Não há quem escolha pai ou mãe. Do mesmo modo, não escolhi escrever. Não há nada de messiânico, predestinação nenhuma, nenhuma inteligência selectiva. Nada!
Nem escrevo porque preciso, tão-somente porque gosto.
Não podendo mudar o mundo à força, forço as palavras para que mudem um bocadinho o mundo. Não acredito na Literatura meramente recreativa, pois não tem tempero no sangue. À força do meu Alentejo fico devedor, infundindo em mim uma métrica de paixão. Escrevo sobre o Alentejo, donde Safara, minha terra-mãe, é a medida para todas as coisas. Escrevo sobre a província e sobre a aldeia, porque julgo conhecê-las, porque pretendo que as conheçam nos seus diferentes mas sempre fatídicos tempos de opressão campesina. Paradoxalmente, escrevo sobre tempo idos, sobre homens imaginados e remotos, como se estivesse desconfiado que os actuais não são capazes de façanhas ou proezas, capazes de acolher sofrimento ou amores tão medonhos.
E assim chego aqui, nu perante o leitor. Não disse palavras que não sinta, sem mais maneiras de ver a Literatura: apenas uma força que lavra em mim e que de mim faz escritor.
Carlos Campaniço
Gostei de ler. Muito bom!
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