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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

"A Menina Que Sorria Contas" de Clemantine Wamariya

Este é um livro de nāo ficçāo. Antes nāo o fosse e tivesse sido fruto da imaginaçāo da autora. Se conseguirem esquecer isso durante a leitura desta história, conseguirāo facilmente ficar impressionados mas aguentarāo bem o impacto das palavras mais duras. Se pensarem que se trata de uma história verídica, nāo o vāo mais esquecer e as palavras "genocídio" e "Ruanda" ficarāo gravadas dentro de vocês. Hutus contra Tutsis. 

Já era adulta quando tal horror aconteceu e embora tenha ficado impressionada com o que se falou na altura, depressa a vida do dia a dia, com crianças pequenas, me fez esquecer as notícias que inundaram os media. Mas para Clemantine, sua irmā Claire e muitas, muitas mais pessoas o horror manteve-se presente nas suas vidas. Destruiçāo, morte, fome. Um pesadelo que durou vários anos.

As primeiras páginas deste livro trazem um mapa do percurso destas duas irmās, mapa a que recorri frequentemente para me situar geograficamente na história. O que mais me impressionou, logo no início, foi o tanto que elas passaram ser apenas traduzido num pequeno trajecto, uma pequeníssima linha nesse mapa, o caminho percorrido do Ruanda / Kigali (aldeia onde nasceram) até ao Burundi, num campo de refugiados. Uma linha tāo ínfima liga esses dois países e, no entanto, tantas dificuldades, tanto sofrimento! E a fuga nāo acabou aí. A linha continuou e, durante anos, atravessaram muitas fronteiras até chegar aos Estados Unidos, onde vivem. 

A história é-nos contada por uma delas, Clemantine, já com vinte e poucos anos, que esgravata o seu passado, o seu percurso, as suas memórias, o seu sofrimento e a sua revolta e conta para que o mundo nunca se esqueça o quanto o Homem pode fazer mal ao seu semelhante. Depois de todos terem esquecido, Clemantine vive diariamente o horror passado e "veste" a pele de alguém que conseguiu vingar na vida, vencer. O que se esconde no seu interior? 

O título pode parecer estranho mas faz todo o sentido quando se lê a história que Clementine adorava ouvir, uma história contada pela sua ama, de uma menina que sorria contas e que ficou gravada na sua memória de criança que se viu obrigada a crescer depressa demais.

Ah! E gostei tanto de ver como os livros, numa fase da sua vida em que passou a ter acesso a eles, fizeram parte importante da construçâo da sua personalidade, do seu "eu"!

Este é um livro de nāo ficçāo. Antes o nāo fosse. Porque o Homem, quando quer, sabe mostrar o pior de si. Um livro O-BRI-GA-TÓ-RIO.

Terminado em 6 de Novembro de 2018

Estrelas: 6*

Sinopse
Em 1994, Clemantine e a irmã, Claire, não tiveram opção senão fugir ao genocídio do Ruanda, umas das maiores calamidades humanitárias do século XX, em que se calcula terem morrido perto de um milhão de pessoas.

Perdidas dos pais, passaram os seis anos seguintes em fuga, atravessando sete países africanos. Sempre com fome, constantemente violentadas e aprisionadas, vítimas da mais desumana crueldade, mas também testemunhas da mais abnegada bondade e dos mais inesperados sorrisos.

Quando Clemantine fez doze anos, chegou finalmente a boa notícia: ela e a irmã receberam o estatuto de refugiadas e partiram para os Estados Unidos da América

Cris

5 comentários:

  1. Quero muito ler este livro, Cris, apesar de não me interessar muito por não-ficção. A tua opinião deixou-me com muita vontade de o ter!
    Obrigada!
    Beijinhos!!!

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    Respostas
    1. Ana, o melhor (ou o pior!) é que se lê como de ficção se tratasse... beijinho

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    2. Sim, mas, no meu caso, até tenho tendência para abordar um tema tão brutal como ficção - vejo-o como um mecanismo de defesa...
      Beijinhos e bom fim de semana!

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    3. Percebo-te perfeitamente! Mas ao mesmo tempo sinto que tenho de ler, tenho de saber...

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    4. Também eu, por essa razão é que busco de forma quase doentia livros que abordam as guerras e outros acontecimentos terríveis!

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