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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A Escolha do Jorge: O Anel dos Löwenskölds


É sempre uma lufada de ar fresco quando uma das obras da sueca nobelizada Selma Lagerlöf (1858-1940) é (re)editada. “O Anel dos Löwenskölds” constitui uma das mais recentes apostas da E-Primatur, que não deixa de lado os clássicos da literatura contemporânea, como forma de presentear os seus leitores.
      Ler Selma Lagerlöf é uma aposta segura. Ler Selma Lagerlöf é viajar num mundo de sonhos e de maldições onde o fantástico marca sempre presença em contraponto com o forte pendor ético-moral que se procurava transmitir assente numa base de valores que reflecte a ética protestante. Há uma ordem natural e humana que precisam ser respeitadas integralmente. O sentido de justiça é finamente apurado e tecido ao longo das obras da escritora. As narrativas de Selma Lagerlöf decorrem precisamente entre este período em que ocorre um crime ou algum acontecimento, mesmo com eco no fantástico, e que se desenrolam até apurar a verdade, punir os responsáveis e repor a paz.
      Publicado em 1925, após Selma Lagerlöf ter sido galardoada com o Nobel de Literatura
(1909), “O Anel dos Löwenskölds” segue, de um modo geral, a fórmula utilizada em “O Tesouro” (1903) – obra integrada no Plano Nacional de Leitura -, em que o leitor, nas primeiras páginas, é confrontado com o clamor da natureza face a um crime cometido e naquela localidade portuária, já em plena Primavera, as águas permanecem geladas inviabilizando a circulação dos navios. Somente quando o crime é resolvido e o culpado é punido é que a natureza cumpre o seu ciclo a preceito, restabelecendo, por assim dizer, a ordem natural das coisas e dos homens. Ainda que a narrativa culmine com um happy end, satisfeita a justiça maior e restabelecida a paz, há que manter a ordem e a organização entre as pessoas, há hierarquias a respeitar e trâmites a seguir, mesmo no amor, com pena de todos, os visados e os leitores.
      Quem é que por muito que leia e aprecie a boa literatura não fica fascinado com histórias de maldições, fantasmas, vingança, tragédias e até de amores e desamores? Nas obras de Selma Lagerlöf encontramos todos esses ingredientes, permitindo-nos viajar por mundos em que a linha que divide a racionalidade da irracionalidade se confunde. Esse é um dos segredos e da mestria da escrita de Selma Lagerlöf. Dotada de uma escrita cristalina, doce e cativante, Selma Lagerlöf inscreve-se no grupo de escritores da transição do século XIX para o século XX que marcaram legiões de outros escritores, fascinados pelos enredos e pela escrita. Ler hoje Selma Lagerlöf é perceber claramente onde está o trigo e o joio, quem são os grandes nomes da literatura, perceber os contributos de cada um. Selma Lagerlöf é grande, enorme, um monstro das letras, tendo sido a primeira mulher a ser galardoada com o Nobel de Literatura, em 1909.
      Mas um pouco de enredo desta obra tão peculiar, tão sedutora, que nos faz tremer de tanto prazer por este infindável mundo das letras, mas também o medo vertiginoso que se pode sentir perante uma maldição.
      Bengt Löwensköld é nomeado major-general pelo rei Carlos XII da Suécia na sequência dos seus notáveis préstimos nas Guerras do Norte. A par do título, o major-general recebe igualmente um vistoso anel que constituirá a fonte de todos os males, a maldição, mas a delícia dos leitores ao longo da narrativa. Bengt Löwensköld decide que deverá ser sepultado com o anel. Mas no dia do funeral, um agricultor e a sua esposa entram no túmulo e retiram o anel ao falecido. A região de Värmland é então assolada por uma maldição que atravessa gerações até que o anel regresse ao túmulo do falecido Bengt Löwensköld.

Texto da autoria de Jorge Navarro

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