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terça-feira, 27 de julho de 2021

A Convidada Escolhe: "A Casa da Malta"

Casa da Malta, Fernando Namora, 1945

Em boa hora, decidi, no início deste ano, ir buscar à estante livros que preguiçosamente vão sendo esquecidos e passados à frente pelas novidades. Este foi um livro que me foi oferecido em 1988 e que só agora li. É um livrinho que se lê depressa e que tem a vantagem de ser precedido de um excelente prefácio de uma edição revista pelo autor, escrito em 1961, que nos ajuda a compreender ainda melhor esta novela de Fernando Namora, a segunda obra da sua autoria. Jovem médico, desterrado numa aldeia, “Havia em frente do meu consultório um pequeno adro e nele um casebre meio derruído, sem dono, ou assim poderia imaginá-lo, pois quem o habitava era gente erradia que vinha e partia sem se saber quando…. A malta”. Como ele explica, no seu prefácio, “O livro já existia dentro de mim, naquele gosto intenso de um fruto saboreado antes de o colhermos da árvore, de tanto lhe anteciparmos o paladar, quando, certa tarde (conheceis as sestas imóveis da aldeia, a modorra que, ou nos sepulta, ou nos obriga a fendê-la com um berro de socorro?), a aventura começou: oito dias de trabalho febril, o único livro de ficção que, até hoje, escrevi de rajada. E, todavia, é de todos eles o mais tranquilo.”

Esta novela é constituída por seis capítulos que contam histórias de pessoas que passam por aquela “espécie de saguão” abandonado, onde pernoitam malteses, vagabundos, ciganos. Os de “lá de fora” olhavam-nos com desprezo, “uns leprosos”, “abriam fossos de ódio e de repulsa”, mas afinal quem eram afinal esses “estranhos”? Abílio que um dia partira a correr mundo para fugir à fome e que agora regressava cheio de saudades da sua vila? Um grupo de ratinhos a caminho da ceifa e que repartem a comida que levam para o caminho? A cigana em trabalho de parto? O Ricocas saído da choça para onde a justiça dos ricos o atirou por ter batido num polícia? O Troupas a quem o fogo tudo roubou. O Manel sem raízes e que quer seguir com os ratinhos, como se fossem a família que perdeu? A Carminda que só queria ter o filho em terra firme, longe do areal onde o marido montara o negócio? Ou Graça, a rapariga da mala, diferente de todos eles mas que fugia duma experiência de sedução, ciúme e violência? “Todos ali eram uns desgraçados! A desgraça os solidarizava, naquele calor instintivo e fraterno, como reses de um rebanho acossado pelos lobos. A desgraça os solidarizava, tal como eram, sem fingimentos.” Sentados à volta do lume, partilhando o pouco que tinham, naquela casa havia “uma solidariedade que os confundia e identificava.” Troupas, que ficou sem nada, emociona-se com o nascimento da criança e diz: “Hoje, estou contente com o mundo e não tenho nada na cabeça que seja das coisas feias que eu vivi. Nasceu uma criança e eu posso morrer: ela virá fazer a viagem por mim.”

O narrador, o escritor, o médico desenraizado está no meio daquela gente da casa da malta. É um deles. Solidariza-se com esse povo. Identifica-se com aquele “calor humano”. No prefácio desta edição revista pelo autor, Fernando Namora diz que abomina rótulos e clubismos, mas alude ao neo-realismo com que se identifica, não como moda, nem se submetendo a fórmulas ou cenários específicos. “A minha presença no neo-realismo não é a de quem adere, de quem se arregimentou”. A sua independência não quer dizer individualismo, nem solidão. “Os meus livros representam quase um itinerário de geografia humana, por mim percorrido; as andanças do homem explicam a do escritor.”

O que mais poderei dizer sobre este livro de Fernando Namora para além de o aconselhar? Ao livro e ao prefácio, uma interessante reflexão sobre a vida literária e sobre a profunda ligação da experiência literária com a sua experiência humana. É sempre bom conhecer ou voltar a ler os nossos escritores contemporâneos.

19 de Julho de 2021 

Almerinda Bento

 


segunda-feira, 26 de julho de 2021

"A Guerra de Hedy" de Jenny Lecoat

Uma capa que nos leva imediatamente para um local de guerra (II Guerra, pensei logo eu!) mas onde a história é diferente do habitual pois aborda especificamente algo que não é usual e que me fez pensar. Como eram vistas e tratadas as pessoas que falavam alemão como língua primeira, que falavam inglês com sotaque e que pelo seu aspecto exterior parecessem alemãs?

Hedy é uma judia austríaca de Viena que se encontra na ilha de Jersey, uma das Ilhas do Canal. Chegou antes da anexação da Áustria pela Alemanha mas a ocupação das ilhas apanhou-a em pleno. 

A sua narrativa é envolvente. As tentativas que faz para ser invisível levam-na directamente para a boca do lobo. As dificuldades que passa, juntamente com os habitantes da ilha, que se traduziram pela fome e a descrença no terminus rápido da guerra, levam-na a tentar resistir com os meios que possui. A amizade, que vale ouro nesses tempos, com um compatriota amigo, salvam-na várias vezes de ser capturada ou até de entrar em desespero.

Outra questão, muito bem colocada aqui, é o facto de nos apercebermos da ténue linha que separa um colaboracionista de um resistente. E que espaço tem e onde fica o amor quando ele se encontra no lado inimigo?

Gostei muito de ler este livro. Captou de imediato a minha atenção que não esmoreceu durante toda a leitura. Recomendo!

Terminado em 26 de Junho de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

No fim de junho de 1940, as Ilhas do Canal, ao largo da costa francesa, são ocupadas pelas forças nazis.

A jovem Hedy Bercu, uma judia vienense que chegara a Jersey dois anos antes, fugindo da anexação da Áustria pela Alemanha, encontra-se novamente encurralada. Porém, desta vez, parece não haver como escapar.

Apesar de judia, Hedy encontra trabalho como tradutora junto das autoridades ocupantes e começa a participar em atos de resistência. É então que se apaixona pelo tenente alemão Kurt Neumann, iniciando uma relação proibida da qual rapidamente a sua vida passa a depender.

A Guerra de Hedy acompanha a vida desta jovem mulher e a luta que travou para sobreviver à ocupação nazi e evitar a deportação. Baseada em factos verídicos, esta é uma história de coragem, amor e esperança numa época em que a crueldade imperou: a Segunda Guerra Mundial. 

Cris

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Para os Mais Pequeninos: "Proteger o Planeta"


Poderia dizer-vos que este livro não é para os mais pequeninos mas estaria errada. Pode-se começar a falar nos recursos (cada vez mais escassos) da nossa casa grande cada vez mais cedo. Explicar consoante o entendimento de cada um, o que estamos a fazer de mal à nossa Terra e o que podemos fazer de bem.

É simples e possível. De uma forma clara, sem grandes conceitos técnicos mas muito bem, este livro faz um resumo de tudo que se tem falado nos últimos anos, da escassez da água e de como ela é importante, da poluição, do aquecimento global, do desperdício, do uso excessivo do plástico. E o que podemos fazer para alterar. Incutir isto nas crianças é estar a preservar o seu futuro.

As imagens, tal como o texto, são simples mas atractivas. Espreitem!






Cris

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Experiências na Cozinha: "O Poder dos Rituais"


Este livro possui muito mais do que meras receitas, mas como os meus olhos ficaram-se a babar com este Puré de Couve-flor e Beterraba, muito simples de fazer, trago-vos a receita já. O livro, esse, vai continuar na minha mesa de cabeceira para leitura, re-leitura e consulta! As próximas receitas a experimentar serão um Pão de Banana e um Pão de Arroz. Depois digo-vos como correu...

A autora, Tâmara Castelo, é conhecida por quem é amante da Medicina Tradicional Chinesa e Homeopatia. O seu livro anterior, "Curar sem Medicamentos", mora cá em casa já há muito.

Mas como disse este livro não é um mero livro de receitas. Se o referisse assim seria muito redutor e errado. Fala-nos dos tipos de stress, do medo e dos pensamentos tóxicos que nos impedem de agir, dos biótipos existentes, ajudando-nos a saber qual é o nosso e, então, é aqui que surgem as receitas... receitas que ajudam a regular cada biótipo.

Como não podia deixar de ser trago-vos uma receita fácil e rápida. Fiz o puré tal qual a receita, o que não quer dizer que não coloque algo diferente na próxima vez que o fizer. Mas a base será sempre couve-flor e beterraba, dois legumes dos quais não era muito fã mas de que aprendi a gostar com receitas simples mas saborosas. Como esta.

Ora vejam:





Palmira e Cris

quarta-feira, 21 de julho de 2021

"Volta ao Mundo em Vinte Dias e Meio" de Julieta Monginho

Li, quando foi editado, o livro de Julieta Monginho "Um Muro no Meio do Caminho" (podem ver a minha opinião aqui) e gostei muito. Histórias ficcionadas de gente igual a nós que nasceu em terra errada a que dão pelo nome de refugiados. Gente que sofreu guerras na pele, que perdeu familiares em mortes sem sentido. Julieta esteve num campo de refugiados e  sentiu o que lá se passava. Muito dificilmente esse livro sairá do trono onde o coloquei.

Era evidente que teria de ler este também. A temática não é a mesma mas a escrita da autora está lá. Por vezes não me foi fácil de ler, precisei de atenção e andando dispersa nos meus pensamentos... obriguei-me a voltar algumas vezes e a reler algumas passagens.

Leo é uma criança que pretende iniciar uma fuga. O pai, a mãe e o namorado da mãe. Um trio que não cria a estabilidade necessaria para que Leo se sinta feliz. Como pano de fundo o museu que Leo visita amiúde, Riijksmuseum. Uma história em que os traumas, a solidão, a rejeição estão bem presentes no presente desta criança e também no passado dos adultos que a rodeiam.

Gostei mas não achei de fácil leitura.

Terminado em 22 de Junho de 2021

Estrelas: 4*

Sinopse

Um dia - na realidade, num somatório de dias -, uma criança decide empreender uma viagem. A ideia é fugir de uma vez por todas: já não lhe bastam as visitas periódicas ao Rijksmuseum de Amsterdão para brincar com o cão Puck, em exibição na sala 1.15, ou as escapadelas ao moinho do outro lado da casa amarela. A braços com uma família disfuncional assente num triângulo desamorável formado por foragidos - do amor, do talento, dos traumas de uma infância reprimida e passada no Portugal rural -, a fuga de Leo é quase um imperativo moral, uma imposição hereditária. Do outro lado da fuga, o dilúvio, o mais universal dos mitos, oferece às personagens, vítimas da lógica e dos paradoxos das suas vidas, e a nós, leitores, essa possibilidade de, purificando a humanidade, abrir caminho ao renascimento e à renovação.

Cris

terça-feira, 20 de julho de 2021

"A Livraria dos Finais Felizes" de Jenny Colgan

Um livro onde a capa traduz bem o conteúdo. Imaginam uma furgoneta recheada de livros que
ande pelas terras a vender a sua mercadoria? Imaginam-se lá dentro, aconselhando este ou aquele livro aos leitores? 

Esta passou a ser a vida de Nina, uma bibliotecária que se vê a braços com um despedimento e sem saber o que fazer. Tímida adoradora de livros não se vê a fazer nada mais do que qualquer coisa relacionada com eles. E coragem? 

Com uma prosa atractiva, ficamos ligados a Nina logo desde o princípio, tanto mais que o universo é muito apelativo para qualquer livrólico. Algumas referências bibliográficas mas infelizmente a maioria dos livros não estão traduzidos em Portugal. Pena.

Uma pitada de romance que não enjoa e que fortalece a atracção que esta leitura proporciona. Muito gostoso de ler!

Terminado em 20 de Junho de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Nina Redmond é literalmente uma casamenteira. Encontrar o livro perfeito para cada leitor é a sua paixão... e também o seu trabalho. Ou pelo menos era, até a biblioteca pública onde trabalhava fechar as
portas.
Determinada a encontrar um novo rumo, Nina muda-se para uma pacata vila na Escócia, onde compra uma carrinha e a transforma numa livraria itinerante, viajando pelas Terras Altas e transformando as vidas daqueles com quem se cruza com o poder da literatura.
É então que descobre um mundo de aventura, magia e romance num lugar que aos poucos se vai tornando no seu lar… um lugar onde ela poderá escrever o seu final feliz para sempre.

Cris

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Resultado do Passatempo 11 Anos / Fundação Francisco Manuel dos Santos

 



E os vencedores são:

"Os Homens também Choram"
Pedro Cravo 
de Matosinhos

"Adopção Tardia"
Adriana Laranjeira
da Póvoa de Varzim

Cris

quinta-feira, 15 de julho de 2021

terça-feira, 13 de julho de 2021

segunda-feira, 12 de julho de 2021

"Da Meia Noite às Seis" de Patrícia Reis

A Patrícia Reis escreve bem,  muito bem mesmo,  mas de fácil acesso. Não é preciso avançar muito na leitura de uma obra sua para reparar nisso. Esta não foi excepção.

Tinha ouvido comentários muito bons e sendo esta a leitura escolhida para o grupo de leitura da Leya, facilitou a minha escolha. Tinha ideia que falava sobre esta pandemia com que estamos a lidar e, confesso, que não era tema em que me interessasse muito mergulhar...  Mas a empatia com a personagem principal fez-se rápido. Susana Ribeiro de Andrade, locutora de rádio, que no meio da pandemia se vê a braços com a perda do marido,  vítima de Covid, é uma mulher de armas e, com ela, a autora passa uma mensagem de superação e força. No seu programa noturno, após um luto doloroso que não quer abandonar, ela descobre o sentido que lhe faltava e nos ouvintes as histórias de vida semelhantes a tantas outras e à sua. Escutar, ouvir! 

E com isso, este livro é tudo menos depressivo. Poderia ser sim, mas Patrícia Reis soube,  magistralmente, falar da perda mas também de recomeços. Uma ode às mulheres que em tempo de crise (qualquer que seja) conseguem ultrapassar os obstáculos. Um livro que traduz muito bem os tempos actuais. Mas, este livro não se fica por aqui. Rui Vieira, um colega de Susana, também nos conquista com a sua história e, também ele, fica conquistado com a repercussão que um simples programa de rádio tem na sua vida e na dos ouvintes.

No clube de leitura que referi tivemos a oportunidade de estar online com a autora.  Tão bom! Fizemos aquelas perguntas óbvias sobre o processo de escrita que nunca cansam o leitor. E a Patrícia falou, falou. Quase tão bem como escreve! 😀

Terminado em 16 de Junho de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Susana Ribeiro de Andrade é uma locutora de rádio a tentar sobreviver à perda súbita do marido, vítima de Covid-19. Rui Vieira, jornalista na mesma estação de rádio, debate-se com as consequências de um acidente que veio expor as fragilidades da sua vida familiar e amorosa. Ambos vão encontrar um novo alento para reconstruir as suas vidas no programa de rádio das madrugadas, e aquelas horas mortas, da meia noite às seis, serão uma alternativa ao oxigénio, não só para eles, como para os seus ouvintes.

Escrita num registo de intimidade que nos envolve, esta narrativa segue a vida, presente e passada, de personagens que se cruzam e cujas opções de vida reflectem o que é prioritário em tempos de pandemia.  

Da Meia-Noite às Seis é o regresso de Patrícia Reis ao espaço literário que define a singularidade, a subtileza e a sabedoria da sua voz: o território da complexidade das relações humanas e da busca de identidade. 

Cris