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domingo, 1 de maio de 2016

Ao Domingo com... Diogo Lopes

Foto de Tiago Figueiredo

Não consigo abrir um livro sem procurar algo que me arrebata. Almejo que me desfaçam em sentimento e suas sequelas sísmicas, num tremelicar e arrepiar da pele, no arrebitar do pelo que me cobre. Procuro um conjunto de emoção, experiência e reflexão, embutidas a toque certeiro por mãos de quem já maneja a arte conforme sua vontade. Procuro um todo: uma unidade que me trespasse e eleve a visões mais profundas sobre a vida.

Falo-vos agora de um tipo de literatura que muito acarinho dentro do tutano do osso, sítio onde guardo os meus mais profundos tesouros: poesia, pois então.

Encontra-se na poesia uma grande característica, que talvez seja menosprezada entre tantas outras, pela narrativa: a fonética; a preocupação pelo som, pela música da palavra, e não só pelo seu conteúdo. É verdade sim, e defendo-o de peito bravio, o conteúdo prevalece, claramente. Mas sendo que isto não é discutível, também não será a importância do som. Será enfim, uma diferenciação entre o claramente bom e o claramente estupendo. São mesquinhices, confesso. Mas ainda assim, insisto nelas. O som produz efeito no corpo humano. Existem palavras doces, palavras grotescas. Porque não usar também esse detalhe para enfeitiçar a nossa frase? Expandir os efeitos da escrita, torna-la polivalente, e extraviá-la para arte sonora.

O grafismo é algo que também me preocupa. Julgam-me tinhoso. Lá vou eu implicar com um pormenor outra vez. O que interessa é o que se diz Diogo. É sim, pois claramente que sim. E no entanto, não apenas. A obra deve ser todo um conjunto. Afinal, para quê o papel se não o fazemos bonito? É necessário o espaço, a clareza. O jogo do preto e do branco, conjugados num. Afinal não serão estas também as marcas de um escritor? O seu cuidado e brio que a nós nos deleitam de modo profuso. As maravilhas da literatura, este mundo interminável.

Procurei um pouco disto no meu livro. Motivar o ácido e o doce, aquando respectivas necessidades. Ao retratar algo de vil natureza, despojar-me de fatídicas junções fonéticas e exponenciar sua crueldade. Processo semelhante para o lado sorridente da plateia. Um insuflar e elevar da palavra, que temos nós para nossa glória, ser portuguesa.

Num contínuo de confissões e partilhas desdobro o meu “Baluartes”. Um livro que mistura o género de autobiografia com a ficção, mas nunca permitindo o desaparecimento da poesia. Uma história que ilustra o olhar de um jovem. Eu. Uma história de uma doença, de várias alegrias e tristezas. Uma história de amigos, família e amores. Um livro que pessoalmente me deu um enorme gozo em arquitectar e fazer sagrar. Uma leitura que vos entrego em mãos – por um preço, pois claro.

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