso não sei se esta GN traduz com perfeição a história total. Parece-me que sim mas dos detalhes dessa leitura feita há muito já não me recordo.

No entanto, posso afirmar que esta foi a GN que já li que mais me impressionou pela qualidade das ilustrações! Pouco texto foi preciso porque as ilustrações são realmente sublimes, muito duras e parecem reais. Os personagens são a preto e branco, o fundo muda ligeiramente de cor de quando em quando.

Achei fantástica esta novela gráfica e, se tiverem oportunidade, folheiem-na! Verão que falo a mais pura das verdades! Fiquei mesmo rendida pelo que atribuo as estrelas máximas!




Terminado em 13 de Agosto de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Entre os sobreviventes de um mundo pós-apocalíptico devastado, coberto de cinzas e de cadáveres, um pai e o seu filho deambulam por uma estrada, empurrando um carrinho de compras cheio de objectos diversos que, supostamente, os ajudarão ao longo da sua viagem. Sob a chuva, a neve e expostos ao frio, avançam rumo às costas do Sul, com o medo colado ao estômago: hordas de canibais selvagens que vagueiam pelo território aterrorizam o que resta da humanidade. Conseguirão eles sobreviver e chegar ao seu destino? A adaptação a banda desenhada de um romance marcante da literatura contemporânea. Após O Relatório de Brodeck, Manu Larcenet volta a adaptar uma outra obra maior da literatura. Galardoada com o prémio Pulitzer em 2007, A Estrada obteve, em todo o mundo, um enorme sucesso, tendo sido adaptada ao cinema em 2009, com Viggo Mortensen no papel principal. 

Cris

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Para os mais pequeninos: "Rápido, Rápido!"

Gosto muito de ler livros infantis. Por isso de vez em quando, aqui aparece um comentário!

Gosto das capas duras, das ilustrações coloridas e muito expressivas, de não existir necessidade de grandes textos já que as imagens falam muito e complementam os mesmos e gosto, sobretudo, da mensagem que pretendem passar aos mais pequeninos mas também aos educadores. Muitas vezes constitui um alerta para estes últimos. 

Este assim é! A vida do dia a dia é um corre-corre sem parar e no frenesim em que nos movimentamos levamos frequentemente as crianças connosco. E a frase “depressa, depressa” é utilizada quase diariamente. Vi-me retratada nesta história porque, em tempos idos, utilizei bastante essas palavras às minhas três crianças, hoje homens adultos.

A personagem principal e narradora é uma criança e leva-nos a “toque de caixa” ao explicar-nos a correria dos seus dias… Mas os pais atentos, dão-se conta que a vida passa a correr e que é preciso parar e dar tréguas ao corrupio diário. Ainda bem para esta pequenina!

Gostei muito e recomendo!





Cris