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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

"A Rapariga Esquecida" de Bart van Es

Já tinha este livro há algum tempo na estante para ler.  Será que intuía que não iria ser uma fácil leitura?
Isto por duas razões: a primeira prende-se com o facto de ter muita informação para assimilar, a segunda, pelo tema tratado. Passo a explicar melhor..

O autor sempre soube que os seus avós tinham acolhido uma criança durante e depois da guerra mas o contacto tinha-se perdido há muito. Apercebendo-se que a história ficaria esquecida/perdida porque os envolvidos já tinham morrido ou tinham uma idade avançada, quis conhecer Lien e, se possível, contar a sua história. Mesmo correndo o risco de mexer em feridas que poderiam indispôr os seus familiares ou a própria Lien, resolveu contactá-la.

Este livro é, pois, a narração da história de Lien, uma menina de oito anos, filha única de um casal judeu, que foi entregue a famílias holandesas (sim, porque foram várias) para que a criassem (e salvassem). Paralelamente o autor conta o seu percurso na investigação que fez para complementar aspectos que Lien não sabia, nem tinha, enquanto criança, tomado conhecimento. Visitou os locais em que ela viveu, conversou com pessoas que lidaram com ela directa ou indirectamente. Essa pesquisa é muito curiosa e interessante. Um dos aspectos realçados é a forte posição colaboracionista da própria população que fez com que Lien e crianças como ela, tivessem de mudar com frequência de esconderijo e família.

Lien era uma criança. Nunca soube muito sobre a guerra em que se viu envolvida sem querer. Sabia, isso sim, da solidão, da perda do amor dos pais, da mudança, da perda dos sítios seguros que conhecia, de quem a amava e de quem lhe queria mal. Os Van Es acolheram-na durante algum tempo. Lien gostou deles, eles deram-lhe amor. O que fez com que, já muito depois da guerra terminar, a ruptura se desse? Por onde andou quando teve de se separar deles, porque a sua vida perigava?

Por outro lado, este tema não é fácil de se ler. E quando falo em tema não me refiro à II Guerra em si mas a alguns aspectos pelos quais passaram algumas pessoas, sobretudo judeus. Um desses aspectos foi o desespero que devem ter sentido os pais quando tentavam entregar os seus filhos a outros para que os salvassem. A separação, a incerteza, a tentativa de colocar a criança a salvo, o desconhecido, a procura de uma pessoa de confiança, o "se"... A maior parte não se reencontrou depois da guerra. Amores perdidos para sempre! Como mãe não consigo, sequer, colocar essa hipótese.

Como já referi, este livro não constituiu, para mim, uma leitura muito fluída e levou algum tempo a terminar. No entanto, é riquíssimo e recomendo-o muito, sobretudo para quem aprecia esta temática. A história de vida de Lien é muito inspiradora e muitas outras histórias cruzam-se com a dela. Mesmo sendo conectada como tendo uma forte componente colaboracionista, onde as denúncias e as recompensas financeiras associadas tiveram um papel fulcral na morte de milhares de judeus, a Holanda  teve, por outro lado, muitas pessoas que arriscaram as suas vidas ao esconderem nas suas famílias e nas suas casas, muitos judeus.

Um livro de não ficção a ler por quem ama esta temática.

Terminado em 8 de Fevereiro de 2020

Estrelas: 5*

Sinopse
Lien tinha 8 anos quando os pais abdicaram dela na esperança de a salvarem. Criada por uma família de acolhimento durante a ocupação da Holanda na Segunda Guerra Mundial, sobreviveu, mas os seus pais biológicos morreram em Auschwitz. Muitos anos depois, um mal-entendido levou a família adotiva a afastar-se, até Bart van Es — neto dos pais adotivos de Lien — a resgatar do esquecimento.

Agora nos seus 80 anos, Lien acedeu a conversar com o autor e a contar a sua história. Há coragem, generosidade e sacrifícios, mas há também um lado negro. De todos os países ocupados, a Holanda foi o mais cooperante com o regime nazi. Ao mesmo tempo que famílias salvavam crianças judias acolhendo-as no seu seio, as autoridades holandesas perseguiam com zelo excessivo todos os judeus. Dos 400 antigos judeus portugueses, por exemplo, tão profundamente enraizados no país, só oito regressaram dos campos de concentração.


A Rapariga Esquecida é a história da luta pela sobrevivência de uma jovem durante a guerra, do profundo amor das famílias adotivas pelas crianças que salvaram e de como o caráter das pessoas é definido pelos desafios que elas enfrentaram.

Cris

2 comentários:

  1. Gosto muito desta temática, mas ainda não li este livro.

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    Respostas
    1. Vamos acompanhando as pesquisas do autor e, ao mesmo tempo, as memórias de Lien. Um outro lado da história do Holocausto, a história de crianças que eram entregues a famílias não judias para que se pudessem salvar.

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