Gosta deste blog? Então siga-me...

Também estamos no Facebook e Twitter

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A Convidada Escolhe: "O Perfume - História de um Assassino"

Este é um livro perturbador. Há muito referido elogiosamente como um grande livro por diversas pessoas amigas, tinha imaginado algo de completamente diferente, certamente porque o livro era sempre referido simplesmente por “O Perfume”, sem o subtítulo “História de um Assasssino” o que é reforçado mal se lêem os primeiros parágrafos.
      A história passa-se no século XVIII, na França governada por Luís XV; Jean-Baptiste Grenouille é desde logo apresentado como uma personagem genial e abominável. Ele e os odores são as grandes persnagens do livro e é impressionante a capacidade do autor para nos fazer viver e sentir os odores mais variados e incríveis no decurso da obra. Nascido em Paris “a maior reserva de odores do mundo” – esta era então a cidade mais populosa do mundo e muito mal cheirosa, assim como os seus habitantes – Grenouille, sem carinho de mãe logo à nascença, reservado e solitário, era rotulado de atrasado apesar dos dotes excepcionais para distinguir cheiros, mas incapaz de se servir das palavras para os nomear, infundia medo e provocava repulsa. Grenouille (rã) desprovido de vontade própria, prisioneiro de odores que o atraem e de que não se consegue libertar senão quando os captura para si, não tem sentimentos, não gosta das pessoas, aliás o cheiro das pessoas enoja-o, é mais animal que humano e o autor ao longo do livro refere-se-lhe como sapo, uma carraça, gnomo, bruxo, aprendiz de feiticeiro ou mesmo feiticeiro, chegando a referir-se à sua fala como o coaxar de uma rã. Ele movimenta-se preferencialmente à noite e para isso não precisa de luz, basta-lhe farejar e seguir o seu olfacto.
      Mas com as suas experiências de apropriação e criação de perfumes, ele descobre que isso lhe dá poder. De ignorado passa a notado e essa sensação é-lhe agradável, pois percebe que o dom único que tem lhe permite controlar o mundo. “Quem controlava os odores, controlava o coração dos homens”. Quando se dirige para sul ele tinha tudo: dinheiro, odor e autoconfiança e uma pressa imensa de concluir o seu projecto.
      Vejo este romance sobre o perfume como uma metáfora. O perfume é o poder. E quem tem o poder, quem tem essa máscara consegue enganar todos à sua volta, consegue criar uma anestesia colectiva, consegue enfeitiçar e pôr a amar quem devia ser odiado. Afinal um criminoso que as pessoas imaginam como um diabo, não passa de um ser insignificante, indistinto, aparentemente “normal”!
      A orgia colectiva que inocenta o criminoso é também ela que leva os humanos a agirem como canibais, pelo que o romance leva a que se conclua que os seres humanos são capazes de tudo, mesmo o mais impensável.
      Como acima referi um livro muito bem escrito e muito perturbador. Grenouille um psicopata, frio, calculista, desprovido de sentimentos, simplesmente repugnante.

Fevereiro de 2018
Almerinda Bento

4 comentários:

  1. Olá Almerinda!
    Eu já assisti ao filme e gostei muito, imagino que a leitura dessa história deve ser muito intensa! Sua resenha despertou meu interesse em ler logo esse livro também.
    Beijos!

    ResponderEliminar
  2. Adorei este livro!! Mas já o li há tanto tempo que precisaria de o reler :)
    Um beijinho e boas leituras

    ResponderEliminar
  3. É verdade, é um livro perturbador, sem dúvida - e acho que o mais perturbador é que as descrições são lindíssimas, sensoriais, as descrições dos cheiros são, de certa maneira, puras. Escrevi há uns anos sobre este livro no meu blog :) acho uma excelente leitura, acessível a qualquer um.

    ResponderEliminar