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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A Convidada Escolhe: "As Velas Ardem Até ao Fim"

Depois de "A Mulher Certa" este é o segundo livro que leio deste autor húngaro, exilado nos EUA, esquecido durante muitos anos e apagado pelo poder político e pelas autoridades húngaras durante o período que antecedeu o colapso dos países dominados pela ex-URSS com a queda do Muro de Berlim.
Em "As Velas ardem até ao Fim" considerado por muitos, o melhor livro deste autor, persiste o mesmo estilo, a semelhança dos temas, a misantropia e o pessimismo que dominam as personagens que retrata de forma tão profunda e completa.
Dois jovens – Henrik e Konrád – de estratos sociais diferentes frequentam o mesmo colégio militar em Viena para seguirem a rígida vida militar cheia de regras, de códigos e disciplina férrea e em que a honra é um valor supremo, acima de todos. A sua relação desde o início estabelece um vínculo de grande cumplicidade, como se de irmãos se tratasse, apesar das diferenças sociais e também de temperamento e de interesses do ponto de vista dos relacionamentos sociais, o que não impede essa profunda amizade. Mas, abruptamente, ao fim de mais de vinte anos de relacionamento e convívio diários, um deles – Konrád – afasta-se e vai viver para muito longe.
Quarenta e um anos depois, Konrád regressa ao palácio do general, exactamente à mesma sala onde tinham estado a conversar e a jantar antes do afastamento inesperado como se, entretanto os anos não tivessem passado. Há algo de teatral em todo o texto, no cuidado posto nos mais pequenos detalhes neste reencontro: a refeição que é servida, as flores nas jarras, a lareira acesa, a posição dos cadeirões, os retratos nas paredes, as velas acesas em cima da mesa.
Passados quarenta e um anos de ausência, da fuga do amigo, para o general aquela era a noite há muito esperada, a noite para se saber a verdade e o essencial. Era a noite do ajuste de contas entre os dois amigos de infância. A noite para colocar perguntas, mas da maneira certa, agora que é preciso esclarecer e compreender o verdadeiro sentido da amizade. Mas será que é possível, mesmo com as perguntas certas, descobrir-se o que move os nossos semelhantes, as suas intenções, os seus desejos? É a grande pergunta que fica a pairar no nosso espírito chegada que é a última página de "As Velas ardem até ao Fim".
A estrutura deste romance leva-nos a "entrar" na cabeça do velho general, através do longo monólogo que constitui a maior parte dos capítulos do livro e das raras e curtas respostas do amigo. Uma conversa que vai durar o tempo que as velas que mal alumiam a sala o permitem e que vão arder até se extinguirem.
É uma longa reflexão sobre a amizade, o amor, a traição, o ciúme, a cobardia, a solidão. Um retrato daquilo a que se costuma chamar da condição humana com as suas fragilidades e grandezas. Extremamente bem construído, com um vocabulário riquíssimo que nos permite acompanhar os ambientes, os sentimentos e o pensamento de quem fala, este romance é, de facto, um livro exemplar e que prende o/a leitor/a desde que se inicia a sua leitura.

Almerinda Bento

sábado, 28 de novembro de 2015

Na minha caixa de correio

  


Oferta da editora Suma de Letras, sem que estivesse a contar, Guia Astrológico dos Corações Partidos.
Também uma gentil oferta do Clube do Autor, Talismã e Um Cântico de Natal. Tenho muitas surpresas para vocês também! Preparem-se que por estes dias vão chover livrinhos, oferta desta editora!
A Hora Solene, livro que está agora também em passatempo, foi oferta do autor. É desta que começo a ler o primeiro da trilogia. Obrigada Nuno!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Novidades Presença

Desejos Realizados 
de Nikki Loftin
Peter Stone é um tímido rapaz de doze anos com uma família barulhenta que não compreende o seu isolamento. Recém-chegado à região montanhosa do Texas encontra um vale tranquilo onde conhece a extrovertida Annie Blythe. Peter descobre que Annie, a rapariga que pede desejos, tem uma doença grave e fica surpreendido com a sua força de viver. Ambos decidem fugir para o vale, pois acreditam que a magia que o envolve irá realizar os seus desejos. No entanto, depressa percebem que a verdadeira magia reside na amizade genuína.

Para saber mais sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.


No Coração do Mar
A Tragédia do Baleeiro Essex
de Nathaniel Philbrick
No verão de 1819, o baleeiro Essex partiu de Nantucket para mais uma expedição de caça à baleia. Quinze meses depois, o impensável aconteceu: numa região remota do Pacífico Sul, um cachalote de enormes proporções provocou o naufrágio do Essex. A tripulação de vinte homens refugiou-se em três botes salva-vidas rumo à América do Sul, numa jornada épica pela sobrevivência. Três meses depois, os oito tripulantes que continuavam vivos foram encontrados à deriva. Para sobreviver, usaram todos os recursos, inclusive o canibalismo.

No Coração do Mar é um relato empolgante de um naufrágio tão relevante no seu tempo como o do Titanic atualmente. A aventura do Essex inspirou Herman Melville a escrever o clássico Moby Dick.

Para saber mais sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.


Novidade Planeta

QUANDO AS ESTRELAS CAEM
de Amie Kaufman e Meagan Sponner
É uma noite igual às outras a bordo da Ícaro, os passageiros divertem-se. Tarver convida Lilac para ver as estrelas. 
Então, a catástrofe abate-se sobre a enorme nave de luxo: de súbito é puxada para fora do hiperespaço e despenha-se no planeta mais próximo. 
Lilac Laroux e Tarver Merendsen sobrevivem. E estão sozinhos. 
Lilac é a filha do homem mais rico do universo. Tarver é de origens humildes, um jovem herói de guerra que aprendeu há muito tempo que as jovens como Lilac só dão grandes problemas. 
Mas sozinhos têm de confiar um no outro e trabalhar juntos, encetando uma jornada tortuosa pelo misterioso e lúgubre planeta para procurar ajuda. 
Enquanto lutam para salvar as vidas no meio do enigmático planeta descobrem que, apesar das diferenças, as estrelas começam a iluminar os seus corações com a luz do amor.

Novidade Vogais


Novidade Saída de Emergência

Uma Praça em Antuérpia 
de Luize Valente
Há uma saga que ainda não foi contada sobre a Segunda Guerra Mundial: a história de duas irmãs portuguesas, Olívia e Clarice. Olívia casa-se com um português e vai para o Brasil. Clarice casa-se com um alemão judeu e vai morar em Antuérpia, na Bélgica. Ambas vivem felizes, com maridos e filhos, até que a guerra começa e a Bélgica é invadida. Para escapar da sombra nazi que vai devorando a Europa, a família de Clarice conta com a ajuda de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que salvou milhares de vidas emitindo vistos para Portugal, em 1940, enquanto atuou em Bordéus, França.
A família recebe o visto mas, ao chegar à fronteira de Portugal, um destino trágico a espera... Destino que vai mudar e marcar a vida das irmãs para sempre, por causa de um segredo que só será revelado sessenta anos depois.

Novidade TopSeller


Convite Chiado Editora


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Escolha do Jorge: O Astrágalo

O Astrágalo – Albertine Sarrazin (Antígona)
Albertine Sarrazin (1937-1967) é o mais recente nome a juntar aos escritores insubmissos da Antígona, apresentando-nos desta forma uma escrita que obteve bastante sucesso nos anos 60 sobretudo depois da sua morte trágica na sequência de complicações de uma operação a um rim.
O sucesso alcançado por Albertine Sarrazin integra-se no contexto dos movimentos estudantis da segunda metade dos anos 60 em França relacionados com a liberdade sexual dos jovens e a determinação das mulheres em consolidar a sua emancipação.
Francesa nascida na Algéria, Albertine Sarrazin desde cedo conheceu instituições de acolhimento e lares adoptivos acabando por se entregar ao furto e prostituição nalguns períodos da sua vida, levando-a à prisão, em Paris, em 1957.
Inconformada com a sua situação de presidiária, Albertine enceta um plano de fuga da prisão, saltando o muro acabando por partir o astrágalo… que dá nome à obra.
Em todos os momentos da obra, é muito ténue a linha divisória entre a ficção e a realidade na medida em que n’"O Astrágalo" a personagem Anne funde-se (ou confunde-se?) com a própria Albertine incluindo a particularidade de ter partido aquele osso.
Durante a fuga, e muito dorida, Anne (ou Albertine) é salva por Julien, um fora da lei que solicita a colaboração de um casal amigo que acolhe Anne mantendo-a em segredo em sua casa durante largos meses. A partir daqui, Anne constata que ao ter fugido da prisão acaba aos poucos por se envolver emocionalmente com um indivíduo que também deambula na senda do crime com vista à sua própria sobrevivência, sendo igualmente procurado pela polícia. Temos assim dois foragidos cujos destinos se cruzam e que tudo fazem para se manter juntos até que dure a aventura… ou a cama quente.
Aos poucos, Anne começa a sentir o cansaço de estar fechada em casa sem saber como lidar com as ausências frequentes de Julien que tem de garantir também a sua subsistência pagando igualmente o alojamento em casa dos seus amigos que, por seu turno, também vivem à margem da lei, Nini é prostituta e Pierre, o seu marido, é o seu chulo.
Tratamentos, operação, recuperação… saturação… Julien arranja uma nova casa para Anne, desta vez em Paris. Mais arriscado, mas próximo da realidade que Anne bem conhece, das ruas que tanto percorreu. A casa de Annie é o próximo destino da heroína, uma sexagenária, antiga prostituta, que sobrevive a fazer gravatas em parceria com o irmão e a cunhada. Se por um lado Anne vai sentindo alguma empatia com as histórias e a vida de Annie, aos poucos o sentimento de prisão regressa ao seu pensamento e coração. Anne apercebe-se que Julien afinal aquece outras camas e mesmo nunca desistindo dele, sente o grito da revolta que a devolve à rua, à sua antiga vida que tão bem (re)conhece nas ruas e vielas parisienses.
Entre o roubo e a prostituição com vista a juntar dinheiro para si e para Julien que entretanto é apanhado nas malhas da justiça, Anne maquina todo o tipo de planos sórdidos sobre terceiros para lhes extorquir o que lhe for possível. Para Anne não há limites! A rua é o seu mundo! E Julien o seu amor.
Conseguirá Anne fugir permanentemente à polícia e à lei? Conseguirá o seu espírito livre fundir-se com a liberdade de Julien? Oferecerá a rua a Anne tudo quanto Anne deseja? Afinal o que é ser e sentir-se (totalmente) livre?!
Esta é uma narrativa empolgante, bastante ritmada e alucinante que vicia o leitor desde a primeira página até ao final. A escrita de Albertine Sarrazin liberta-se de lugares-comuns, de prisões, de todo o género de situações que a façam sentir que leva uma vida igual à dos comuns dos mortais. Albertine Sarrazin (ou Anne) prefere as fendas, uma brecha por onde se possa escapulir. A sua natureza é demasiado nobre para se sentir fechada entre quatro paredes nem que para isso tenha de fugir da prisão e regressar ao mundo do crime.
Para os leitores de espíritos inconformados com a realidade cuja escrita reflete esse mesmo grito de protesto, este é um livro bastante recomendado. Viciante, pura adrenalina!
Excertos:
"A cadeira de inválido, na sala de jantar, tornou-se uma cadeira de amantes. Já não queríamos a caminha. Ou então mostro a Julien os hotéis da minha juventude. Esses momentos, onde os nossos
corpos e os nossos corações brincam e descansam um no outro, ressuscitam outros, passados anteriormente com outros homens. Sem vergonha, sem mentira, conto-os como histórias estranhas ou fictícias. O passado flameja, e depois apaga-se e cauteriza-se.
- Que nada manche este instante…" (p. 136)
"A minha liberdade tolhe-me os movimentos. Queria viver numa prisão de que soubesses trancar e arrombar a porta, por um pouco mais de tempo…" (p. 148)
"No comboio que me leva de volta a Paris, mergulho profundamente nos meus pensamentos. Com o mandado de captura lançado contra mim, o risco é sempre o mesmo, quer eu ande no engate, roube ou ande a passear; onde quer que vá, o que quer que faça, estou em falta. E estou em falta porque estou aqui, em vez de estar na prisão." (p. 160)
"Não, o despertador vai tocar, cuidado, tenho de aguentar até de manhã. Enfio-me na cama e retomo a noite onde a tinha deixado. Sejamos putas e digamos: «Querido…» O tipo aperta-me contra o seu sistema piloso eriçado e o seu nariz fremente, diz que me ama, que não sou uma rameira como as outras, que aquilo não é trabalho para mim e que ele fará tudo para me tirar daquela vida.
- Instalas-te aqui, vivo sozinho. Farás o que te apetecer, inclusivamente continuar com essa vida, se for essa a tua vontade, mas… porquê manter essa profissão infame? Dou-te tudo o que quiseres…
- Estás-te a esquecer do meu homem. Além disso, queres arriscar-te a ser preso como chulo se os chuis souberem que vivo aqui contigo? Não, meu querido, é impossível. Não conheces as regras do jogo…
- Mas eu amo-te…
Ontem Jean, hoje este gajo! Que chatos que eles são com aqueles «amo-te», como estão longe do amor!" (pp. 163-164)
Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A Convidada Escolhe: A Pesca do Salmão no Iémen

"A Pesca do Salmão no Iémen", de Paul Torday é uma obra bem-humorada, ou não fosse o seu autor cidadão britânico, mas que faz refletir em assuntos muito pertinentes, como sejam as atitudes e os comportamentos dos políticos e as relações entre os povos organizadas pelos governos, e que se baseiam quase sempre em interesses pessoais ou partidários.

A história contada através de cartas, diários, relatórios e comissões de inquérito, não existindo portanto narrador, é um tanto ou quanto insólita mas muito criativa e interessante. Na realidade a ideia que um xeque milionário iemenita tem de implementar a pesca do salmão no Iémen, país onde a água é escassa e os desertos muitos, parecia logo de início fracassada. Ele achava que o projeto poderia trazer não só muitos benefícios para o seu povo com poderia fortalecer as relações do seu país com o Reino Unido e provar que este, quando se tratava do Médio Oriente, não se preocupava apenas com petróleo e guerras. Os responsáveis do governo entusiasmam-se e dão o seu apoio através de um investigador da área das pescas, que a princípio se opõe à ideia, mas obrigado pelos superiores a interessar-se, acaba ele próprio por se entusiasmar. Este projeto origina muitas reclamações por parte das associações da pesca do salmão e levanta questões na imprensa e na Câmara dos Comuns o que faz muitas vezes o governo recuar no apoio dado. Contudo, após avanços e recuos, pensando que o sucesso do projeto traria muitas vantagens para o partido, o Primeiro-Ministro resolve envolver-se e até participar na inauguração da pesca do salmão no Iémen para poder ser fotografado com o primeiro salmão pescado. Após muitas peripécias, dificuldades e muito dinheiro despendido para fazer chegar salmão ao Iémen em condições climatéricas indispensáveis e que o leitor acompanha ao pormenor, tudo parece indicar que finalmente a iniciativa será um sucesso. Na última hora, na época das chuvas, quando se espera que as águas do rio tenham um fluxo normal eis que surgem grandes enxurradas que arrastam peixes, pessoas, primeiro-ministro e xeque incluídos, terminando, assim, o sonho em tragédia um tanto ou quanto divertida.

O autor introduz ainda a história pessoal do investigador Jones e de sua mulher que se encontra numa fase crítica após vinte anos de casamento e de sua colega Harriet que namora um militar. Este a prestar serviço no Iraque é incumbido com alguns colegas de uma missão clandestina no Irão sendo presos e mortos. O governo nega tudo. Há também uma referência ao recrutamento de terroristas para matar o xeque. São episódios que se acompanham através do ponto de vista do governo e da imprensa e que suscitam uma reflexão por parte do leitor sobre a desonestidade política e os interesses militares.

Apesar das coisas sérias que aborda é um livro imensamente divertido. Gostei!

Maria Fernanda Pinto

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Passatempo "A Hora Solene"


Com o gentil apoio do autor Nuno Nepomuceno temos para sortear um exemplar do terceiro e último livro duma trilogia muito esperada pelos leitores. "A Hora Solene" vem satisfazer a curiosidade de muitos e esperamos que o autor tenha já um novo livro planeado.

O passatempo decorre até dia 10 de Dezembro.

Boa sorte!

domingo, 22 de novembro de 2015

Ao Domingo com... Diogo Telles Correia

Para o livro "Eu Existo" tive em vista três objetivos fundamentais: 
1) Mostrar aos leitores que é possível a descrição literária das vidas dos pacientes que recorrem às consultas de psiquiatria e psicoterapia, que têm vaidas semelhantes a qualquer um de nós. Vidas ricas, interessantes, que neste livro tento de forma literária transmitir. Quebrar também aqui o preconceito de que os pacientes que frequentam consultas de psicoterapia ou psiquiatria são de alguma forma pessoas diminuídas. Pelo contrário, são pessoas que frequentemente têm um nível de funcionamento intelectual e profissional acima da média e com vidas perfeitamente normais à exceção do sofrimento que os trouxe à nossa consulta. 

2) Explicar conceitos e aspetos do mundo da saúde mental que são frequentemente mal definidos nos meios de comunicação social. Como médico psiquiatra e psicoterapeuta,
professor da faculdade de medicina, tenho o privilégio de poder explicar todas estas questões de forma acessível a todos, mas sem fugir de uma base científica. Sempre defendi que os meus pacientes e as pessoas em geral têm o direito de saber com correção vários aspetos como: qual a diferença entre um psiquiatra, um psicólogo ou um psicoterapeuta, quais os tratamentos que se preconizam em saúde mental, o que é a psicoterapia, o que é a psicofarmacologia, quais as vantagens e desvantagens da medicação psiquiátrica, quando se deve tomar, etc. 

3) Por fim quis também chamar a atenção para o devido valor e funcionalidade do diagnóstico em psiquiatria. De facto nos dias que correm há uma tendência para valorizar excessivamente os rótulos diagnósticos esquecendo a riqueza da vida daqueles que são rotulados... É fundamental que nós, técnicos de saúde mental, tenhamos acesso a toda a vida do paciente de forma a podermos ajudá-lo com eficácia. Os pacientes não são depressões, ansiedades, obsessões, são muito mais para além disso. São muito mais que um diagnóstico. Por isso o livro se chama "EU EXISTO. – Para além das obsessões, para além das vozes, para além da depressão, para além da ansiedade."

Diogo Telles Correia

Sobre o autor:
Diogo Telles Correia 
Médico Especialista em Psiquiatria e Psicoterapeuta. Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde é Professor Auxiliar Convidado de Psiquiatria e de Psicopatologia. É Assistente Hospitalar do Departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria e Consultor na Unidade de Transplantação Hepática do Hospital Curry Cabral. Para além destas funções, é Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Psicopatologia e membro da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva, bem como de outras associações nacionais e internacionais. Tem vários livros publicados que são referências em Portugal e noutros mercados de língua portuguesa, bem como dezenas de artigos científicos na área da Saúde Mental em revistas internacionais de relevo.

sábado, 21 de novembro de 2015

Na minha caixa de correio

  

  



Oferta da Editorial Presença um livro de um dos meus autores preferidos, Ken Follett, O Homem de S. Petesburgo.
Comprados numa loja Cash Converters,  Pequenas Grandes Mentiras e A Última Concubina.
Da Suma de Letras chegou-me O Último Adeus, de Kata Morton. Mortinha para o ler!
Oferta da autora Sofia Ferros, Amor entre Guerras. Obrigada Sofia!
As Recordações ganhei no Ionline.
A Casa das Bonecas foi oferta da Topseller!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A Escolha do Jorge: Mitzváh

A proposta desta semana incide num pequeno livro de Alain Elkann (n. 1950) que é daqueles casos paradigmáticos de se tratar de um pequeno livro, com menos de sessenta páginas, mas que o leitor ao embarcar nestas breves páginas acaba por concluir que está perante uma obra notável.
Em tom intimista e com inúmeras notas autobiográficas, Alain Elkann trilha os caminhos do judaísmo trazendo-nos alguma luz sobre aquela religião monoteísta, apresentando também alguns dos problemas e desafios do mundo contemporâneo que se nos apresenta cada vez mais complexo.
Sem preconceitos e sem fazer juízos, o autor reflete sobre a essência do ser judeu. Nascido em Nova Iorque e vivendo atualmente em Roma, Alain Elkann considera-se "um judeu tresmalhado" (p. 19) na medida em que vivendo num mundo cristão, é através da observação de alguns dos rituais e comemoração de momentos importantes do calendário judaico que se sente verdadeiramente ele próprio, como pertencendo a um povo com mais de cinco mil anos de História.
Exemplo disso é a celebração do Yom Kipúr, uma das datas mais importantes do judaísmo que une todos os judeus, crentes e não crentes, em todo o mundo, em que através do jejum, da oração e do arrependimento, aproxima as pessoas entre si através de um conjunto de cerimónias que remete para o passado e para as raízes familiares. Parafraseando o autor através da primeira frase do livro "Na noite do Yom Kipúr, os mortos levantam-se e vêm rezar com os vivos." (p. 13)
O autor compreende bem o espírito errático do povo judeu através das múltiplas viagens de deslocação por parte da sua família oriunda de Jerusalém e que atravessou vários países da Europa até, por fim, se fixar nos EUA. Apesar de a família ter aprendido várias línguas estrangeiras, "mas a única que sempre a manteve unida foi a das orações" (p. 17), tais como o Shemá Israel que se reza diariamente ao acordar e o Kadish que se reza nas cerimónias religiosas e durante o luto. Mesmo não 
compreendendo o sentido das palavras destas orações, Alain Elkann remete o assunto para a esfera a fé em si mesma, na medida em que é por o povo judeu fazer estas orações há vários milénios que acredita que faz parte de uma mesma cultura, mesmo não questionando o seu significado, importando apenas a crença em si mesma.
O autor alude ainda à questão do anti-semitismo, preconceito que tem acompanhado desde sempre o povo judeu, através da realização ‘pogroms’, tratando-se, pois, de um fenómeno com o qual os judeus se têm confrontado quase como se tratasse de algo que faz parte do destino deste povo ao longo dos séculos, culminando com a perseguição e morte de mais de seis milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial. Nos dias que correm, é comum confundir-se anti-semitas com anti-israelitas na medida em que há um desagrado ou mesmo ódio crescente aos judeus que residem no Estado de Israel, nomeadamente por parte dos países muçulmanos situados no Médio Oriente.
É neste sentido que Alain Elkann remete esta questão do preconceito e do ódio em última instância e consequência para a necessidade do diálogo inter-religioso. Do mesmo modo que judeus e cristãos têm uma parte da vida em comum, a relação entre uns e outros foi ultrapassando as diferenças ainda que os cristãos tenham largamente perseguido, punido e assassinado milhares e milhares de judeus no contexto da Inquisição durante vários séculos. Em todo o caso, as duas religiões conseguiram estabelecer o diálogo entre si graças ao seu passado comum, não esquecendo o facto de ambas serem religiões monoteístas. "Deus ouve-nos em qualquer parte, disto estou certo" (p. 51), afirma Alain Elkann, e é com base neste conjunto de experiências que o autor é otimista na medida em que sente a necessidade de que seja reencontrado o diálogo entre judeus e muçulmanos sendo inevitável que isso venha a acontecer. "Queria que as diferenças fossem sentidas como uma riqueza do monoteísmo, como complementares e irmãs." (p. 37)
O autor tem a plena consciência de que há ainda um longo caminho a percorrer, não só enquanto indivíduo, como parte integrante do povo judeu. Esta jornada além de dura, é quase sempre solitária, como se estivesse a percorrer o deserto e perder-se nele tantas vezes, para mais tarde se (re)encontrar consigo e com Deus. Há uma passagem, uma das minhas preferidas deste livro, que resumem, no fundo, o sentido abrangente, universal desta complexa relação do homem com Deus e do homem na sua relação com o seu próximo. "Deus, o que é que me ensinou? O sentido do dever, a autodisciplina, o medo de que possa sofrer quem me está perto. A dor dos outros, mesmo a de um animal ou de uma planta, faz-me mal. Quando não percebo algo, quando me sinto impotente, quando tenho medo, rezo. Rezar faz-me entender que sou um homem e que deve haver alguém maior do que eu a quem confiar-me, a quem pedir desculpa ou dizer obrigado. Obrigado por me ter feito aprender a escrever, obrigado por me ter feito encontrar tantas pessoas que sabem amar, cozinhar, tratar, pintar, compor música. Eu envergonho-me por não saber ser generoso, paciente, por não conseguir ser completamente honesto comigo mesmo e com os outros. Por não ser indulgente, por não ter bastante piedade por quem me rodeia.
A palavra «Mitzváh» é simples, belíssima, quer dizer ao mesmo tempo sentido do dever, caridade, respeito por Deus e pelos outros. Eu não consigo fazer bastantes Mitzvót e tenho pena." (pp. 52-53)

Texto da autoria de Jorge Navarro

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

"Do Outro Lado do Mar" de João Pedro Marques

O que dizer quando um livro nos aprisiona nas suas páginas sem o esperarmos? Quando ficamos literalmente apaixonados não por um mas por vários personagens? Quando a história está tão bem contada que mais parece uma transcrição de uma parte da própria História de Portugal e do Brasil?

Vou dar nota máxima, claro!

Tirando o primeiro capítulo (que nos conta como Vasco Lacerda, médico de profissão, para fugir a um amor doentio e sem futuro, sai de Portugal e decide ir para o Brasil) que me pareceu o mais "leve" de todos os capítulos no que concerne ao seu conteúdo, todos os outros são de uma veracidade tão intensa que foi-me completamente impossível manter-me afastada da história. Mergulhei profundamente nela, senti as dores do médico e as dos escravos que se cruzaram com ele nessa viagem e noutras que involuntariamente acabou por fazer.

Esse mergulho levou-me a 1830, aproximadamente, ao tempo onde em Portugal fervilhavam guerras entre miguelistas e liberais. No Brasil, a escravatura estava em pleno nas suas fazendas do interior e os navios negreiros viajavam para África para comprarem mão-de-obra.

Ler aprendendo, como gosto. Uma lição de História dentro de um romance que me fez apaixonar por Sara, Quisama, Januário e até Gaspar, escravos de corpo mas não de alma, e também de Vasco, o doutor dos brancos que defendia os escravos.

Um livro que aconselho vivamente. Tenho dois livros deste autor na estante à espera: Uma Fazenda em África e Os Dias da Febre. Fiquei muito curiosa. Gostei da escrita sólida, descritiva q.b. sem enfadar, repleta de curiosidades e pormenores que julgo serem dados históricos e do ritmo da narrativa. Leiam e vejam por si mesmos!

A minha opinião doutro livro do autor: "O Estranho Caso de Sebastião Moncada" aqui.

Terminado em 15 de Novembro de 2015

Estrelas: 6*

Sinopse

Tudo começa na Primavera de 1833. Profundamente abalado por um desgosto de amor, o doutor Vasco Lacerda decide abandonar Lisboa para tentar curar o coração ao sol de uma nova vida, nos trópicos. Contudo, no decurso da sua viagem, vê-se arrastado, contra vontade, para o mundo da escravatura e toma contacto directo com realidades de que já ouvira falar, mas que nunca tinha sentido e percebido na sua verdadeira natureza. E trava, também, conhecimento com a gente que, para o melhor e o pior, povoa esse bárbaro mundo: Tarquínio Torcato, o cruel negreiro; Gaspar, o negro que odeia negros; Sara, a escrava que acende o desejo em todos os homens; Quisama, a pretinha que tudo quer aprender; Januário Paraíso, o velho cocheiro que canta canções de amor; e muitos outros e outras que enchem de afectos e de vida um universo de horrível desumanidade.
Do Outro Lado do Mar leva-nos numa viagem emocionante por esse universo, dos sertões de Angola às fazendas do Brasil, do ventre do navio negreiro à fábrica de açúcar, e mostra-nos como mesmo nos sítios mais improváveis e nas situações mais extremas podem nascer e crescer a solidariedade, a abnegação e fortíssimas relações de amor.

domingo, 15 de novembro de 2015

Ao Domingo com... Sofia Ferros

Quem é a Sofia Ferros?

Se tivesse de me resumir a uma característica, diria que aprecio os prazeres simples da vida: um passeio à beira mar, reuniões familiares, um serão à conversa com amigos, uma tarde de inverno no sofá com um bom livro, aprender coisas novas…
Sou contemplativa e gosto de planear. Reflito muito sobre tudo (às vezes demasiado) e penso a curto e a longo prazo. Sei o que quero estar a fazer daqui a 3, 10 e 20 anos, mas não sou rígida. Ajusto regularmente os meus planos a novas circunstâncias. 
Gosto de cozinhar, de fotografia e vídeo, bem como de tecnologia em geral. Estou constantemente a fazer cursos online sobre assuntos que me interessam, desde desenvolvimento pessoal a técnicas de escrita, passando ainda pelo marketing digital e por ferramentas para aumentar a produtividade.

Como é que a escrita surgiu na minha vida?
Cedo, por meio da leitura que me inspirou e atiçou a criatividade. Cresci sem a companhia de irmãos e, talvez por isso, entretinha-me com os personagens das histórias que lia ou inventava. Sempre gostei de História e, nas aulas, imaginava-me entre os Gregos ou os Romanos, nos castelos medievais ou nos palácios renascentistas… Tive a felicidade de viajar muito, desde pequena, por África, pela Europa e pelas Américas. Foram oportunidades que me marcaram: sentia a História viva ao visitar os museus e as ruinas de cidades antigas.
Por volta dos dez anos já sabia que queria ser escritora. Apesar disso, segui outra via e,
após doze anos num colégio inglês e uma passagem pela escola pública portuguesa, licenciei-me em Gestão de Empresas pela UCP. Há vinte e cinco anos era uma área que me garantiria boas saídas profissionais. Mais tarde especializei-me em Marketing Digital pelo IPAM. Trabalhei em empresas de tecnologia, publicidade, marketing digital e consultoria. 
Vivi quase sempre em Lisboa, mas nasci em Luanda, em 1973, morei em Moçambique em 1975 e, devido a uma oportunidade profissional do meu marido, em 2012 mudei-me para a Cidade do Cabo, na África do Sul, onde resido atualmente. (Ainda me deslumbro ao ver focas, pinguins e baleias no seu habitat natural, mas os banhos de mar ficam reservados para as férias em Portugal!) 
Para poder trabalhar à distância abri uma empresa de marketing digital, mas, em paralelo, comecei a escrever Amor entre Guerras – baseado na história dos meus bisavós, um tenente médico do Corpo Expedicionário Português e uma jovem francesa de ideias avançadas para a época, que se apaixonaram num palácio transformado em hospital, durante a Primeira Guerra Mundial, e mais tarde foram viver para Moçambique. 
Estudei o mercado editorial em Portugal e contactei duas editoras. Quando obtive confirmação de que a Maria do Rosário Pedreira, da Leya, tinha interesse em publicar o livro, dei prioridade à escrita do mesmo. Adorei a experiência: a minha intuição de criança estava certa. Apesar de ter escolhido outro percurso durante muitos anos, escrever é o que gosto de fazer. 
Amor entre Guerras é o primeiro volume de uma tetralogia que conta a história de uma família ao longo de cem anos de história, em várias gerações marcadas por acontecimentos como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, a descolonização portuguesa em Moçambique e a recente vaga de emigração de Portugal para África em consequência da crise económico-financeira. 
Além destes quatro, já tenho outros livros previstos. O meu sonho é continuar sempre a escrever, com a missão de proporcionar aos leitores uma experiência empolgante, que os arranque ao seu quotidiano e os transporte, por momentos, para outro espaço e tempo, com a promessa de que irão viver emoções fortes.

Sofia Ferros

sábado, 14 de novembro de 2015

Na minha caixa de correio

  

  



Oferta da Editora Objetiva, O Homem Que Mordeu o Cão.
Da Chiado, Mulheres Entre Grades e O Suserano.
Oferta da autora, Bia Onofre, Restos de nós. O meu obrigada, Bia!
Da Booksmile, chegou Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa, um livro infanto-juvenil, baseado na vida da autora, que me despertou a curiosidade.
A Mulher da Lama foi ofertado pela Sextante.
Eu Existo foi oferta da Editora Pactor.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Novidade Presença

O Homem de São Petersburgo
de Ken Follett

Ele tinha por missão matar…
Mas acabou por mudar o rumo da História

Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra prepara a defesa contra o Império Alemão. Ambos os oponentes precisam de se aliar à Rússia. O príncipe Orlof, sobrinho do czar Nicolau II, viaja para Londres, onde se encontra com Lorde Walden, casado com a sua tia Lydia. O anarquista russo Kschessinky segue-lhe no encalço. Nesta intrincada trama de interesses pessoais e políticos, ninguém prevê que Lydia reconheça Kschessinky, colocando em perigo a vida da sua filha Charlotte. Estas personagens jogam com o destino da Europa na antecâmara de um dos mais devastadores conflitos de sempre. Mais um romance empolgante de Ken Follett.

Para mais informações sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença, aqui.

Novidade SUMA de Letras

O Último Adeus
de Kate Morton
Numa majestosa casa de campo inglesa um miúdo desaparece sem deixar rasto. Setenta anos depois Sadie Sparrow, de visita a casa de seu avô, encontra uma mansão abandonada. Espreita através de uma janela e sente que alguma coisa terrível aconteceu nessa casa.                      

Novidade Planeta

A TRILOGIA DA NEBLINA
de Carlos Ruiz Zafón
Numa misteriosa casa na costa atlântica, longe de Londres e ameaçado pela guerra, Max vai descobrir que os desafios do presente, têm amiúde a sua razão de ser em pactos selados há muito tempo, onde habitam seres como O Príncipe da Neblina

Em Calcutá de 1932, um comboio em chamas atravessa a cidade e o círculo de amigos de Ben e Sheere enfrentará o mais terrível e mortífero enigma da cidade dos palácios, uma aventura em O Palácio da Meia-Noite, que mudará as suas vidas. 

Entre Paris e um estranho farol da Normandia desenrola-se As Luzes de Setembro, onde Irene e Ismael se adentram no mistério de um fabricante de brinquedos que vive entre seres mecânicos e sombras do passado, entre os dois irão crescer laços que os vão unir para sempre.

Novidade Clube do Autor

Talismã 
de Mário Zambujal
Mário Zambujal oferece-nos páginas de supremo divertimento em que a imaginação e o humor levam o leitor ao sorriso, à gargalhada e à reflexão.«Nos últimos tempos eu ia-me cruzando com gente fiada em amuletos, fetiches, talismãs, oh, sorte ingrata, não apreciam a desordem natural das coisas.» A vida de Pablo Luís Martinez da Silva teve início turbulento. Por pouco não chegava atrasado ao parto na Galiza, vontade de sua mãe, dona Maria Xosé. Foi o prenúncio de uma cadeia de acontecimentos que ele definia como “a desordem natural das coisas”. Entre desencontros e encontros sentimentais, enreda-se em trabalhos de alto risco. Corre em busca de uma jovem loura que perdeu um sapato e foge de facínoras de calibre internacional. 

Convite Objectiva


Novidade Sextante Editora

A mulher da lama
de Joyce Carol Oates
Uma criança é abandonada pela mãe no leito lamacento do Black Snake River. Contra todas as expectativas, «a menina da lama» sobrevive e é adotada por um casal de classe média que tentará 
esconder para sempre essa terrível história. Mas o presente vai tornar-se surpreendentemente vulnerável aos agentes do passado.
Meredith «M. R.» Neukirchen será a primeira mulher a presidir a uma universidade da Ivy League. Imersa numa carreira absorvente, num amor secreto por um homem que não define os seus sentimentos, e preocupada com o ambiente político dos Estados Unidos em vésperas da Guerra do Iraque, M. R. depara-se subitamente com inúmeros desafios. Para além de ver a sua carreira em jogo, as duras marcas do passado e o confronto com «a menina da lama» ameaçam fazer ruir todas as suas convicções.

Novidades TopSeller

A Casa de Bonecas
de M. J. Arlidge
O corpo de uma jovem é desenterrado numa praia remota, mas o seu desaparecimento nunca tinha sido denunciado. Alguém a mantivera «viva» ao longo do tempo, enviando à família, regularmente, mensagens em seu nome.Para a detetive Helen Grace, todas as provas apontam para um assassino em série, um monstro distorcido mas engenhoso e hábil — um predador que já matou antes.À medida que Helen se esforça por destrinçar as motivações do assassino, ela compreende que se trata de uma verdadeira corrida contra o tempo. Uma única falha pode significar a perda de mais uma vida. 


Um Conde Apaixonante
de Sarah MacLean
Lady Philippa Marbury, ou Pippa, é… estranha. É jovem, bela e filha de um marquês respeitado da sociedade, mas interessa-se por livros em vez de rapazes, por ciência em vez de passeios, e por laboratórios em vez de amor. O seu plano é casar-se em breve com o seu noivo, um homem simples, e viver o resto dos dias em sossego com os seus cães e as suas experiências científicas. Mas antes do casamento, Pippa tem duas semanas para experimentar tudo o resto. Quinze dias para fazer pesquisa sobre as partes excitantes da vida. Não é muito tempo e, para o fazer, precisa de um guia que esteja familiarizado com os recantos mais obscuros de Londres.
Ela precisa de Cross: o sócio da casa de jogo mais exclusiva da cidade, e que tem fama de ser o maior conhecedor do mundo do vício e dos prazeres. Mas a fama muitas vezes esconde segredos negros, e quando a nada convencional Pippa lhe pede que lhe arruíne a reputação, isso vai ameaçar tudo o que ele sempre se esforçou por proteger.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Escolha do Jorge: Os Mutilados

Hermann Ungar (1893-1929) foi um escritor checo, judeu, de língua alemã que durante décadas ficou esquecido nos meios culturais europeus devido impacto das obras de Franz Kafka (1883-1924), seu contemporâneo, e também pelo facto de as suas obras terem sido queimadas do decurso dos "autos-de-fé" do III Reich, em 1933.
Influenciado pelo expressionismo alemão assim como pelas teorias psicanalíticas que faziam carreira nas primeiras décadas do século XX, Hermann Ungar trouxe para a literatura e, no caso particular de "Os Mutilados", um conjunto de temas que à data da publicação, em 1923, eram considerados temas tabu, o que chocaria em certa medida todo o quadro de valores em que assentava a mentalidade do primeiro após-guerra. Se em pleno século XXI, "Os Mutilados" constitui uma obra que é difícil de digerir mesmo para mentes mais abertas, quanto mais durante a década de 20 do século passado. Passado durante os «loucos anos 20», Hermann Ungar aproveita o palco da sociedade que se modernizou ao ritmo das novas tendências musicais, da luta da mulher pela sua emancipação, a modernização das cidades como forma de relegar o passado doentio e triste relacionado com as perdas imensas na sequência da 1ª Guerra Mundial, conferindo também aos seus personagens a necessidade de viver o presente de forma intensa porque amanhã pode ser tarde demais.
É neste cenário que decorre a narrativa de "Os Mutilados", no entanto, Hermann Ungar apresenta um conjunto de personagens que se por um lado aparentam levar uma vida simples, por outro, são o mais puro reflexo da herança de traumas e de aspetos do foro psicológico que ditam em certa medida o estado da sociedade contemporânea independentemente de existir este hiato de tempo entre o período em que decorre a narrativa e os nossos dias.
Aparentemente inocente, a narrativa apresenta-nos Franz Folzer, um indivíduo que trabalha num banco na qualidade de administrativo tratando de toda a burocracia apresentando larga competência para o efeito em oposição às sérias dificuldades de interagir com outras pessoas à sua volta.
Com um quarto alugado na casa da viúva Klara Porges (representação ‘in extremis’ do expressionismo), Franz vê de um momento para o outro a sua vida a mudar a partir do momento em que a senhoria tudo faz para o seduzir apesar de ser mais velha não esquecendo a sua abundância de carnes disformes como tantas vezes é referenciado ao longo da obra.
Franz Polzer que teve uma infância difícil graças aos maus-tratos do pai e da tia sendo, pois, uma vítima daqueles que estão mais próximos de si, acabou, mais tarde, durante a vida adulta, por tornar-se vítima da própria sociedade face ao que esta lhe impôs do ponto de vista psicológico, emocional e até físico, para além daquilo que uma pessoa deveria ou seria capaz de suportar.
À medida que avançamos na leitura de "Os Mutilados", rapidamente nos apercebemos que entramos num filme de terror através do percurso de Franz Polzer na interação com os demais personagens.
Violência física, incesto, homossexualidade, prostituição, sadomasoquismo, atentado ao pudor, violação física e psicológica, fanatismo religioso, crimes de sangue, são alguns dos ingredientes que povoam o universo de "Os Mutilados".
No decurso da obra, compreendemos as razões que estiveram na base de este livro em particular ter sido queimado pelos nazis durante os "autos-de-fé", em 1933, não apenas pelas temáticas acima referidas contrárias a toda uma mentalidade em que se inscreve o Nacional-Socialismo. Além disso, um dos personagens principais, Karl, vê o seu corpo ser dilacerado por uma doença que o deixa inválido após a necessidade de recorrer à amputação de vários membros do seu corpo. Karl apesar de se ver diminuído enquanto homem, não deixa, contudo, de sentir desejo e mesmo perante a sua incapacidade manipula terceiros na tentativa de satisfazer as suas concupiscências, nem que para isso tenha de recorrer ao sadomasoquismo, primeiro numa vertente de cariz psicológica, a possível para si, com o objetivo de desencadear movimentos entre terceiros para concretizar o desejado.
De acordo com a mentalidade nazi, nunca em caso algum, um deficiente, físico ou mental, poderia desempenhar um papel preponderante na sociedade ao ponto de criar à sua volta uma rede que enaltecia o sexo (ilícito) constituindo em si mesmo uma espécie de mola à prática do sadomasoquismo. Como bem sabemos, muitos deficientes foram perseguidos e mortos durante o período nazi pela razão de que constituíam um peso para a sociedade no entender dos ideólogos nazis. Neste sentido, o personagem Karl apresentava-se em rota de colisão com o quadro de valores nazi ainda que na História do século XX é impossível falar dos nazis sem os associar a sádicos qualificados capazes de levar a cabo a morte de milhões de judeus, entre outras pessoas, vítimas das suas perseguições.
Esta ideia segue em linha com a ausência de problemas de consciência por parte de quem promove as práticas anteriormente indicadas tanto no caso dos nazis, como especificamente no caso de Karl, o personagem de "Os Mutilados". Graças à sua prosápia, Karl promove um conjunto de situações sórdidas sem que a consciência lhe pese um grama que seja tal como, anos mais tarde, os nazis tão bem conseguiram fazer.
Em oposição a Karl, temos o enfermeiro Sonntag que cuida de Karl. Trata-se de um antigo talhante que a dada altura na sua vida se converteu profundamente à doutrina cristã tornando-se um fanático fervoroso ao ponto de utilizar a religião como forma de dar continuidade a uma série de práticas hediondas, crimes de sangue, como se de alguma forma o crime só poderia ser justificado por um conjunto de novos crimes, havendo a necessidade de os reviver permanentemente. "Matei-a, falou-se disso. Estava de cama com as pernas partidas. Mas tinha força suficiente, e matei-a com a minha faca possuído por um ódio ímpio e profanei-a. (…) Não há palavras, não há fervor, não há remorso, apenas o acto pecaminoso como penitência, que lá está, e nunca mais conseguiremos apagá-lo (…)." (p. 184)
Esta ideia de expurgar o mal com o mal ‘ad eternum’ numa sequência de atos que se repetem no intuito de ceifar mais um sem número de vidas vem de certa forma contribuir para que "Os Mutilados" fosse literalmente apagado da cena literária alemã, talvez porque o autor tenha apresentado um conjunto de ideias que nalguns aspetos não apenas colidiam com o quadro de valores nazi, como nalguns casos possa mesmo ter ido para lá dessa forma de pensamento.
"Os Mutilados" é, pois, um livro inquietante, perturbador, sórdido pelas práticas estimuladas e cometidas, sem, contudo, deixar de constituir, também, um retrato, um triste retrato da sociedade contemporânea.
O futuro de Franz Polzer fica à consideração do leitor na medida em que se questiona o papel da família e da sociedade no desenvolvimento de uma pessoa e simultaneamente no alcançar da felicidade.
Após a leitura de "Os Mutilados", será lícito questionar se é possível ser feliz numa sociedade tão cinzenta uma vez que a fronteira entre o lícito e o ilícito, o bem e o mal é ténue ou mesmo inexistente.
A obra "Os Mutilados" assinala desta forma o início da atividade editorial da E-Primatur que nos presenteia com um autor praticamente desconhecido na Europa levantando assim inúmeras questões e reflexões ao nível da relação do eu com a sociedade. Um livro notável pejado de imagens que dificilmente esqueceremos e, neste caso, graças ao lado mais negro da natureza humana.

Excerto:
"Queria levantar-se, acordar a grávida. Queria colocar o seu rosto sobre a cabeça dela, e o risco do cabelo, o risco… «Nada era passado», queria dizer. Nada tinha terminado. «Fala!» Ela devia contar-lhe tudo. Como seduzira o miúdo, como o atraíra… ele não sabia nada, o miúdo… como ela o havia apanhado, o aliciara para si. E dos outros, de todos, devia contar tudo, devia soltar-se e contar como eles se deitaram sobre ela, onde é que lhe puseram as mãos, aqui e ali, assim e assado, precisamente, precisamente, como cada qual o fizera, quantas vezes e durante quanto tempo, e como ela gemera e resfolgara, devia contar tudo.
Queria puxar o edredão para trás e vê-la. O ventre inchado, os pêlos entre os peitos, escarranchados, cada um para seu lado, quando ela se deitava, a cara gorda, as mãos que tocaram todos aqueles homens por todo o lado. Era feia e gasta. Tinha o corpo amarelo. Mas: tinha que ser. Então tinha-se posto debaixo deles, debaixo deles todos, e todos a tinham usado, mas cada qual à sua maneira, à sua própria maneira, e de cada um deles tinha que lhe contar: assim e assado. E quem lhe tinha inchado o corpo, de quem era a criança! Queria destapá-la e ver-lhe o corpo: era tudo tão hediondo e uma tontura, mas não podia ser de outra maneira.
O estudante, o tenor e todos, um atrás do outro, não, não, não podia ser passado, tinha que se levar até ao fim. Ela ainda dormia. Então, ele levantou-se. Pôs-se ao lado da cama. O edredão ondulava até ao pescoço, onde ainda, ai Deus, onde ainda ondulava também a pavorosa barriga, e, no topo, lá estava o risco do cabelo. Queria tirar o edredão para ver a barriga onde estava a criança com aquele abominável risco rasgado entre as pernas, a criança naquele ventre gasto, sobre o qual se haviam roçado todos, uns atrás dos outros, sobre a criança, sobre o ventre." (pp. 169-170)

Texto da autoria de Jorge Navarro