Que história com um tema tão simples e contudo tão verdadeiro e que traduziu uma realidade até há bem pouco tempo vivida neste nosso Portugal de brandos costumes e preso a tradições tamanhas! Quem não se lembra de ouvir falar que no tempo das nossas avós/bisavós era costume vir "servir" para a cidade? Era uma forma de "rentabilizar" os muitos filhos que se tinham e, também, de ter menos uma boca para sustentar.
Pegando nessa vivência muito portuguesa, Manuel Abrantes, com uma mestria na escrita que eu não conhecia (primeiro romance) construiu uma história na qual reconhecemos traços da História de Portugal ainda recente, pobre e limitado.
A personagem principal, Maria do Carmo, 11 anos, vai, a contra gosto, servir para uma família lisboeta. As saudades apertam, o trabalho não dá descanso, o amor não abunda. Explorada no seu trabalho, abusada sexualmente, traída repetidamente pelo marido, mal amada pelos filhos, Maria do Carmo tem uma vida dura. Lutadora, não desiste.
É toda uma vida que começa no trabalho infantil e que se prolonga durante a sua vida toda. As necessidades dos outros em primeiro lugar. Casamento, filhos. Até quando?
Uma leitura que gostei muito de fazer e que me recordou de certas histórias que ouvi falar há muito. Escrita envolvente, simples e directa. Recomendo muito.
Terminado em 6 de Abril de 2024
Estrelas: 6*
Sinopse
Na terra dos outros conta-nos a extraordinária vida de uma mulher
comum: Maria do Carmo, uma de milhares de raparigas que deixaram a
família e o quotidiano severo no campo e abalaram para as cidades,
sozinhas, em busca de futuro. «Criadas para todo o serviço», ocupavam-se
do que quer que conviesse aos patrões; muitas vezes, recebiam por paga
somente cama (dura) e comida (escassa); não havia folgas, férias ou
licença para sair. A Revolução de Abril, vivida dentro de portas e entre
sussurros, traz grandes mudanças, embora pouco retorno,e Carmo vai
reinventando os seus dias, década a década.
Com impressionante
desenvoltura romanesca, este livro leva-nos do fim da ditadura às portas
da atualidade, acompanhando uma emancipação ainda desigual, ainda por
cumprir. A história de uma vida que se cruza com a história de um país
em formação: planos adiados, desígnios perdidos, ilusões desfeitas.
Cris
Parece muito interessante.
ResponderEliminar