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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

"Os Três Casamentos de Camilla S." De Rosa Lobato de Faria

Quem nunca leu um livro da Rosinha não sabe mesmo o que está a perder. O seu humor fino mesclado com uma consciência da realidade retratada, a sua escrita cuidada mas fluída, os temas escolhidos cuidadosamente fazem desta autora uma das minhas preferidas. Gosto, de quando em vez, voltar a esta escrita que tanto admiro. Lembro-me bem da surpresa que foi quando peguei num livro seu pela primeira vez... tenho cá ainda uns poucos para ler. Tenho esperado e prolongado este prazer! Considero que reler um livro seu, futuramente, será uma mais valia, nunca uma perda de tempo!

Se por um lado Camilla, a narradora e personagem principal desta obra, é uma jovem bafejada pela sorte porque nasceu no seio de uma família rica num Portugal de 1900, por outro, fica sem os seus pais bem cedo, quase à nascença, vítimas de tuberculose. Para compensar e porque não se alimentava de forma alguma, os tios com quem passou a viver, arranjaram-lhe uma ama de leite, Paca.

Paca é uma personagem muito sui generis. Não se sabe muito onde nasceu nem quando e ficamos com a impressão que não é bem deste mundo... ou melhor, pertence a este mas com laivos de uma sabedoria que lhe advém de um mundo sobrenatural. Com rezas, mezinhas e conselhos certeiros, dá a Camilla uma das coisas que a vai acompanhar pela vida fora: a certeza de ser amada incondicionalmente por esta mãe substituta. O amor destas duas mulheres é recíproco, duradouro e muito forte.

Gostei muito deste romance que dispõe bem, com laivos de um humor requintado e aproveitando-o para descrever a situação sócio-política de um Portugal muito diferente do actual, onde as mulheres limitavam-se a assumir um papel secundário face aos homens. Política e demais assuntos não eram temas para conversas que se tivessem à frente das damas da época. O retrato de uma sociedade (o livro viaja pela vida de Camilla e com quem se cruza) desde 1902 (aqui Camilla tem quase doze anos) até 1985.

Camilla começa a escrever as suas memórias com 90 anos, acaba com 95. A ajudá-la na sua tarefa estão os diários que a acompanharam a sua vida toda. A sua ideia é deixar este legado tão vivido e marcado pela vida e pela morte a uma das suas netas, por coincidência escritora. Ela, depois, fará o que entender.

Original, escrito com uma mestria muito peculiar, este é mais um livro de Rosa Lobato Faria que vale a pena ler. Um de entre os muitos que escreveu e que adorei!

Terminado em 19 Fevereiro de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
Aos noventa anos de vida, Camilla decide percorrer os seus diários e contar as suas memórias. A sua história é a de uma mulher que, ainda que às vezes de longe, viu o tempo e os actos mudarem o mundo. É também a história dos seus três casamentos e do seu único amor. A vida de Camilla é feita de iguais medidas de alegria e desespero. A sua memória é a de uma jornada de crescimento, desde a inocente casada demasiado cedo à mulher que amou e sofreu e viveu uma vida completa. E a voz de Camilla é fascinante, tal como o é o percurso da sua vida.

É a autobiografia de uma velha senhora que aos noventa anos decide contar a sua vida, incluindo o que ela possa ter de inconfessável. Desde os ambientes à narrativa (que atravessa quase um século de história ) estamos perante um livro adequadamente romântico.

Cris

8 comentários:

  1. Da Rosa Lobato de Faria só li um livro ("O Pranto de Lúcifer") e já foi há alguns anos. Lembro-me que gostei, mas posteriormente não se proporcionou voltar a esta autora.

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    1. Alexandra tens mesmo de voltar a ler RLF. Ela é muito boa!

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  2. Já li este livro e adorei.
    A estrutura está bem conseguida, a narração também é bem feita, os personagens com uma boa consistência e verosímeis.
    A escrita, a forma como as palavras são colocadas umas atrás das outras transmitindo-nos emoções, pensamentos é excelente. Pura poesia!

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  3. Olá Cris,
    Eu descobri RLF por mero acaso, com o livro A trança de Inês (adoro a história de Pedro e Inês)e gostei tanto que já li quase todos os livros dela.
    Gostei imenso dos pássaros de seda e da Trança de Inês, o que menos gostei foi o vento Suão.
    Bjs

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    1. Dos que li retirei sempre uma fina acutilância de um olhar observador e crítico, tão característico de RLF.

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  4. Nunca li esta autora. Parece-me um bom livro, fiquei curiosa.

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